Na coluna dessa semana, o colunista Gabriel Granjeiro aponta a importância de valorizar a superação dos problemas do cotidiano ao invés de reclamar deles
Publieditorial Publicado em 06/10/2022, às 14h54
Vou começar nossa mensagem semanal contando uma pequena história, adaptada de um artigo que, aliás, dá título a este texto.
Certo dia, Pierre Schürmann, empreendedor e investidor em startups, foi almoçar com um amigo empresário, um senhor que beirava os setenta anos. No encontro, os dois acabaram conversando pouco sobre negócios e muito sobre a vida. Depois da refeição, Pierre, meio sem querer, falou:
“Pois é. Empresário, hoje, tem de matar um leão por dia.”
A resposta do amigo foi rápida e afiada:
“Não mate o seu leão! Você deveria mesmo era cuidar dele.”
O homem foi, então, narrando as passagens da sua vida que o levaram a chegar a tal conclusão.
“Quando fiz sessenta anos, decidi que era hora de os meus filhos começarem a tocar a firma. Mas qual não foi minha surpresa ao perceber que nenhum dos três estava preparado! A cada desafio que enfrentavam, parecia que iam desmoronar emocionalmente. Para minha tristeza, tive de voltar à frente dos negócios, até conseguir contratar o Paulo, hoje nosso diretor-geral.”
O amigo de Pierre seguiu desabafando, até que resumiu:
“Desde quando meus filhos eram pequenos, dei tudo para eles. Uma educação excelente, oportunidade de morar no exterior, estágio em empresas de amigos. Mas, ao dar tudo a eles, esqueci de dar um leão para cada, que era o mais importante."
“Meu jovem, aprendi que somos fruto dos nossos desafios e das escolhas que fazemos."
“Aprendi também que, quanto mais bravo for o leão, mais gratos temos de ser. Aprendi não apenas a respeitá-lo como também a admirá-lo, a gostar dele."
“A metáfora é, portanto, importante, porém equivocada: não se deve matar um leão por dia, mas, sim, cuidar dele. Afinal, no dia em que o nosso leão morre, começamos a morrer com ele...”
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Não sei se você sabe, mas é comum empreendedores reclamarem de “ter de matar um leão por dia”. Um dia é problema financeiro; outro dia, é problema operacional; depois, é dificuldade com fornecedores, parceiros, concorrentes...
A toda hora o empresário precisa virar os obstáculos de cabeça para baixo, ao lado e com o apoio dos colaboradores, liderados, sócios, membros do conselho e todos que jogam no mesmo time. Não é lá muito fácil...
Eu mesmo, na condição de presidente de uma das empresas mais inovadoras da América Latina, venho sempre comentando e postando nas redes sociais sobre como tenho de matar um leão por dia para sobreviver no universo corporativo.
+Gabriel Granjeiro: “Elimine os drenos”
Hoje, graças à experiência que reuni nos últimos anos, de alguém que precisa lidar com pequenos e grandes leões cotidianamente, entendo que, embora alguns deles precisem mesmo ser eliminados o quanto antes, outros há que devem ser abraçados e até respeitados. É que muitos se revelam grandes mestres que surgem para nos abalar e colocar à prova nossa resiliência, sempre com o propósito de nos ensinar algo importante.
Pois é, assim como o amigo de Pierre Schürmann, também aprendi algo sobre o tema: não importa o contexto, é sempre nossa a escolha entre aceitar o obstáculo como algo nocivo ou, na contramão, interpretá-lo como mais uma oportunidade de crescimento, de engrandecimento.
A despeito da minha juventude, já aprendi a lição, e aprendi tão bem que hoje meu lema é: o que está no caminho torna-se o caminho. Encaro meus leões pensando: aquilo que tenta me impedir de chegar ao meu destino pode, sim, me fortalecer, desde que eu não me deixe sucumbir. Minhas ações podem até ser temporariamente dificultadas, mas nada nem ninguém vai embaraçar de vez minhas intenções e, sobretudo, a minha disposição em lutar. Sabe por quê? Porque minha mente e meu corpo se adaptam, convertendo em força o que era para ser desânimo.
O que estou dizendo é que todos nós, mais dia, menos dia, vamos deparar com adversidades, contratempos, empecilhos. Se serão justos ou injustos, é irrelevante. Importará, no fim, a maneira com reagimos a eles, se manteremos ou não a nossa compostura. Nossa reação determinará o quão bem-sucedidos seremos em tudo na vida.
Ninguém passa pelo mundo sem de vez em quando se ver obrigado a superar adversidades e conviver com fontes de estresse. Frustrações, acasos, dificuldades fazem ou farão parte da história de todos nós. Como agir então? Meu conselho é: convertendo esses obstáculos em combustível para alimentar o incêndio que é a nossa ambição.
+Gabriel Granjeiro: "Se eu não existisse, faria alguma falta no mundo?"
Ora, quando temos um objetivo, as barreiras que surgem no caminho, se pensarmos bem, apenas nos forçam a enxergar trajetos alternativos. Na prática, então, elas abrem nossa mente, tirando-nos da inércia e da zona de conforto. Se doer — e, acredite, vai doer —, é porque há algo sendo aprendido.
Vou encerrar nossa reflexão remetendo ao grande filósofo estoico Epiteto, que foi contemporâneo de Jesus Cristo e para quem é preciso separar o que está sob nosso controle do que não está.
Em relação ao que depende de nós e de nossas ações, temos de dar, sim, o nosso melhor e dedicar toda a nossa energia; já quando se trata de algo que não controlamos, de nada adianta lutar ou sofrer. Será em vão, pois não depende de nós!
Fica a lição: identifique bem o que carece e o que não carece de uma tomada de atitude da sua parte. Não gaste energia, tempo ou dinheiro com algo que você simplesmente não pode controlar.
+Gabriel Granjeiro: "Não deixe as pessoas dizerem quem você é"
Sigamos em frente, cuidando de todos os leões que surgirem, lembrando sempre que, sem eles, talvez a vida nem tenha lá muito sentido.
“Escolha não ser prejudicado — e você não se sentirá prejudicado. Não se sinta prejudicado — e você não o será.” – Marco Aurélio (121 d.C.-180 d.C.), imperador romano.
Sociedade Brasil