A indústria dos concursos

A população já percebeu o concurso como um patrimônio do país e uma oportunidade aberta a todos que optam por, sem depender de compadrios e parentescos, ter acesso aos cargos públicos

William Douglas   Publicado em 06/12/2016, às 10h14

Após muitos anos trabalhando com aprovação e preparação, sou frequentemente entrevistado pela mídia e uma pergunta muito recorrente é sobre a tal “indústria dos concursos”. O jeito como se fala nela, a entonação, até as expressões faciais, dão a quase certeza de que aos que entrevistam, essa é uma indústria ruim.
Defender e apoiar os concursos ultrapassa, em muito, o interesse individual dos candidatos e também das pessoas que trabalham com esse público. A população, de um modo geral, já percebeu o concurso como um patrimônio do país e uma oportunidade aberta a todos que optam por, sem depender de compadrios e parentescos, ter acesso aos cargos públicos. E, claro, pode assustar-se com essa “indústria”, como se ela tivesse algo de imoral ou nocivo.
A seleção adequada, feita pelo mérito e não por métodos escusos (fisiologismo, laços de família etc.) é a maior garantia de que: (1) qualquer cidadão possa participar da administração pública – o que tem tudo a ver com uma República (res -coisa + publica -de todos); e (2) os cidadãos serão atendidos no serviço público pelas pessoas mais capazes. Ao contratar servidores pelo mérito, em seleções públicas e abertas a todos os brasileiros, diminuímos o espaço para os favores e negociatas por parte dos governantes, os quais sempre são feitos com os bolsos do contribuinte. Além disso, os concursos não discriminam a mulher, o negro, o homossexual, quem não teve primeiro emprego, quem tem mais de 40 anos, quem é pobre ou deficiente, e muito menos aquele que não ostenta uma “boa aparência”, qualquer que seja o conceito que se tenha dela. As vantagens oferecidas pelo serviço público, um bom empregador, servem atualmente como contraponto e desafio para as empresas privadas, que já se preocupam em como atrair os melhores talentos.
E nesse sentido, escolher bem, treinar e valorizar o servidor público é um instrumento do aperfeiçoamento do país e dos anseios por igualdade, justiça e progresso. Sou um entusiasta dos concursos, do serviço público e de sua indústria.
Criticar qualquer “indústria”, mesmo que honesta, tem a ver com a cultura de nosso país, avessa à produção, ao empreendedorismo e admirar a quem trabalha. A riqueza é vista como indício de desonestidade. Sim, existe uma nova indústria, e boa, a tratar desse espaço que foi criado pela instituição dos concursos públicos como forma prioritária de acesso aos cargos e empregos públicos. As pessoas querem se preparar para as provas. E ainda bem que surgem pessoas e empresas para atender a estas necessidades. Pior era antes, quando não havia como se querer estudar para concursos, pois os cargos eram preenchidos pelos amigos, parentes, cônjuges, sobrinhos, netos, cunhados, cabos eleitorais, ou até por quem se dispusesse a dividir com o chefe ou autoridade uma parte, em geral considerável, da remuneração mensal a que teria direito.
A chamada “indústria dos concursos” serve aos “concurseiros” e ao país, pois aumenta o nível dos candidatos e permite que a Administração Pública selecione os melhores. Se as exigências e requisitos forem bem escolhidos, se os conteúdos programáticos forem bem formulados, isso fará com que o serviço público seja cada vez melhor, em benefício do titular do Poder, o povo. Quem escreve aqui é um dos dez milhões de brasileiros que optou pela carreira pública e que dela tem orgulho. Orgulho de ser “concurseiro”; orgulho de ser servidor e de contribuir para o bom andamento do país.
William Douglas é juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 40 obras, dentre elas Como Passar em Provas e Concursos e As 25 Leis Bíblicas do Sucesso. Site: www.williamdouglas.com.br. Acompanhe-o nas redes sociais (@site_wd, @site_wd2 e William Douglas - Facebook).