William Douglas reforça a motivação dos candidatos que querem se tornar servidores pelo viés do Dia Internacional do Trabalho.
William DouglasEm homenagem ao dia do trabalho, que foi comemorado na terça-feira da última semana, apresento esse artigo que pretende dar as boas-vindas ao serviço público. Portanto, concurseiro, ouça-me: se há em você uma resolução capaz de levá-lo a mudar para uma vida melhor e se você está pagando o preço de trabalho e esforço pessoal para conseguir isto – que é a decisão de fazer concursos –, certamente haverá, também, em seu coração, corpo e mente, algum cansaço. Pior, algum desânimo.O cansaço, o desânimo e, porque não, o nervosismo, fazem parte de qualquer processo de crescimento, de qualquer projeto de maior monta. Passar em concurso é uma tarefa possível, ao alcance de qualquer um que tenha dedicação e perseverança. Vejo isto todos os dias. Mas não é tarefa fácil nem rápida: dá trabalho (que vale a pena) e leva tempo (que será menor, conforme você saiba aprender e aprenda a fazer as provas). Mas haverá dias em que tudo vai parecer difícil demais. São horas normais de crise: “curta-as”, vá dormir, “chute o balde” e, no dia seguinte, pegue os livros novamente.
Se você continuar estudando com afinco, apesar de todos os obstáculos e incertezas, se tiver garra para superar o tempo necessário de maturação da mente e de preparação para as provas, em breve você também estará sendo chamado de “privilegiado”.
Com o devido respeito, eu já acho que você é um privilegiado, agora. Afinal, por pior que seja a sua situação momentânea, se você está estudando para um concurso é porque tem alguma escolaridade, alguma condição e a possibilidade concreta de, dentro em pouco, ter uma função pública, um vencimento bastante interessante em termos de Brasil, um status que governo nenhum vai conseguir eliminar, uma oportunidade de fazer alguma diferença para este país ser mais justo, além da felicidade de ingressar em uma atividade nobre e relevante na sociedade. Você pode até estar desempregado, mas tem esperança, com chances reais de virar o jogo e firmar-se em um trabalho útil, digno, com um bom conjunto de retribuições pecuniárias e de segurança pessoal, além de ter mais tempo para se dedicar aos estudos.
Nós, servidores concursados, somos privilegiados porque pagamos um preço, porque fomos escolhidos pelo mérito e não por amizade, raça, cor, sexo, compadrio político, sexual ou parentesco. Nós, concursados, fomos os melhores quando da seleção à qual nos submetemos. Para chegar até aqui, pagamos um alto preço pessoal e familiar, sacrificamos noites de sono, estudamos horas e horas, tivemos que superar reprovações, cansaço, dúvidas, injustiças, várias provas etc. Assim, somos privilegiados, pois nos submetemos a uma seleção pública e fomos os melhores na ocasião.
E melhor não é, necessariamente, quem sabe mais a matéria, mas quem, além de saber a matéria, aprendeu a aprender, aprendeu a fazer as provas, a controlar os nervos, a superar os óbices, a nadar contra a maré.
Por mais que se desrespeite o serviço público, sempre serão necessários homens e mulheres capazes de superar a si mesmos e realizar tarefas trabalhosas, como as que realizamos. O país sempre vai precisar de gente de fibra, como, aliás, tem de ter fibra quem deseja estudar para concurso. E é essa fibra de que o leitor precisa para superar, com sucesso, os muros que aparecem para quem estuda.
Dirijo-me, assim, aos meus colegas servidores já aprovados em algum concurso (INSS, Receita, polícia, judiciário etc.) e aos que se encontram nessa tarefa trabalhosa e meritória de estudar para ser aprovado. No momento em que muitos duvidam de nós, registro minha admiração por você, concursando, e minha fé em dias melhores, fé cuja fundação é o exemplo de coragem e persistência que vejo todos os dias nos cursinhos, nas bibliotecas, nos sites para concursos etc.
E conclamo os concursandos a não desanimarem, pois o país precisa de gente competente e briosa para fazer a diferença. Daqui a algum tempo, maior ou menor, de acordo com mil fatores distintos, os que persistirem e aperfeiçoarem-se estarão tomando posse. A nomeação e a posse não são o grande privilégio, pois os cargos encontram-se acessíveis a todos os brasileiros. O grande privilégio é a demonstração de possuir dedicação e capacidade necessárias para galgar aos cargos públicos. Assim, aos que persistirem e que, em breve, estarão tomando posse, desde logo, se me permitem, digo: – Bem-vindos, privilegiados!
Espero que tenham aproveitado bastante o dia do Trabalhador para pensar na trajetória e nas dificuldades que enfrentaram ou que estão enfrentando e saibam que, ao final, tudo valeu e valerá a pena.
William Douglas é juiz federal, professor universitário e palestrante.