Professores especialistas em concursos explicam os critérios adotados para correção dos exames pelas principais bancas e dão dicas para conhecer as características de cada uma
Normalmente, em
concursos públicos, as pessoas fazem as provas, ficam esperando os resultados, mas muitas vezes nem fazem ideia de como os avaliadores fazem a correção dos exames. Geralmente, os candidatos apenas têm uma noção de que se acertar mais da metade das questões poderão ao menos ser aprovados, mesmo que não necessariamente classificados. Mas como a nota é calculada? Como é definida a classificação? Estas questões, a grande maioria dos candidatos não faz ideia, até porque o processo muitas vezes envolve cálculos complicados. Por este motivo, o Jornal dos Concursos ouviu o auditor fiscal da Receita Federal, professor e coach do Estratégia Concursos, Diogo Moreira, e o auditor fiscal da Receita Federal, professor de matemática, matemática financeira, raciocínio lógico e estatística também do Estratégia concursos, Arthur Lima, que dão algumas explicações bastante pertinentes para que os candidatos possam entender um pouco melhor, não apenas como foi seu desempenho, mas como as bancas fazem a correção das provas.
Em primeiro lugar, os professores advertem que o método de correção é muito particular e varia de acordo com a respectiva banca responsável de cada concurso. Neste sentido, analisam e dão algumas recomendações dos cuidados que devem ser tomados com algumas das principais bancas examinadoras:
CESPE/UnB
De acordo com o professor Diogo Moreira, é essencial que os candidatos tenham em mente que cada banca possui um estilo próprio não apenas de correção, mas também de cobrança dos conteúdos. Neste sentido, adverte que treinar muitas questões da respectiva banca é fundamental para entender rapidamente os enunciados e estar habituado ao tipo de pergunta. “Quanto à correção, o sistema adotado pelo
Cespe/UnB é geralmente o de CERTO ou ERRADO. Mas é preciso lembrar que algumas vezes eles não adotam este modelo. De qualquer forma, no modelo geralmente utilizado pela banca, cada erro “tira” um ponto”, reforça. “Considero que é um método bastante justo e bem elaborado, pois torna o chute perigoso e favorece quem de fato estudou e aprendeu. Mas não é proibido chutar. Apenas deve-se ter atenção e chutar com alguma base. Portanto, evite os chutes completos. Além disso, não se deve deixar muitas questões em branco. Não adianta acertar todas se você respondeu só metade da prova”, diz. Neste sentido, o professor aconselha que o ideal é deixar, no máximo, 10% das questões em branco. “Vá circulando as questões que não sabe e voltando nelas depois. A cada passada, chute algumas a mais, aquelas que você acha que pode acertar, até restar somente 10% da prova em branco”, aconselha.
ESAF
No caso da Esaf, o professor Diogo Moreira adverte que se trata de uma das bancas mais simples em diversos aspectos. “São questões de múltipla escolha, com cinco alternativas e não há perda de ponto ao errar uma questão. No máximo, ela atribui peso diferente à algumas matérias ou conjuntos de matérias. Por exemplo, questões das matérias X, Y e Z valem 2 pontos em vez de 1. E, de vez em quando, ela estipula nota mínima por matéria”, explica. “Isso costuma ser feito nas provas da Receita Federal e elimina muita gente. Normalmente, o candidato deve acertar no mínimo 40% de todas as matérias para não ser eliminado”, diz. “Nas outras bancas, você pode se dar ao luxo de não estudar uma matéria. Aqui não. E há um aspecto bem interessante nas provas da ESAF: ela costuma dividir as respostas certas em 20% para cada letra. Se são 5 questões, teremos uma resposta A, outra B, outra C, outra D e uma E. Se você sabe quatro de cinco, pode acertar as cinco. Se sabe nove de dez, pode acertar as dez. E por ai vai..”.
Fundação Vunesp
Quanto à
Fundação Vunesp, o professor Arthur Lima explica que é comum que todas as questões tenham o mesmo peso, ou seja, igual a 1. “Desta forma, a diferença da importância entre as disciplinas fica restrita ao número de questões de cada matéria”, reforça. “Na prova de escrevente do
Tribunal de Justiça de São Paulo, cargo com mais de 200 mil inscritos, por exemplo, a disciplina de raciocínio lógico tem dez questões, enquanto língua portuguesa tem 24 e atualidades, apenas duas. Todas as questões têm o mesmo peso, mas para obter uma nota final melhor é importante que o candidato esteja melhor preparado naquelas disciplinas com maior número de questões”, reforça.
Fundação Carlos Chagas
Ainda de acordo com o professor Arthur Lima, ao contrário do que ocorre nas provas da Fundação Vunesp, nos exames elaborados pela
Fundação Carlos Chagas é comum que as questões tenham pesos diferentes. “Normalmente, as disciplinas de conhecimentos gerais têm questões de peso 1, e as de conhecimentos específicos, peso 3. A grosso modo, pode-se dizer que acertar uma questão de conhecimentos específicos corresponde a acertar três questões de conhecimentos gerais, o que reforça a importância do estudo das matérias específicas”, recomenda. “Na hora da apresentação das notas finais, entretanto, a Fundação Carlos Chagas costuma utilizar uma distribuição estatística chamada “Curva Normal” ou “Gaussiana”. Assim, ao invés de apresentar notas de 0 a 10 ou 0 a 100, a Fundação Carlos Chagas coloca as notas dos alunos em uma curva normal, por meio de um procedimento estatístico, de modo a fazer com que a nota média seja determinada pelo valor, por exemplo, 300, e o desvio padrão seja igual a 50. Esta modificação é feita para evidenciar melhor as diferenças relativas de desempenho entre os candidatos, mas não tem grande influência na estratégia de preparação que o candidato precisa adotar na hora de priorizar o tempo entre as matérias”, diz.
O que é a média ponderada?
Em muitas provas de concursos, justamente como aquelas aplicadas pela Fundação Carlos Chagas, os candidatos podem conferir, pelo edital, que para a correção das notas são adotados procedimentos como a média ponderada e o desvio padrão. Mas nem sempre conseguem entender, de forma prática, como estes procedimentos de correção são utilizados para chegar na pontuação final.
Neste sentido, o professor Arthur Lima explica que a média ponderada é aquela que leva em consideração os pesos de cada disciplina. “Se dois candidatos fazem uma prova, mas um deles erra uma questão de peso 1, de conhecimentos básicos, e outro erra apenas uma questão de peso 3, de conhecimentos específicos, as notas deles serão diferentes. O mais prejudicado, naturalmente, é o candidato que errou a questão de conhecimentos específicos, de peso 3”. Supondo que cada prova tenha dez questões de conhecimentos básicos e dez de conhecimentos específicos, o professor explica que as notas seriam calculadas da seguinte forma:
Primeiro candidato : nota final = (1 x 9 + 3 x 10)/ (1 + 3) = 9,75Segundo candidato : nota final = (1 x 10 + 3 x 9)/ (1 + 3) = 9,25Desta forma, o professor explica que, para calcular a média ponderada, basta multiplicar o número de acertos em cada matéria pelo seu respectivo peso, somar tudo, e dividir pela soma dos pesos (1 + 3).
Desvio Padrão
Já o desvio padrão, de acordo com o professor, é uma medida estatística usada para se mensurar a dispersão de números, ou seja, para se medir o quão espalhados estão os números de um conjunto de dados. “Se temos um conjunto de notas relativamente próximas entre si, o desvio padrão é pequeno, pois a dispersão é menor, pois o grupo é mais homogêneo. Se temos um conjunto de notas que variam muito, com algumas notas bem altas e outras bem baixas, por exemplo, o desvio padrão é alto, o que caracteriza um grupo mais heterogêneo. A Fundação Carlos Chagas utiliza o desvio padrão justamente para “distanciar” melhor um candidato de outro”, diz. “Acredito que somente a Carlos Chagas tem acesso à média de acertos e ao desvio padrão global dos candidatos, por isso somente ela consegue realizar o cálculo exato da nota final. Normalmente, a banca não divulga essas duas informações. Se ela divulgasse, seria possível olharmos o resultado de um concurso e calcular a quantidade de questões que cada candidato acertou. Como ela não divulga, somente com as informações do resultado final é impossível saber quantas questões exatamente cada aprovado acertou, seja nos conhecimentos básicos ou específicos”, explica.
Inclusive, o professor preparou um vídeo especial sobre o assunto:
Conclusões
Para a rotina de estudos do candidato, a única banca que requer atenção especial quanto aos critérios de correção é o Cespe/UnB, na opinião do professor Diogo Moreira. “Os critérios de correção das outras, como a Vunesp ou a Carlos Chagas, embora seja interessante conhecer como funcionam, não interferem muito na hora de fazer a prova, pois não permitem traçar estratégias diferentes baseadas na forma de correção. É sentar e responder da melhor forma possível. De qualquer forma, ler e reler o edital é fundamental. O candidato deve estar atento às notas mínimas, aos pesos diferenciados para determinadas matérias e à necessidade ou não de se estudar todas as matérias. E, acima disso, treinar centenas ou milhares de questões da banca”, reforça. “É necessário estar acostumado ao tipo de cobrança, à formulação dos enunciados e tudo mais que facilite que o candidato acerte questões e faça a prova dentro do tempo e com o maior número de acertos possível, permitindo, assim, conquistar sua aprovação”, conclui