O coach para concursos Daniel Sena explica porque a concorrência pela vaga deve ser considerada um dos fatores menos importantes para a aprovação
Quem não sonha em conquistar a estabilidade em um cargo público, com boa remuneração e outras melhorias no decorrer da carreira? Com estes ideais, milhares e até centenas de milhares de candidatos disputam por uma vaga em cargos como o de escrevente do
Tribunal de Justiça ou em órgãos como o
INSS,
Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal. Porém, a ideia de serem cargos almejados por muitos acaba se tornando um fantasma na mente dos interessados, que sabem que a concorrência nestes concursos costuma ser acirrada. Mas de acordo com o advogado, professor de direito constitucional, palestrante e coach para concursos, Daniel Sena, o medo da concorrência e de um elevado número de inscritos deve ser uma das menores preocupação para quem pretende realmente conquistar uma vaga nestas carreiras.
Ele adverte que é comum encontrar pessoas que desistem de participar de um concurso como o de escrevente do Tribunal de Justiça por saber que a seleção costuma atrair até mais de 200 mil inscritos, atitude considerada como equivocada pelo coach. “Muitos concurseiros chegam a ficar sem dormir enquanto a banca não publica o edital com a quantidade final de candidatos. Mas é preciso ter uma visão um pouco diferente quanto a isso. Após 20 anos como candidato e, mais recentemente, como coach, descobri que esta é uma das preocupações que podem ser consideradas inúteis e não ajudam a conquistar a vaga”, diz. “Ao contrário do que muitos pensam, a concorrência não é com os outros candidatos, mas consigo mesmo. Para conquistar uma vaga, basta vencer-se a cada dia, vencer a própria procrastinação, a falta de foco, a falta de disciplina”, adverte.
Sena acredita que, quando o candidato foca em si mesmo e no próprio estudo, o resultado aparece mais rápido. “É claro que a quantidade de inscritos será determinante para o estabelecimento da nota de corte do concurso. No entanto, quem está preparado, inevitavelmente será aprovado em algum momento, seja no meio de 100, mil ou 100 mil participantes”, diz. “Costumo dizer que a maioria dos candidatos que estão inscritos acabam servindo apenas para fazer número. Nunca a maioria está preparada”, conta.
Neste sentido, cita como exemplo o último concurso do INSS. “Ao todo foram mais de um milhão de inscritos para aproximadamente mil vagas em todo o país. Ou seja, aproximadamente 0,1% dos candidatos conseguiram ser aprovados dentro do número de vagas. E ainda tiveram aqueles que ficaram aprovados no cadastro reserva mas não ultrapassaram 1% da quantidade de inscritos. Então é importante parar para pensar. Será realmente que importa a quantidade de inscritos se os aprovados são sempre os melhores? Sugiro que, ao invés de se preocupar com a quantidade de inscritos, o candidato se preocupe com a própria preparação, pois para quem está realmente bem preparado não existe diferença. Se você está pronto para vencer é porque venceu, primeiramente, a si mesmo”, adverte.
Preparação
De acordo com o coach, quem quer ter reais condições de conquistar uma vaga precisa se dedicar em sua preparação e focar nisso, pois é o que realmente vai fazer a diferença. Como metodologia, destaca que fazer um bom curso preparatório, estudar com material de qualidade, fazer muitos exercícios, ter disciplina nos estudos e treinar sempre com provas e simulados são atitudes que servem para destacar os candidatos com reais chances de aprovação perante os milhares de paraquedistas, que estão prestando apenas para dar volume e aumentar o número de candidatos. “São atitudes simples. Mas são elas que fazem a diferença”, adverte.
Não desistir
Sena destaca que é comum, em concursos com grande número de inscritos, que uma boa parte daqueles que preencheram a ficha de inscrição se assustem com a concorrência e nem efetuem o pagamento da taxa ou até paguem mas não compareçam no dia da prova. De acordo com ele, isto é um reflexo de quão ilusória é a crença de que a quantidade de inscritos está diretamente relacionada com a possibilidade de ser aprovado pois, por puro medo, a própria quantidade de pessoas acaba sendo menor no dia do exame. “Em 2004 participei de um concurso público do Depen de Minas Geais. Na primeira etapa havia 50.089 inscritos para a oferta de 368 vagas. Ou seja, a disputa era de 136 candidatos por vaga. Porém, na prova objetiva foi descoberto um esquema de compra de gabaritos e aprova foi anulada. Quando convocaram os candidatos para a reaplicação do exame, muitos candidatos ficaram desanimados. O índice de abstenção foi de 50% dos candidatos. Foi algo incrível, pois aquelas pessoas que estavam realmente focadas na preparação nem se deixaram abater. Apenas continuaram estudando e foram as que fizeram seu melhor no dia da nova avaliação. Eu estava entre as pessoas que estavam focadas naquele concurso e acabei sendo aprovado”, explica.
Ainda em termos de abstenções no dia das provas, reforça que são justamente nos concursos com maior número de inscritos que o índice de faltas costuma ser mais elevado. “É uma lógica simples, até. Quanto mais vagas, mais inscritos. Quanto mais inscritos, maior a possiblidade de abstenções”.
Um bom exemplo é o concurso realizado recentemente pelo Tribunal de Justiça do Paraná, que no dia da aplicação das provas, em 25 de junho, teve um índice de abstenções de 55%. De um total de 9.858 inscritos para o cargo de analista do 1º grau de jurisdição - psicologia e serviço social, 5.448 não compareceram ou não conseguiram ingressar nos locais de provas em decorrência de atrasos.
Sena também ressalta que o número global de inscritos assusta, mas é uma ilusão, pois dependendo do número de vagas, um concurso de massa, com grande número de inscritos, pode apresentar um índice de candidato por vaga menor que outros concursos menos procurados, mas com poucas oportunidades.
Por isto, Sena reforça que no mundo dos concursos, a disputa é apenas entre o candidato consigo mesmo. “É preciso vencer-se, dia após dia, vencer a procrastinação, a falta de foco e a falta de disciplina. Obviamente a vitória não virá da noite para o dia, mas virá. Porém, requer dedicação, paciência e perseverança”, diz. “Cada experiência, cada questão aprendida, cada passo dado te aproxima da vaga pretendida. Essa é uma batalha que só se vence com paciência, perseverança e determinação. Quanto mais focado na preparação você estiver menos preocupado ficará com o resultado”, reforça. “Resultado é mera consequência de uma preparação bem feita, que é onde deve colocar a sua total atenção. Foquem no que interessa e não se preocupem com as variáveis inúteis. Quando você encontrar seu nome na lista de aprovados perceberá que tudo isso faz muito sentido”, conclui.