Como evitar pegadinhas em provas de concursos

Especialistas na área de concursos públicos dão recomendações importantes de como as bancas costumam explorar as pegadinhas nas questões e como podem ser evitadas

Fernando Cezar Alves   Publicado em 20/06/2017, às 11h39

Que concurseiro, em algum momento, depois de sair de uma prova confiante com o próprio desempenho, não se decepcionou quando viu, pelo gabarito, que errou algumas questões que tinha certeza que havia acertado? Sim, esta é uma situação muito comum no mundo dos concursos e não ocorre por acaso, nem mesmo por empolgação indevida dos candidatos. O motivo é que, por se tratar de provas concorridas, onde cada detalhe pode fazer a diferença na aprovação, as bancas exploram isto através de detalhes, nas questões, que podem induzir ao erro. As chamadas pegadinhas.
Como identifica-las e evitar perder pontos importantes por descuido aos detalhes? 
Para auxiliar os candidatos, o JC Concursos ouviu o professor de língua portuguesa do Estratégia Concursos, Décio Terror, autor de dois livros voltados para concursos públicos (“Provas comentadas para ESAF” e “Provas Comentadas para FCC”), além de ser professor concursado do Quadro Complementar de Oficiais do Exército; bem como o professor de Contabilidade Gabriel Rabelo, auditor fiscal da Secretaria da Fazenda do Rio de Janeiro, e autor do livro “Contabilidade avançada facilitada para concursos”.
De acordo com o professor Gabriel, praticamente todas as provas de concursos públicos apresentam muitas pegadinhas. “Porém, algumas capricham”, reforça. “Costumamos dizer que ninguém sai triste de uma prova da ESAF. Além da alternativa correta, há sempre respostas para todos os erros. O remédio para não cair, como sempre, é ter uma preparação adequada, o que, claro, não é tão fácil assim”.
Mas um dos principais cuidados que os participantes devem ter, para não cair nas pegadinhas, é se ater com muita atenção aos enunciados das questões. “Muitas vezes o candidato sabe a matéria, mas foi afoito ao responder”, diz o professor Decio Terror. “Em termos gerais, as pegadinhas mais comuns ocorrem quando a questão pede para marcar a alternativa incorreta e o candidato simplesmente não se atém a esta informação e, por falta de atenção, acaba marcado uma das corretas. Acaba caindo por não ter eliminado as demais alternativas. Assim, não se deve partir para a única alternativa e não passar os olhos nas demais e analisar com calma, prestando atenção em todas as alternativas. Se a questão pede a alternativa correta, não marque simplesmente aquela que considera correta. Antes disso, elimine as incorretas, até chegar à correta. O mesmo vale quando a questão pede a resposta incorreta. Elimine as corretas até chegar na incorreta”, recomenda.
Neste sentido, o professor Gabriel Rabelo acrescenta, como recomendação, que o candidato sempre grife, no enunciado, se a questão cobra a alternativa correta ou errada. “Além disso, na hora de fazer as contas, muitas bancas apresentam respostas variadas. Por exemplo, se o gabarito é R$ 100 e em um cálculo intermediário encontrarmos R$ 80, certamente haverá uma alternativa com este valor”, explica. “O remédio é ter calma, atenção e concentração sempre”.
Outra situação frequente é as questões apresentarem duas alternativas muito parecidas, para que o candidato fique em dúvida. De acordo com o professor Décio, na parte de língua portuguesa, por exemplo, é o contexto que vai dar ao candidato a tranquilidade para acertar a questão. “Assim, ele deve verificar a situação em que tais palavras são utilizadas para assim conseguir guiar melhor sua resposta”, sugere.
Porém, em outras disciplinas, outros cuidados também devem ser tomados. Em direito, por exemplo, ressalta que costuma ser cobrada a “letra da lei”. “Há algumas passagens que os professores marcam e pedem aos alunos para decorar, pois costuma haver, sim, a reprodução literal do que se encontra na lei. Neste caso, o treinamento é mais importante. É o estudo em casa que vai possibilitar se precaver desta pegadinha. Assim, ao tentar decorar algo, não só fique repetindo a estrutura até internalizar. Tente realmente entender o que está decorando, fazer ligações com a sua realidade. Ai sim, numa questão que mude a palavra, mesmo que você fique um pouco na dúvida, ao voltar e analisar aquelas duas alternativas que geraram dúvida, você terá a percepção da mudança de sentido de uma alternativa a outra”, diz.
Já o professor Gabriel destaca que, por exemplo, em contabilidade, é importante ter em mente a importância de conhecer o posicionamento da banca. “Se você fará provas para a Receita Federal, concurso realizado pela ESAF, teve atentar para suas peculiaridades. Além disso, adote um material em que, de preferência, o autor reforce as peculiaridades de cada examinadora”, recomenda. 


Bancas

Com relação ao ponto de que cada organizadora possui estilo específico de elaboração de provas e, consequentemente, de explorar as pegadinhas, o professor Décio Terror apresenta, em linhas gerais, as características das principais bancas:

CESPE/UnB – Esta banca apresenta muitas pegadinhas, pois a maioria das questões é apresentada na forma de Certo ou Errado. Assim, não há possibilidade de eliminar alternativas corretas. Por isso, o ideal é sempre realizar exaustivamente questões anteriores. Dessa forma, “pescamos” a malandragem dos elaboradores, pois é uma banca que costuma repetir bastante o estilo de cobrança.


ESAF – A ESAF quer vencer o candidato pelo cansaço, pois suas questões são bem grandes e normalmente cada alternativa faz uma afirmação sobre um tópico diferente da matéria. Isso potencializa a possibilidade de erro, pois a preocupação com o fator tempo acaba deixando o candidato vulnerável à pegadinha. Daí vem a necessidade de muito treino nas questões dessa banca.
Fundação Carlos Chagas – A FCC tem um perfil característico e as questões têm estilos bem parecidos ao longo das provas. Isso é bom, mas é passível de algumas pegadinhas, pois até a estrutura das perguntas se repete. De repente, aparece um “não”, um “marque a alternativa incorreta” e o candidato nem percebe. Então, deve-se tomar muito cuidado com o pedido da questão, pois seu comando é importantíssimo.

Metodologia

Por fim, os professores advertem que atentar para as características de cada banca e como as pegadinhas costumam ser elaboradas deve fazer parte da metodologia de estudos dos candidatos. Para isto, consideram a resolução de muitas questões de provas anteriores fundamental. “As bancas tendem a seguir um perfil”, diz Gabriel. "Particularmente, estudo para concursos desde 2004. Naquela época, as questões de direito constitucional para concursos de tribunais exigiam basicamente a literalidade da Constituição Federal. Esses dias, estive olhando para a prova de constitucional de técnico do TRE/SP e não mudou tanto. Continuam exigindo, é claro, muita literalidade. Artigo 5º da Constituição, artigo 37, e assim por diante. Portanto, o melhor remédio é resolver questões. Para as principais matérias, há milhares e tendem a se repetir, assim como as pegadinhas”, reforça. “Sempre digo aos candidatos: concurseiro faz concurso. Se você está estudando, por exemplo, para a Polícia Federal, procure fazer provas da Polícia Rodoviária Federal, Polícias Civis e tribunais, na área de segurança.  Mesmo que não queria assumir, será capaz de identificar as pegadinhas e se acostumar com o ambiente das provas. Isso vai tirar a tensão no dia de realizar o concurso”, diz. “As pegadinhas estão sempre presentes. Todavia, não fique paranoico, achando que estarão presentes em todas as questões. Também é importante não procurar pelo em ovo”, ressalta. ”Esse discernimento é um exercício de calma, conhecimento e atenção. E esses pontos não são fáceis de adquirir. Mas, com o tempo, eles vêm. Sempre digo que só existem dois tipos de concurseiros: aqueles que passam e os que desistem”, conclui.