Concurso e a pressão familiar durante os estudos

Saiba como lidar com questionamentos de familiares e amigos, e torná-los aliados na caminhada rumo à aprovação

Patricia Lavezzo   Publicado em 29/05/2017, às 09h14

Todo concurseiro sabe que para passar em um concurso público é necessária uma rotina intensa de estudos, com cursos presenciais e on-line, apostilas, entre outros métodos. Só que isso despende tempo, concentração e dedicação exclusiva. 
Além disso, o emocional também faz toda a diferença na trajetória para a aprovação e ele pode ser abalado pela pressão dos familiares e amigos. Alguns dos questionamentos que afligem muitos concurseiros são: Quando você irá decidir o futuro de sua carreira? Não está na hora de procurar um emprego? Você só tem tempo para os estudos!
Segundo o professor, advogado especialista em direito público e coach, Daniel Sena, é impossível alguém compreender a realidade que não vive. “Não tem como exigir a compreensão da família se eles não passam pelo que o concurseiro passa. Por isso, essa é uma caminhada solitária. Entretanto, sempre proponho um exercício que pode minimizar essa sensação da falta de apoio: a empatia. Quando exercitamos a empatia, nos colocamos no lugar do outro e olhamos a situação com os olhos do outro. Fazendo esse exercício, se torna mais fácil entender que a família não pressiona por mal. Quando a mãe ou o pai, ou até mesmo o cônjuge olha para o concurseiro e exige sua atenção e o seu tempo é porque não compreende o momento que ele vive”, explica. 
Daniel ressalta ser fundamental compartilhar com as pessoas próximas a sua realidade. “Envolver as pessoas mais próximas no projeto de estudo auxilia na diminuição da pressão, pois o familiar se sentirá parte do projeto. Seja sincero e transparente e converse diretamente com eles a respeito das suas necessidades. Mas é importante que o concurseiro também possua um pouco de flexibilidade para compreender que os familiares não devem ser penalizados pela sua escolha de estudar para concurso. Um exemplo disso é a forma como eu lidava com os meus filhos: quando eu chegava do trabalho eu dava atenção para eles todos os dias até as 22h, depois desse horário eles já sabiam que precisavam dormir. A partir de então, eu iniciava os meus estudo até o horário programado. Quando eu primeiro dava atenção, despertava um sentimento de reciprocidade dentro deles e eles entendiam que precisavam me dar o tempo para estudar também. Era uma troca de amor em que todos ganhavam.”
Com relação à pressão familiar para saber se você foi aprovado ou reprovado em um concurso público, a dica é não criar expectativas. “Quando fazia uma prova e chegava em casa, minha mãe me perguntava se havia passado. Eu a olhava e dizia que tinha ido muito mal na prova. Falava isso para todo mundo, independentemente de ter ido bem ou mal. Como as pessoas não se interessavam muito pelo meu fracasso, nem me perguntavam mais nada. De repente, saía uma aprovação e eu compartilhava. Todos ficavam surpresos e comemoravam comigo”, exemplifica Daniel. 
A família e os amigos devem se tornar aliados nessa caminhada para a aprovação. “A família é a maior força que um concurseiro pode ter. Se as pessoas que nos amam se sentirem parte do projeto, elas certamente o auxiliarão a atingir o objetivo. Então, a melhor estratégia é envolver a família no projeto de estudo e ter inteligência emocional para permitir a influência apenas dos sentimentos que possam auxiliá-lo”, conclui Daniel.

Experiência de quem já passou pela pressão


Para a servidora pública da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Helena de Almeida Irber, a pressão familiar durante os estudos para concurso fez parte de sua vida. A família toda de Helena é concursada, desde os pais e irmão, até os tios e primas, e durante as reuniões familiares o assunto era sempre o mesmo: serviço público. “Eu me sentia excluída, tanto que deixei de ir às ocasiões em que poderia encontrar os parentes”, lembra. 
Segundo Helena, a época em que sentiu mais pressão foi quando estava desempregada e doente: “Mal conseguia sair da cama e fazer as atividades normais do dia a dia. Minha mãe me pressionava por um lado, meus parentes falando mal de mim por outro, dizendo que eu era uma ‘encostada’. Isso me deixou muito mal. Meus filhos não me pressionavam diretamente, mas eu sentia que eles eram os que mais sofriam”.
Tendo como prioridade os filhos, Helena dedicou o tempo disponível para eles e passou a responder os questionamentos dos parentes de forma objetiva. “Me concentrava no momento presente, de estar ao lado dos meus filhos, acompanhá-los na escola, e aproveitava para estudar quando eles não estavam. Quanto aos parentes e amigos, tentava nunca começar uma conversa e quando eles puxavam assunto eu fazia com que a conversa ‘morresse’ rapidamente.”
Helena ressalta que o importante é aprender a dividir o tempo e viver um momento de cada vez. “Se você está estudando, a mente tem que estar 100% focada naquilo, com o mínimo possível de distrações. As redes sociais são viciantes e podem nos fazer perder muito tempo. Cronometrar o tempo em que ficamos nelas nos faz perceber o quanto gastamos com aquilo.”