Receita Federal do Brasil planeja abrir novo concurso para auditor e analista este ano. Kaique Knothe, que foi classificado em primeiro lugar, fala sobre o que o levou a participar do último concurso do órgão, além de suas vantagens
Um dos
concursos federais mais disputados em todo o país é o da
Receita Federal do Brasil (RFB). Os motivos são a estabilidade empregatícia e a alta remuneração oferecida pelo órgão; para o cargo de
analista-tributário o salário corresponde a R$ 9.256,42 e para
auditor-fiscal a R$ 15.743,64, sem incluir o auxílio-alimentação de R$ 373.
No entanto, apesar da grande concorrência, Kaique Knothe foi classificado em primeiro lugar na última seleção realizada pelo órgão e você confere abaixo o depoimento dele falando sobre as vantagens e desvantagens de se tornar um concurseiro, bem como alguns conselhos para ajudar nos seus estudos.
A RFB aguarda autorização do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) para abrir um novo concurso ainda neste ano de 2015.
Confira aqui mais informações sobre o certame que deve ser divulgado em breve.
Veja mais: Votação do Orçamento 2015Confira depoimento do 1º colocado no concurso da Receita
Meu nome é Kaique Knothe de Andrade, tenho 26 anos, sou engenheiro mecânico e fui o
primeiro colocado no último concurso de auditor-fiscal da Receita Federal. Vou falar um pouco sobre as vantagens e as desvantagens da escolha pela vida de concurseiro, além dos prós e os contras de entrar nesse mundo de estudos, provas e cargos que à primeira vista parecem complicados.
No meu caso, eu havia me formado há poucos meses e trabalhava na iniciativa privada, em uma empresa de consultoria estratégica em São Paulo, onde aprendi muito, porém encontrei um estilo de vida bastante estressante e uma forma de pensar diferente da minha. Em maio de 2013 eu me demiti e, após um breve período refletindo sobre as escolhas que eu poderia tomar, decidi que tentaria seguir uma carreira na administração pública. Voltei à minha cidade, Rio Claro, no interior de São Paulo, e comecei a desvendar esse mundo dos
concursos. Demorou um pouco para eu me encontrar no ramo, mas em julho daquele ano comecei a estudar em período integral e o resultado veio de forma relativamente rápida: dez meses depois.
Mas quais são essas razões que me fizeram e fazem tantas pessoas optar pela área pública? A primeira delas é a estabilidade. Não são raras as vezes em que ouvimos relatos de pessoas que, mesmo extremamente competentes, acabaram perdendo o emprego devido a algum fator (desde crises econômicas até desentendimentos pessoais) e tiveram dificuldade para se recolocar. No setor público, após três anos de efetivo exercício, você só deixará o seu cargo em casos muito específicos – e a grande maioria desses casos envolve atitudes falhas do próprio servidor.
A segunda vantagem é o salário inicial, muitas vezes mais elevado do que o pago pela grande maioria das empresas. No âmbito federal, por exemplo, temos cargos de
nível médio que ultrapassam os R$ 5.000, e diversas opções de cargos de
nível superior com salários superiores a R$ 10.000.
A terceira vantagem é o
concurso em si. Vou explicar por que eu o coloquei como vantagem: por mais que a discussão sobre meritocracia seja muito complexa e transpasse o tema deste texto, na seleção para os cargos da área pública via
concurso você não vai se deparar com situações de “quem indica”, dinâmicas de grupo que utilizem técnicas aparentemente inadequadas ou qualquer outro tipo de subjetividade. A situação é simples: você, os outros candidatos e a prova. Claro que eu não conheço a situação em todos os locais do país, mas nos mais de dez concursos que prestei a seleção correu de forma bastante profissional. Não se deixe levar por opiniões de quem não conhece o ramo e ainda acha que as seleções são “arranjadas”. Se você souber de um concurso assim, denuncie! Mas o padrão, principalmente nos concursos maiores, é haver bastante profissionalismo.
A quarta vantagem diz respeito às portas que podem se abrir ao prestar um concurso. Como os limites de horário de trabalho são respeitados, você poderá, caso queira, melhorar seus conhecimentos com um curso noturno, estudar para um cargo mais importante ou mais bem remunerado, trabalhar em cursos preparatório. As oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional nesse sentido são grandes.
A quinta vantagem é ideológica: você estará trabalhando para o Estado. Os frutos do seu trabalho são coletivos, não envolverão a demissão de outras pessoas nem a ideia de geração de lucro acima de todas as outras coisas. O sentimento de ter um
cargo público pode ser muito gratificante, dependendo da forma como a pessoa vê o mundo.
Existem, ainda, outros pontos que eu vejo como vantajosos: o ambiente de trabalho, que na minha experiência tem sido excelente, a vantagem de poder cumprir benefícios legais como férias e dispensas diárias de forma tranquila, sem sofrer pressões ou o medo de perder o emprego, a boa sensação quando você auxilia um cidadão.
Como era de se esperar, existem também desvantagens nessa escolha, que devem ser igualmente consideradas no momento da decisão de começar a preparação para um
concurso público.
A primeira desvantagem consiste na necessidade um bom volume de horas de estudo até ser aprovado. Isso é muito variável de acordo com o perfil da pessoa, sua trajetória de vida e o fato de estar acostumada ou não a essa atividade. Mas, encontrando um bom método e um bom material, as chances de ser aprovado são muito maiores do que nós normalmente julgamos à primeira vista.
A segunda desvantagem, de certa forma ligada à primeira, consiste no risco de dedicar várias horas a esse projeto e não obter a aprovação. Quanto a isso, o que posso dizer é que ele realmente existe, mas existem diversas atitudes que a pessoa pode tomar para mitigá-lo.
A primeira atitude, evidentemente, é se dedicar ao máximo para aumentar suas chances na prova – mas existem outras. Se você tem muito receio e tem algumas horas livres no dia, comece a preparação sem deixar o emprego, pois dessa forma a pressão sobre você será menor. Se você deixar o emprego, tente prestar concursos de menor dificuldade ao longo da sua trajetória de estudos (concursos que tenham algo a ver com o edital do concurso que você realmente quer, para não desfocar demais). Isso irá ajudá-lo a treinar e também te possibilitar uma entrada amais rápida na administração pública, reduzindo a pressão financeira e dando mais confiança. E lembre-se: não desista tão cedo. Todos os anos as vagas são muitas, e no fundo estudar é um ativo que você constrói, mantém, e que um dia gera seus frutos. O tempo de estudo nunca será perdido, seja para outros concursos, seja até para a iniciativa privada.
Cabe à pessoa avaliar esses e outros fatores e concluir sobre o que vale mais a pena. Caso você decida pela vida de concurseiro, enfrente-a com bastante confiança e seriedade. Quando eu tomei minha decisão ainda tinha muitas dúvidas, mas tinha certeza de que queria mudar o estilo da vida que eu tinha, independentemente das consequências que isto traria a curto prazo. Fiquei quase um ano só estudando, gastando pouco dinheiro em outras coisas e prestando vários concursos. Tive, sim, momentos de lazer, porém muitas vezes sacrifiquei algumas atividades que gostava de fazer para ter tempo de estudar. Hoje ocupo o cargo de auditor-fiscal e sou muito mais realizado do que era em meu antigo emprego. O ambiente de trabalho é agradável, o nível dos servidores e dos trabalhos que estes desenvolvem na Receita Federal é muito bom, e eu também dou muito valor à sensação de segurança e respeito por estar em um lugar em que seus horários são respeitados e seu desenvolvimento profissional não é motivado por competitividade ou medo, mas pelo interesse público.
Embora seja necessário muito estudo, este tempo pode ser otimizado com o uso de bons materiais, completos e atualizados, e com o uso de táticas de estudo que se adaptem às condições e ao gosto do candidato, melhorando a absorção de conteúdo. Não se assuste com pessoas que dizem que levará anos, pois não são tão raros assim os casos de pessoas que passam em pouco tempo. A decisão de começar a estudar, a escolha do material e do método, o respeito às horas de estudo – todas essas decisões podem dar medo à primeira vista, mas são todas situações que se tornam mais claras quando há informação e motivação. O que eu posso dizer é que, depois de ter pesado os prós e contras, entrei de cabeça no mundo dos concursos – e não me arrependi em nenhum momento.
* Entrevista concedida à Central de Concursos
A Secretaria da Receita Federal do Brasil é um órgão específico, singular, subordinado ao Ministério da Fazenda, exercendo funções essenciais para que o Estado possa cumprir seus objetivos. É responsável pela administração dos tributos de competência da União, inclusive os previdenciários, e aqueles incidentes sobre o comércio exterior, abrangendo parte significativa das contribuições sociais do País. A Receita Federal também subsidia o Poder Executivo Federal na formulação da política tributária brasileira, previne e combate a sonegação fiscal, o contrabando, o descaminho, a pirataria, a fraude comercial, o tráfico de drogas e de animais em extinção e outros atos ilícitos relacionados ao comércio internacional.
Até 1 de janeiro de 2019 era subordinado ao Ministério da Fazenda, e a partir daí passou a ser subordinado ao novo Ministério da Economia do Governo Jair Bolsonaro.