Críticas e Mapas Mentais

Deixar-se abater diante das críticas é permitir que acabem com o melhor método de seleção que desenvolvemos até o momento: o concurso

William Douglas   Publicado em 20/06/2017, às 10h09

As críticas fazem parte de todo processo de aprendizado, especialmente para aqueles que se dispõem a fazer algo diferente do padrão, da média. Como cristão, desde pequeno recebo pedradas por minhas crenças. Já fui pobre e morei em bairro pobre e sofria por isso; faço parte do movimento negro e, ainda hoje, recebo críticas de minha atuação, tanto de pessoas de fora do movimento como de outros membros. Como magistrado, recebo críticas todas as vezes que uma decisão desagrada alguém. É do jogo. O importante é não se deixar abater, continuar lutando pelo que é certo, por seus projetos, pelas ideias que defende. 
Nos concursos não pode ser diferente. Não é raro o concurseiro – e até mesmo o professor do preparatório – ser alvo de críticas, mas é importante que nunca deixem de dar sua contribuição para uma sociedade melhor, mais justa e mais eficiente. Deixar-se abater diante das críticas é permitir que acabem com o melhor método de seleção que desenvolvemos até o momento, é permitir o enfraquecimento do serviço público e do magistério, é coadunar com a desigualdade de oportunidades e isso é nocivo para os indivíduos e para a sociedade.
Já fui criticado asperamente por ensinar técnicas de estudo para concursos, recentemente ocorreu novamente. Não costumo responder, mas às vezes vale a pena dar algumas explicações, muito mais para meus alunos do que para os críticos. Aquele que critica apenas por criticar nada quer aprender, mas os alunos me procuram querendo saber minha opinião.
Outro desprezo preferido de muitos, são os mapas mentais, técnica originalmente desenvolvida por Tony Buzan, que é extremamente eficiente para quem precisa memorizar muitos conteúdos. Sim, alguém com maior facilidade de aprendizagem pode dispensar os mapas mentais, mas isso não quer dizer que não seriam ainda mais eficazes se o utilizassem. Os mapas mentais são muito mais compatíveis com a rede neural do que as anotações blocadas, ou seja, o conhecimento da neurologia e da arquitetura natural do cérebro demonstram uma das razões da eficiência dos mapas mentais e, por isso, não deveriam ser desprezados.
O que posso dizer é que as críticas aos professores que usam métodos não ortodoxos são equivocadas. O sistema dos concursos pode sim, ser alvo de críticas, mas não aqueles que estão trabalhando para torná-lo menos perverso e desigual. Não é intelectualmente honesto culpar os professores por erros que são das provas.
As críticas para aperfeiçoar os concursos são bem-vindas, mas vale lembrar que aquele que se arvora em criticar os concursos deveria saber a imensa gama de concursos que existem. Nem todo mundo precisa saber Direito no nível de um juiz. Há concursos para cargos e níveis em que os candidatos só precisam saber o básico. 
Ainda assim, é melhor lidar com as dificuldades do concurso do que com o que acontece quando os concursos não existem. Sem concursos públicos, as pessoas são escolhidas por compadrio, parentesco ou aparelhamento político. O mundo dos concursos tem suas mazelas, mas são mais nobres do que a indicação de esposa, amantes, filhos e amigos. Prefiro ensinar a passar do que chorar vendo cargos públicos serem ocupados por quem não estuda.
Os concurseiros também merecem respeito e admiração. Em sua grande maioria não são bolsistas, ou abençoados com licenças remuneradas em seus cargos públicos de origem. São pessoas que estudam à noite, após trabalho duro e antes de chegarem em casa para cuidar dos afazeres domésticos. São pessoas que estão se sacrificando e que, perdoe-me quem não gosta disso, merecem todo nosso apoio.
O mestre Agostinho da Silva disse, com propriedade, que “O mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vender, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa.” Em outras palavras, podemos e devemos buscar melhorar o sistema e as críticas fazem parte disso, elas nos empurram para frente. Mas também devemos respeitar escolhas, caminhos, opções e, principalmente, aquilo que funciona, que é eficaz, na construção de uma sociedade melhor. 
William Douglas é juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 40 obras, dentre elas Como Passar em Provas e Concursos e As 25 Leis Bíblicas do Sucesso. Site: www.williamdouglas.com.br. Acompanhe-o nas redes sociais (@site_wd, @site_wd2 e William Douglas - Facebook).