Um pequeno prédio com filmes nacionais
Redação Publicado em 27/11/2009, às 15h51
Na famosa rua Aspicuelta, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, um pequeno prédio abriga filmes nacionais. Sem distinção de gêneros ou formatos, ali estão DVDs dos longas “Janela da Alma”, de João Jardim e Walter Carvalho; “Cão Sem Dono”, de Beto Brant; e até mesmo do curta “Espalhadas pelo Ar”, de Vera Egito, que se destaca em uma nova geração de cineastas brasileiros.
E é ali mesmo, naquele prédio, que despontam também duas divulgadoras desse mesmo cinema. Elas se conheceram no Laboratório Integrado de Marketing Cultural, na Universidade de São Paulo, onde trabalharam juntas. Camila Nunes de Freitas cursava publicidade. Já Cynthia Alario fazia faculdade de relações públicas. Após o laboratório, no entanto, cada uma levou consigo o entusiasmo em trabalhar na área cultural, ainda resignado à falta de possibilidades. Foi quando apareceu um novo trabalho que uniu mais uma vez as duas: era o Cinema Br Em Movimento, projeto da Petrobras, que tem como objetivo a difusão de filmes nacionais. Mais uma vez, as duas trabalharam, incansáveis, para a divulgação do cinema brasileiro.
Foi então que um dos diretores do mesmo “Janela da Alma”, que hoje figura na estante, questionou: “Vocês têm um público tão interessante, que é o universitário. Por que vocês não trabalham algo específico?”.
Da sugestão, Camila e Cynthia passaram a tatear caminhos, investigar terrenos e descobriram no estudante universitário um público multiplicador. Tendo o meio acadêmico como espaço determinado, as meninas investiram nas pré-estreias, nos debates e em tudo aquilo que pudesse chamar atenção desse público tão aberto à produção nacional. Hoje, 33 estudantes de São Paulo e do Rio de Janeiro fazem parte da equipe e atuam como agentes multiplicadores.
O processo funciona da seguinte maneira: definido o filme, surge o projeto que leva em conta, principalmente, o público que pode ser atingido por aquela produção. A proposta é discutida e, depois, os agentes elaboram como colocar em prática. E então: mãos à obra!
Alguns filmes, de maior abrangência, divulgam-se por si só num boca a boca, iniciado pela equipe, que ultrapassa limites geográficos. Já outros, documentários como “O Milagre de Santa Luzia”, sobre a sanfona no Brasil, uma produção independente e sem auxílio da mídia, têm como proposta o trabalho em nichos. A opção, neste caso, foi trabalhar com pessoas interessadas na temática: estudantes de música, grupos de cultura popular etc.
A empresa, que em oito anos fez a divulgação de cerca de 70 filmes, também teve suas pedras no percurso: dificuldades naturais para quem quer montar o próprio negócio. No início, não existia nada parecido e a primeira barreira foi explicar aos integrantes desse cinema nacional no que consistia aquela empresa sem gênero definido e num formato um tanto quanto irreverente.
Mas mesmo já conhecidas no mercado e com experiência adquirida, as dificuldades ultrapassam aquilo que é possível controlar. Trabalhando com diretores de diferentes tipos e temperamentos, conforme o lançamento se aproxima, não é incomum triplicar a expectativa em cima dos resultados. Uma das diretoras, na ansiedade de que a divulgação desse certo, passou a refazer todo o trabalho já realizado. Ligava e religava para instituições numa conferência sem fim da competência alheia. Num outro caso, o material de divulgação foi todo para o lixo por um detalhe que não agradou o diretor. Tumulto na divulgação que, sem material até o último momento, tinha que seguir. No meio de tudo isso, estão tarefas nem um pouco entusiasmadoras: elas viraram contadoras, administradoras e tudo o que foi preciso para levar a empresa adiante.
Para resistir ao estresse do dia a dia, Camila acompanha festivais e informa-se sobre políticas públicas para o cinema. Ela justifica a reciclagem constante: “A gente fica perdida na rotina e acaba esquecendo que tem uma função maior”.
Nina Rahe
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