Como as eleições podem cair em provas de atualidades

Professor faz observações sobre os principais pontos das eleições presidenciais de 2018 que poderão ser abordados nos próximos meses nas provas de concursos públicos

Fernando Cezar Alves   Publicado em 16/11/2018, às 11h21

Quem está se preparando para concursos públicos sabe que estar atento às notícias é um ponto essencial para conseguir um bom desempenho nas questões de atualidades, disciplina comum em inúmeras provas, para os mais diversos cargos, na maioria dos órgãos públicos. Neste sentido, a eleição presidencial de 2018, considerada uma das mais polêmicas do país, tende a ser extremamente explorada nas provas dos próximos concursos, de acordo com especialistas. Para auxiliar os candidatos, o professor de atualidades da Central de Concursos, Marcos José de Oliveira, ressalta pontos importantes sobre o tema que os candidatos devem ter em mente e que podem ser explorados pelas bancas.


De acordo com ele, o tema da redação do Enem, que abordou a manipulação na internet por meio de uso de dados, já é um indicativo de como as eleições presidenciais podem ser exploradas pelos examinadores. “Essa eleição foi única, ou melhor, toda a campanha foi única. Diversos analistas e meios jornalísticos apontaram isso. O tema abordado pelo Enem na redação foi propício, pois as redes sociais funcionaram como nunca nessa eleição, principalmente a propagação de fake News”, disse. “Gostei do tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Dos quatro textos motivadores, três deles são trechos de reportagens, o que demonstra a preocupação do Enem com a leitura atual do candidato. Claro que a maioria das reportagens eram de 2016, mas isso não invalida a necessidade de estar bem informado. Para os concurseiros vale o alerta. Pesquisar e entender até onde as redes sociais estão sendo instrumentos políticos e ferramentas que atendem às necessidades das empresas e partidos. O gráfico utilizado no texto III da prova é um organograma de dados do IBGE com o perfil dos usuários de internet no Brasil de 2016. E qual a leitura que o candidato pode fazer? Entender esse processo atual é urgente e muito importante”, ressalta.


Prisão do Lula

De acordo com o professor, dentro deste contexto político envolvendo as eleições 2018, um ponto que pode ser explorado diz respeito à prisão do ex-presidente Lula e todo o processo que envolveu os posteriores pedidos de soltura, bem como a intenção do PT em incluir o ex-presidente como candidato, mesmo após a condenação em segunda instância. “A estratégia do PT foi equivocada, sem dúvida. Mas só temos certeza agora, porque a eleição acabou. Essa intenção, a de usar o nome e a imagem do ex-presidente, parecia ser útil, já que era sabido, de acordo com as pesquisas, que se concorresse ao leito, o ex-presidente venceria. Sem contar também que muita gente nas redes sociais compartilhava as críticas à sua prisão. Fazer um acompanhamento, um resumo ou uma pesquisa de todo o processo que envolveu o julgamento e a prisão de Lula é obrigatório, principalmente porque o fato repercutiu até no exterior. Já a forma de ser abordado em uma prova de atualidades vai depender da organizadora, mas com certeza os fatos e todo o processo que envolveu o ex-presidente são muito importantes e deve merecer atenção dos candidatos de concursos públicos”.


Lava Jato

Ainda dentro deste contexto, que inclui a prisão de Lula e as eleições 2018, um fator importante e que deve ser explorado pelos examinadores, na opinião do professor, é a operação Lava Jato.  “A operação Lava Jato está longe de terminar e seus desdobramentos ainda serão sentidos em 2019. Dentro deste contexto é importantíssimo ficar atento à indicação do juiz Sergio Moro como ministro da Justiça, feita pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. O fato de Moro aceitar participar do governo Bolsonaro já prova isso, ou seja, a importância do tema Lava Jato para as provas de atualidades dos próximos meses”.


Fake News

O já citado tema da redação do Enem, sobre a manipulação de dados na internet, pode ser diretamente ligado a outro fator considerado decisivo para as eleições presidenciais, que diz respeito à disseminação de fake News. Na opinião do professor, este também é um ponto importantíssimo e que merece toda atenção dos candidatos para as próximas provas de concursos públicos. “Isso tende, sim, a ser explorado, de alguma maneira. Como já disse, as redes sociais fizeram a diferença nessa eleição. Houve uma campanha de ódio propagada pelos dois lados, principalmente no segundo turno. Havia um fanatismo nas acusações e nas defesas dos dois candidatos. Pessoas andaram rompendo amizades, bem como familiares. As falsas notícias pipocaram diariamente e a desinformação praticamente imperou”, ressalta. “Como professor de atualidades, ficava abismado com a desinformação e as agressões, principalmente pelo WhatsApp. Isso tudo deve ser explorado nas provas. Existem indícios de que as empresas apoiadoras, dos dois partidos, contrataram serviços que disparavam mensagens de WhatsApp em massa com conteúdos anti-PT ou PSL. Milhões de eleitores foram bombardeados pelas mensagens lançadas pelo esquema. Os candidatos também devem ficar atentos aos detalhes sobre as acusações de caixa 2, abuso de poder econômico e financiamento empresarial. Nada disso já havia sido visto em eleições no país. Sendo assim, cabe ao candidato analisar, pesquisar e anotar todo esse processo, pois deve, sim, ser motivo de questões de atualidades em 2019. E vale o lembrete: nas eleições legislativas de novembro atual, nos Estados Unidos, as fake News voltaram a ser largamente utilizadas pelos partidos e apoiadores. Isto também pode ser cobrado nas provas”, ressalta.


De acordo com o professor, principalmente em provas que contam com questões de cunho dissertativo, estes temas deverão ser bastante explorados. “Na minha opinião, uma banca que tem o perfil de abordar bastante esses assuntos é a Vunesp. Desta forma, os candidatos que pretendem participar do próximo concurso da Polícia Militar de São Paulo em 2019 ou para os próximos concursos do Tribunal de Justiça, previstos para 2019, devem tomar muito cuidado com isso. Com certeza, estas questões serão exploradas e não há razão para isto não ocorrer”, diz.

Dissertações e questões objetivas           

As eleições presidenciais, dentro do assunto de atualidades, podem ser exploradas, segundo o professor, tanto nas provas objetivas, quanto nas questões dissertativas. Nos dois casos, ressalta que o fator tempo deve ser considerado essencial. “Numa prova objetiva, com múltiplas escolhas, o candidato vai ter que trabalhar bem o tempo e saber eliminar as alternativas que não estão corretas. O nível de dificuldade é grande para a maioria dos candidatos, principalmente aqueles que ainda não estão acostumados com o ritmo da prova. Já no exame dissertativo, a habilidade do candidato conta muito. Escrever uma resposta com as suas próprias palavras é muito complicado, principalmente quando sabemos que, no Brasil, a maioria dos estudantes que saíram do ensino médio, são considerados alfabetizados funcionais. Ser objetivo e claro, entender que alguém vai analisar a sua resposta é muito complexo e exige muita habilidade. E muito cuidado com o número de linhas na prova dissertativa”, adverte.   


Governo Bolsonaro

Outro ponto importante, para o professor, é que os candidatos permaneçam atentos às primeiras medidas anunciadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, mesmo durante o governo de transição. “Nessa altura do campeonato, sugiro apenas ir acompanhando os fatos. Que o número de ministérios será diminuído isso é mais do que certo, mas nada ainda é verdade fundamentada. Nessa primeira semana de novembro alguns jornais afirmaram que o Ministério do Trabalho será extinto e que o presidente eleito assim confirmou. Mas cuidado, ele já está declarando que isto será revisto, assim como voltou atrás sobre a fusão dos Ministérios da Agricultura com o do Meio Ambiente. As críticas foram muito pesadas e o presidente eleito reviu suas posições”.
De acordo com o professor, a ideia de fusão de ministérios não pode ser considerada ruim. “Mas, a fusão da Agricultura com Meio Ambiente, parodiando alguns analistas, é dar para a raposa os cuidados com o galinheiro. Foi uma péssima iniciativa e choveram críticas dentro e fora do Brasil. A controvérsia foi a marca do capitão reformado nessas duas primeiras semanas como presidente eleito. Medidas como a redução dos ministérios e a criação de novos impostos, a reforma da previdência e a transferência da embaixada brasileira em Israel sofreram recuos e foram alvos de críticas”.


Em relação à reforma da Previdência, recomenda muita atenção sobre os dados da população segundo o IBGE. “Envelhecimento e aumento da expectativa de vida dos brasileiros, redução do número de jovens e do nascimento de filhos por mulher. Claro que o déficit da previdência no Brasil é preocupante e isso vem sendo lembrado sempre pelos meios de comunicação e pelo governo”.


Para finalizar, Oliveira reforça alguns cuidados que os candidatos devem tomar com provas de atualidades, como um todo. ”É preciso ter cuidado com gráficos. Há muita dificuldade, para a maioria dos candidatos, saber realizar a leitura correta. Veja o Enem desse ano. Quando trabalho com questões de atualidades ou geografia em sala de aula e mostro temas que são abordados pelo IBGE através de gráficos, é visível a dificuldade dos alunos. Sobre a população brasileira, que vem passando por profundas transformações nas últimas décadas e interessa muito no tema reforma da Previdência, trabalhar uma questão através de um gráfico pode ser complicado para os candidatos”, conclui.