Especialistas e concurseiros explicam qual é o verdadeiro papel desta modalidade de estudo, e a quem ela é destinada
Redação Publicado em 17/02/2012, às 15h50
Com a modernização dos meios de comunicação e a onipotência da tecnologia em nossas vidas, ruindo sólidas barreiras e tornando práticos os processos mais sistêmicos, é natural que a aprendizagem também seja seduzida por essa epidêmica “simplificação cibernética”, a qual, às vezes, pode acabar não sendo tão simples quanto parece.
Há alguns anos, instituições vêm adotando sistemas de ensino via internet como forma de alcançar o maior número de interessados possível, principalmente de regiões menos favorecidas economicamente. É o caso dos “cursos online” ou “cursos à distância”, cada vez mais procurados por quem não tem tempo, disposição ou facilidade para comparecer com freqüência aos tradicionais cursos presenciais.
A implantação da internet nos meios de aprendizagem se estende aos cursos preparatórios para concursos públicos, geralmente realizados por pessoas que já têm emprego fixo e não dispõem de muito tempo para se preparar de forma adequada. A solução, portanto, seria procurar um curso online e ter a possibilidade de impor o próprio ritmo na hora de estudar? Depende.
Especialistas explicam que, para que o curso online surta o efeito desejado, o aluno deve ser organizado, ter concentração e saber estipular horários e limites na hora de estudar. “Nem todas as pessoas têm foco e dedicação suficiente para fazer cursos à distância”, conta Paulo Estrella, diretor da Academia do Concurso, “a facilidade de estudar a hora que quiser pode levar o candidato a não estudar em hora nenhuma”.
Isso quer dizer que, antes de saber através de qual curso estudar para um concurso público, o candidato deve estudar a si mesmo, e reconhecer se ele tem, ou não, condições de se preparar por meio de um curso online, ou se será necessário se matricular em um curso presencial.
Para tornar essa escolha mais simples, vejamos algumas vantagens e desvantagens de cada tipo de curso.
Presencial – Mesmo com a proliferação e a valorização dos cursos online, os cursos presenciais ainda apresentam os maiores índices de alunos que buscam vagas nos quadros de servidores dos órgãos públicos.
A principal característica do curso presencial é a existência de compromissos pré-estabelecidos, em termos de dias e horários. Os alunos devem cumprir prazos e confiar nos métodos impostos pela instituição escolhida.
De acordo com os especialistas, uma das vantagens de quem realiza um curso presencialmente é a possibilidade de estar próximo do professor, o que facilita na hora de tirar dúvidas e receber dicas. “[No curso presencial] A dúvida é tirada imediatamente com o professor. E ele consegue sentir o ritmo da turma e saber se está conseguindo atingir a maioria dos alunos”, explica Leo Chucrute, da Editora XYZ, que trabalha exclusivamente com livros sobre concursos.
Para Paulo Estrella, “o curso presencial favorece a criação de um envolvimento emocional entre o professor e seus alunos, permitindo que o professor ajuste o modelo de aula e linguagem para atingir todos eles”. E não é preciso muito esforço por parte do aluno para tirar proveito da proximidade com o professor, o especialista acrescenta que “mesmo aqueles que participam pouco na aula são beneficiados com as perguntas e participações dos colegas”.
A contribuição dos companheiros não para por aí. Embora geralmente eles disputem a mesma vaga, um acaba ajudando o outro pelo simples fato de dividirem a sala de aula. “A presença de outros alunos aguça o espírito de competição. Isso pode servir de estímulo”, explica Estrella, “a convivência permite também a troca de informações e experiências, o que pode ser muito útil na preparação do candidato”.
Taciana Garcia é servidora da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Ela conquistou a aprovação estudando através de um curso presencial. “Conviver com o professor é importantíssimo, eles estão sempre dando dicas de estudo, além de serem brilhantes psicólogos. Quando estamos desesperados, conversar com eles sempre acalma”, conta Taciana. Para ela, a vantagem de ter o professor por perto se entende à possibilidade de manter-se atualizado caso haja alguma mudança no conteúdo programático da seleção.
Sobre a diferença entre os dois tipos de curso, Taciana, que também já realizou cursos online, afirma: “um acaba completando o outro”.
Online – Por serem menos dispendiosos – tanto pelo preço mais baixo quanto pela economia com transporte –, terem maior flexibilidade de horário e maior abrangência em termos de regionalização, os cursos online vêm se proliferando pela rede em ritmo desenfreado.
Roger Carreira, diretor da CAPE Cursos Preparatórios, que oferece cursos nas duas modalidades como forma de preparação para concursos das Forças Armadas, salienta a importância da inclusão de concurseiros que moram em cidades onde não há cursos presenciais preparatórios para concursos públicos. “Os cursos presenciais, em sua maioria, localizam-se nas grandes cidades do país, o que acaba causando, de certa forma, desigualdade na competição entre os candidatos”, diz o especialista.
“Esse é um dos papéis principais do ensino à distância: democratizar a aprendizagem”, afirma Fabricia de Oliveira Gouveia, gestora da Vestcom, que também trabalha com as duas modalidades de curso, “levar os melhores professores do país a concursandos de cidades que não têm acesso a esses professores, colocando todos os candidatos em pé de igualdade”.
Para Fabricia, na educação moderna, o professor deixou de ser o retentor de todo o conhecimento. “Agora, ele é visto mais como um facilitador da aprendizagem, e esse papel é plenamente desenvolvido na modalidade à distância”, entretanto, ela pontua que, para alguns alunos, a presença do professor ainda é indispensável.
Seguindo a linha de raciocínio adotada por Fabricia, Roger explica que “os cursos presenciais são mais direcionados a candidatos que possuem dificuldade de aprendizagem e necessitam da presença constante do professor”.
Aluno do curso online oferecido pela Vestcom, Ricardo Cayres afirma: “eu nunca dependi de professor. Sempre busquei tirar minhas dúvidas sozinho. Para mim, a tutoria já resolve”.
Ricardo conta que as principais vantagens de se preparar para um concurso público à distância são a economia de tempo e dinheiro e a possibilidade de organizar as matérias por conta própria.
“Eu não opto mais por cursos presenciais, principalmente por causa do preço. Os cursos online saem muito mais em conta. Além disso, não preciso ajustar meus horários aos horários dos cursinhos”, explica Ricardo, que já realizou três cursos presenciais: “não valeu a pena para mim, porque eu sempre perdia o início das aulas. Por trabalhar de sábado, às vezes perdia aulas inteiras”.
Sobre a contribuição, voluntária ou não, dos colegas de sala, Ricardo opina: “do mesmo modo que a convivência com outros alunos ajuda, ela também atrapalha. O que mais me incomoda é ter que assistir aulas com pessoas que estão em níveis diferentes”.
O futuro dos cursos – Indagados sobre o papel e o domínio de cada tipo de curso nos anos vindouros, os especialistas defenderam opiniões divergentes. “Acreditamos que, com o avanço tecnológico, os cursos online dominarão o mercado”, arriscou Roger Carreira, diretor da CAPE Cursos Preparatórios.
Já para Paulo Estrella, diretor da Academia do Concurso, “os cursos online democratizaram as chances de acesso à carreira pública”, no entanto, ele não concorda que os cursos presenciais estejam próximos da extinção. “Como já disse, nem todo aluno tem força de vontade e foco suficiente para tirar proveitos dos cursos online”, e conclui: “no meu ponto de vista, esses dois mercados entrarão em equilíbrio, sem destruir um ao outro”.
Do ponto de vista de Leo Chucrute, da Editora XYZ, os cursos online “estão trazendo oportunidades para muita gente que tem um sonho e não tem disponibilidade de estar presente todos os dias em sala de aula”. O especialista completa sua opinião profetizando: “o velho quadro com a presença do professor é imortal”.
A gestora da Vestcom, Fabricia de Oliveira Gouveia também acredita que os cursos presenciais não deixarão de existir. Pelo menos não nos próximos anos. “Talvez, se imaginarmos um futuro muito distante, em que as máquinas já estejam desenvolvidas a ponto de realizar coisas atualmente impensáveis...”, diz Fabricia, que para pra refletir e vai um pouco mais além: “mas aí não precisaremos mais estudar, pois já terá sido criado um chip, que será implantado em nosso cérebro, com todas as informações que precisamos”.
Será?
Leandro Cesaroni/SP