“Pedi demissão para me dedicar aos estudos”

Os candidatos buscam salários e benefícios impensáveis na iniciativa privada. E para essa conquista vale tudo?

Redação   Publicado em 11/11/2008, às 14h47

Estabilidade é a palavra-chave para quem faz concursos públicos. Os candidatos buscam salários e benefícios impensáveis na iniciativa privada. E para essa conquista vale tudo, até pedir demissão do emprego para se dedicar somente aos estudos. A princípio pode parecer arriscado, mas é uma opção cada vez mais considerada pelos candidatos.

Mas antes de tomar alguma atitude, especialistas aconselham analisar bem a situação. Isso porque muitos aprovados em concursos importantes conseguiam conciliar trabalho, estudo e família. Porém, se a decisão for mesmo pedir demissão, é preciso ter bem claro que será necessário ter uma reserva financeira, dedicação, disciplina e, acima de tudo, planejamento.

A possibilidade de fazer planos financeiros a longo prazo e ter melhor qualidade de vida motivou o gerente de contabilidade Alexandre Pisani a largar a iniciativa privada. Na época, ele trabalhava em uma empresa de logística. “Saí em janeiro de 2007. Na verdade, quis dar um tempo porque minha filha (a primeira) ia nascer em poucos dias e, com o ritmo absurdo de trabalho, em média 14/15h diárias, perderia uma experiência única”, revela.

Pisani explica que a decisão pelo concurso veio um pouco depois, passados seis meses do nascimento da primogênita, ele não quis mais voltar para a vida que tinha antes e, ao invés de retornar para a iniciativa privada procurando emprego, preferiu se dedicar aos estudos para tentar uma carreira pública.

“Mais do que simplesmente parar de trabalhar para estudar, a situação foi a de que não quis mais voltar. Queria algo diferente, com mais qualidade de vida e poder me dedicar um pouco mais a mim e a minha família”, enfatiza.

De acordo com Carlos Alberto De Lucca, coordenador geral do curso preparatório Siga, esta é uma decisão muito pessoal. “Se por um lado, pedindo demissão do emprego o candidato ao futuro cargo público fica com mais tempo para estudar, a pressão em ser aprovado no concurso aumenta muito. É preciso avaliar bem a situação. Se o candidato quer se demitir para prestar um concurso que não tem data de publicação do edital, é necessário separar uma boa reserva financeira para que possa se manter pelo menos por um ano. Se o edital já foi publicado, e o tempo até a prova for por volta de 30 a 60 dias, existe a possibilidade de tirar férias vencidas, sem a necessidade de se demitir”, esclarece.


Para fazer valer a pena

Pisani não se arrepende em nenhum momento do que fez e diz que o período médio para se passar em um concurso é estimado em dois ou três anos. Com dedicação exclusiva, indo às aulas pela manhã e estudando o resto do dia, ele foi aprovado, em seis meses, num concurso (INSS) que considera intermediário.

“Como meus concursos objetivos finais (ICMS e Auditor Fiscal da Receita Federal - AFRF) ainda não tinham edital previsto, tracei alguns objetivos intermediários e consegui ser nomeado no concurso do INSS para analista do seguro social em março de 2008 e tomei posse em setembro. Fui aprovado em segundo lugar, uma classificação bem legal! Acertei 89% da prova que foi organizada pelo Cespe/UnB.

Acredito que só há vantagens no objetivo intermediário: serve como ‘test drive’ para ver como é o serviço público (eu só tinha trabalhado na iniciativa privada). A pressão por passar não é tão grande, na verdade ela diminui enormemente, dá uma sensação de ‘eu posso’; e é sempre bom voltar a ter renda. Por outro lado, o foco tem que ser mantido, pois fica fácil se acomodar”, justifica Pisani.

Medo

 

Nestes casos com certeza bate aquele friozinho na barriga, o medo de ficar sem trabalhar, estudar muito, gerar expectativas e acabar não sendo aprovado.

“Com o ritmo de estudos que tenho, não há desculpas para não passar. A expectativa fica muito alta, pois se não passar, fica aquela impressão de que não se poderia ter feito nada a mais. Por isso, ajuda muito não focar num só concurso. Acredito que ter mais de uma opção e objetivos intermediários auxiliam demais. Vale a pena lembrar que, no meu mercado de trabalho (administração e contabilidade) agências de headhunter nos procuram com bastante freqüência e sempre com propostas tentadoras, tem que estar muito bem resolvida a opção de ir para o setor público para não cair na tentação de voltar para o setor privado e não fazer direito nem uma coisa, nem outra”, relata Pisani.

De Lucca afirma que o concurso é um exame de seleção de pessoal, sendo que a aprovação do candidato depende da sua preparação. Por outro lado, o concurso é uma ação de médio prazo. Entre a divulgação do edital, realização das provas, análise de recursos, convocação e posse dos aprovados leva-se alguns meses.

“Outro detalhe importante é o prazo de validade do concurso que é de até dois anos, prorrogável por igual período. Assim, o candidato poderá ser chamado mesmo após quatro anos da realização de seu concurso. Então, é preciso levar este tempo em consideração antes de se demitir. Já com relação aos estudos, estes são sempre proveitosos. Se o candidato não passar inicialmente em um concurso, ele pode continuar estudando e participando de concursos até ser aprovado. O tempo que levará depende de sua preparação. Muitos candidatos aprovados em concursos com grande concorrência são casados, têm filhos, trabalham e estudam”, expõe De Lucca.

Rotina de estudos

 

Para conquistar a tão sonhada carreira pública é preciso traçar e seguir com disciplina uma rotina de estudos. No caso de Pisani, de outubro de 2007 até setembro de 2008 ele freqüentava as aulas de um curso preparatório das 9h às 12h e estudava em casa das 14h às 21h, com pausas de 15 minutos a cada 2h e uma pausa maior, de cerca de 1h às 18h. E desde 1º de outubro, ele começou a trabalhar das 8h às 14h. Então, estuda sozinho, em casa, das 16h às 21h. “Basicamente estudo teoria (cerca de 70% do tempo) ocupando o resto do período com exercícios de provas anteriores”.


“Se puder, é interessante o candidato participar de um bom curso preparatório e ter uma rotina rígida como se fosse o seu trabalho. Deve ser assíduo, participar das aulas e fazer uma agenda de estudos com todas as matérias dos concursos que estiver interessado”, aconselha De Lucca.


Juliana Dondo



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