Delegados entendem que não basta aumentar o efetivo de servidores na área administrativa; para 72,81% deles, é preciso também melhorar os critérios de divisão das tarefas investigativas e administrativas
Renan Abbade Publicado em 25/09/2013, às 11h25
Em pesquisa divulgada no dia 23 de setembro pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), constatou-se que para 98,37% da categoria, há um número insuficiente de servidores administrativos do Departamento de Polícia Federal (DPF).
Os delegados entendem que não basta aumentar o efetivo de servidores na área administrativa. Para 72,81% deles, é preciso também melhorar os critérios de divisão das tarefas investigativas e administrativas.
“Somos 11,5 mil policiais, enquanto há apenas 2,5 mil administrativos nos dando apoio. Isso é ilógico. Precisamos reorganizar a atividade administrativa. Caso contrário, continuaremos tendo de desviar policiais da atividade de investigação. E isso, do nosso ponto de vista, não é o que a sociedade espera”, disse o presidente da ADPF, Marcos Leôncio Ribeiro. Segundo ele, “o ideal seria que o DPF tivesse pelo menos o triplo” de pessoas na área administrativa.
Para o delegado, essa carência pode prejudicar o trabalho da PF nos grandes eventos previstos para o país, como a Copa do Mundo, no ano que vem, e os Jogos Olímpicos, em 2016, no Rio de Janeiro. “Esse é um dilema que a PF tem de enfrentar, porque, com o efetivo atual, ela não consegue fazer ao mesmo tempo segurança de grandes eventos e investigar. Precisamos, ou aumentar o efetivo para dar conta das duas atividades, ou priorizar o que acreditamos que a sociedade brasileira realmente quer”, disse Ribeiro.
O presidente lembrou a visita do papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, e a Copa das Confederações, eventos que ocorreram em meados deste ano, e questionou: “O que queremos? Que a PF seja uma polícia que investiga ou que participe dos grandes eventos? Do nosso ponto de vista, a sociedade quer uma polícia que investigue.”
Na opinião de Ribeiro, a Polícia Federal, tem “boa” estrutura física. “Nosso grande problema está na gestão de recursos humanos, nas relações interpessoais e no cuidado com o que há de mais valioso na Polícia Federal, que é o seu servidor, tanto policial quanto administrativo.
Segundo ele, a consequência do baixo número de servidores administrativos é que não há ninguém cuidando dessa que é uma das atividades mais estressantes do mundo. "Não temos acompanhamento psicológico para o caso de policiais que, no desempenho da atividade ou em legítima defesa, disparam contra alguém. Não é à toa que, nos últimos dois anos, houve 25 suicídios de servidores do DPF. Destes, pelo menos dois eram delegados”, ressaltou.
Para Ribeiro, dois fatores explicam o alto índice de suicídios no departamento: a facilidade de acesso a armas e a “insensibilidade do DPF” para enxergar que o servidor enfrenta problemas. “Se houvesse acompanhamento psicossocial, pela nossa área administrativa, esse índice certamente seria menor, porque o uso da arma poderia ser vetado”, acrescentou o delegado. Para 56,74% dos pesquisados, faltam profissionais de psicologia e assistência social em seus locais de trabalho. "O número de policiais deprimidos ou vítimas de alcoolismo também assusta", acrescentou Ribeiro.
Os delegados demonstram, porém, satisfação com as condições de trabalho. Para 51%, o espaço físico é adequado e são satisfatórios, em termos de quantidade e qualidade, os armamentos e coletes (66,43% dos entrevistados), material de expediente (67,98%), equipamentos de telefonia e fax (76,13%) e veículos usados pela corporação (43%). “São números considerados positivos, principalmente porque, no passado, eram muito piores”, disse Ribeiro.
“Apesar de, em geral, os serviços de segurança e incêndio dos prédios da PF terem boa qualidade, chama a atenção o fato de a sede (localizada em Brasília) não ter escadas de incêndio. Preocupa-nos também a terceirização dos serviços de tecnologia da informação porque isso representa risco (à segurança de informações consideradas sigilosas)”, completou o dirigente da ADPF.
Concurso à vista
A Polícia Federal tem autorização para divulgar, até o dia 22 de novembro, o edital do concurso que vai preencher 566 oportunidades em diversas carreiras da área administrativa. A liberação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) foi disponibilizada na edição do dia 22 de maio do Diário Oficial da União e estabelecia o limite de seis meses para a divulgação do documento.
As ofertas estarão distribuídas entre os cargos de agente administrativo (534), engenheiro (11), administrador (4), psicólogo (3), arquivista (2), assistente social (7) e contador (5). Para a primeira função, os candidatos deverão ter completado o ensino médio. Os demais postos exigirão nível superior na área escolhida.
De acordo com a última tabela de remuneração dos servidores federais, o vencimento para agente administrativo, com as gratificações, é de R$ 3.443,98. Já as carreiras de nível superior contam com salário de R$ 5.946,85. As jornadas de trabalho são de 40 horas semanais.
A última seleção para a área administrativa da Polícia Federal ocorreu em 2004, organizada pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB). Na ocasião, foram disponibilizadas 1.638 oportunidades divididas entre os cargos de administrador, arquiteto, arquivista, assistente social, bibliotecário, contador, enfermeiro, engenheiro (civil, de aeronaves, de telecomunicações, eletricista e mecânico), estatístico, farmacêutico, médico (cardiologista, ortopedista e psiquiatra), médico veterinário, nutricionista, odontólogo, psicólogo (clínico e organizacional), técnico em assuntos culturais, técnico em assuntos educacionais (educação física, filosofia, sociologia e pedagogia), técnico de comunicação social (jornalismo e relações públicas), agente administrativo, agente de comunicação social, agente de telecomunicações e eletricidade, auxiliar de assuntos educacionais, auxiliar de enfermagem, desenhista, operador de computador, programador e técnico em contabilidade. Os candidatos passaram por provas objetivas com 120 questões, sendo 50 de conhecimentos básicos e 70 de conhecimentos específicos. A validade do processo seletivo expirou em 9 de setembro de 2006.
Em outubro de 2010, a PF havia solicitado ao MPOG a liberação de 1.352 vagas, distribuídas entre as carreiras de agente de polícia (396), escrivão (362), agente administrativo (328), papiloscopista (116) e delegado (150).
Com informações da Agência Brasil
A Polícia Federal tem origem em 10 de maio de 1808, quando a Intendência-Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil foi criada, por D. João VI. O órgão tinha as mesmas atribuições que tinha em Portugal. Com o decreto 6.378, de 28 de março de 1944, a antiga Polícia Civil do Distrito Federal, que funcionava no Rio de Janeiro, no governo de Getúlio Vargas, foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), subordinado ao Ministério da Justiça e Negócio Interiores. Posteriormente, em 13 de junho de 1946, com o decreto-lei 9.353, foi atribuída competência ao DFSP, em todo território nacional, para serviços de polícia marítima, área de fronteiras e apurações de diversas infrações penais.