- O que faria você voltar a Londres? - Neste momento nada! Assim começa um diálogo com um inglês que está no Brasil desde 2006.
Redação Publicado em 05/04/2012, às 15h53
- O que faria você voltar a Londres?
- Neste momento nada!
Assim responde Tim Lucas, inglês que decidiu instalar uma agência em terras brasileiras. Ele diz que sente falta dos sobrinhos, da cerveja quente, do críquete e dos restaurantes tailandeses, mas acrescenta que os ganhos com a mudança são bem maiores que as perdas.
O londrino possui uma empresa com foco na percepção do consumidor, na estratégia de marca e em pesquisa aplicada, a “The Listening Agency”. Tim enxergou a oportunidade aqui no Brasil e não hesitou em se mudar. “No exterior, o mercado de planejamento e pesquisas já estava mais desenvolvido quando vim para cá. Só nos últimos anos que o Brasil passou a ter esse ‘luxo’”. Logo ele se explica: “Não é que estou querendo falar que as empresas aqui são atrasadas ou piores, mas sim que elas funcionam com padrões diferentes. O Brasil está aprendendo agora como usar pesquisa, e é aí que nosso trabalho faz uma grande diferença”.
Ele diz que um dos desafios que enfrentou foi o idioma, mas “apesar da dor de cabeça é um prazer conhecer outra língua e uma outra cultura”. O empreendedor que está no país há seis anos e ainda não se sente muito brasileiro, porém nunca se sentiu muito inglês, reclama da burocracia: “ainda enfrento dificuldades, meu documento até agora não saiu. Vejo isso como uma barreira grande para o desenvolvimento do país. Apesar da falta de executivos no ramo e o crescimento do país as dificuldades no sistema são enormes”.
Ele deixa três recados para os estrangeiros que pretendem se mudar para esta nação: “o bom é tentar chegar aqui com um mínimo do português, ou ao menos com a intenção de estudar. Acho que a pessoa que vem para cá e não consegue falar a língua para se comunicar e interagir com as pessoas vai ter uma experiência limitada. Segunda coisa, prepare-se para a burocracia. Terceira, muitas pessoas que chegam, depois que passa aquela fase de achar o Brasil um país tropical maravilhoso, acabam conhecendo melhor o país e começam a criticar o Brasil tanto quanto os brasileiros! É bom lembrar que o Brasil, como qualquer outro país, tem o lado bom e o ruim. Porém, eu garanto que vai ser difícil pensar em sair do Brasil quando o conhecer”.
O empresário, além de cuidar da agência, ministra aulas sobre comportamento do consumidor na pós-graduação em mídias sociais da Fundação Armando Álvares (FAAP). “Adoro fazer isso, pois passei alguns anos trabalhando somente com o lado comercial. Os alunos, na maior parte, são jovens jornalistas ou trabalham em agências de propagandas, tantos as tradicionais quanto as digitais, sendo assim, além de conhecer a nova geração de influenciadores de São Paulo, há sempre uma boa troca de conhecimentos, eles sempre têm bons materiais para compartilhar”. Ele afirma que a boa educação hoje em dia está muito menos didática e muito mais para uma boa conversa.
Tim é formado em geografia social na Universidade de Manchester e realizou doutorado em antropologia cultural e geografia social em Sheffield e Santa Cruz, na Califórnia. Formou-se doutor aos 24 anos de idade, mas justifica a precocidade dizendo que na Inglaterra o sistema é mais rápido.
Ele já tem um filho brasileiro de dois anos e sua esposa espera uma menina. “Muitos pais criam um ambiente de medo e expectativa para os filhos; quero evitar isso. Quero muito que eles tenham oportunidade de viajar e crescerem abertos a pessoas diferentes, porém são eles que vão definir seus próprios caminhos”.
Quando pergunto a ele se alguma vez na vida pensou em ter outra profissão, o professor, brincando, enumera algumas vontades: “ainda não sei o que quero fazer da vida quando crescer. Já tive fase de cantor em uma banda na época da faculdade e gostaria muito de fazer algo assim novamente. Estou tentando escrever um livro sobre o Brasil agora. Tenho também uma coluna no Meio & Mensagem sobre as Olimpíadas em Londres, gosto da oportunidade de escrever. Mas se eu pudesse fazer uma outra coisa, eu abriria um restaurante ‘curry’ ou seria ciclista profissional”. E finaliza: “Bom é sempre sonhar!”.
Carolina Pera