A emoção de rever Elis

O rico arquivo das TVs brasileiras volta a ser objeto de desejo. Uma coleção de três DVDs pela EMI recupera nú

Redação   Publicado em 02/03/2007, às 15h45

Box com três DVDs recuperam especiais da cantora nos anos 70



por Beto Feitosa



O rico arquivo das TVs brasileiras volta a ser objeto de desejo. Uma coleção de três DVDs pela EMI recupera números gravados por Elis Regina nos anos 70 para a TV Bandeirantes. Juntos em um box ou vendidos separadamente, os novos discos tiram poeira e eternizam digitalmente grandes momentos da cantora e seus parceiros de palco e estúdio.

O interesse pela obra de Elis Regina parece não diminuir. Mesmo 25 anos após sua morte, lançamentos com material de arquivo, coletâneas e novas edições de seus LPs mantêm acesso o interesse de público e da imprensa. Com o foco da data redonda, vários títulos ganham as lojas, muito se comenta e se ouve. Elis está sempre em voga.

As imagens apresentadas no DVD foram produzidas entre 1973 e 1981, incluindo aí a última vez em que cantou na TV, em 30 de dezembro de 81, em uma magistral interpretação de O trem azul. A compilação é assinada por Roberto de Oliveira, diretor dos programas originais, hoje assinando ricas coleções com a memória de nossos maiores artistas.

Estão nos números clássicos eternos de Elis como Dois pra lá, dois pra cá, Aos nossos filhos, Me deixas louca, Atrás da porta, É com esse que eu vou entre outros. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira é representado por um bloco que resgata o histórico show Falso brilhante, superprodução que ficou em cartaz por 14 meses no Teatro Bandeirantes.

De temperamento forte e indiscutível critério artístico, Elis não aceitava dividir a cena com qualquer um. Ao longo dos três DVDs a cantora aparece em imagens de estúdio com Tom Jobim, que mostra para ela Na batucada da vida, composição de Ary Barroso que a cantora viria a gravar no mesmo ano. Tom Jobim também está ao lado de Elis em Céu e mar, música de Johnny Alf. As imagens fazem parte do especial de 1974 que mostrava as gravações do álbum Elis e Tom.

Uma então iniciante Fátima Guedes aparece dividindo com Elis a sua composição Meninas da cidade. Elis também recebia João Bosco para cantar Plataforma. Um tímido Chico Buarque está em Pois é, em cena da inauguração do teatro Bandeirantes, em 1974.

Em 1978 Elis Regina encontra o samba paulistano de Adoniran Barbosa em uma mesa de botequim do Bexiga. Passeia com o compositor pelo bairro até resolver entrar em uma discoteca. Lá encontra Rita Lee e, juntas, cantam Doce de pimenta, homenagem de Rita e Roberto para a amiga.

A parceria musical com o marido César Camargo Mariano está em todos os DVDs. Em números intimistas ou comandando grandes bandas, o músico brilha em arranjos que valorizam a voz e a inteligência musical de Elis Regina. No primeiro DVD a dupla esbanja sintonia em um medley que junta O que tinha de ser e Tatuagem.

O grande escorregão dessa compilação está no final do último DVD. Apelando para emoções não-musicais, a edição mostra momentos do velório de Elis, chegando a focalizar o rosto da cantora no caixão. A imagem teria valor em um documentário, mas não em um musical recheado de momentos alegres e saudades de Elis viva e ativa.

A mesma Bandeirantes já havia resgatado parte desse material em um VHS nos anos 80 que, com o tempo, tornou-se artigo raro de colecionador. Agora voltam 51 números em novo tratamento. Se a imagem nem sempre é das melhores, visto a deterioração das antigas fitas magnéticas, o áudio mereceu um caprichado tratamento e está impecável. A emoção de ver Elis em ação sozinha ou ao lado dos parceiros é imensa e prova que o que realmente tem qualidade e valor artístico resiste ao tempo.


* Texto extraído, na íntegra, do site Ziriguidum (www.ziriguidum.com).