Artigo sobre marketing, mercado e trabalho
Kate Domingos Publicado em 29/02/2016, às 09h56
Há uma enorme diferença entre “ser” e “parecer ser”. Na busca pelo “parecer”, muitos profissionais acabam por florear, maquiar seus currículos, realizações, trajetória e, muitas vezes, utilizam técnicas ligadas ao marketing pessoal para atingir tal intento. Isso tem, ao longo do tempo, denegrido a imagem desta útil ferramenta. Que tal resgatarmos a reputação dela e a nossa? É hora de aprendermos um pouco sobre o verdadeiro marketing pessoal. É urgente que aprendamos sobre autenticidade!
No atual mercado de trabalho e sociedade, ser bom em sua atividade profissional nunca mais será o suficiente. Ser o melhor? Tampouco. É necessário “mostrar”, fazer crer que é assim. Estamos falando aqui da grande e dialética questão existente entre “ser” e “parecer ser”. O mercado suplica por profissionais, líderes, ídolos que o convençam de sua capacidade. Ser bom no que faz já não basta, é preciso ser bom em demonstrar os próprios talentos e habilidades. É preciso atitude! É imprescindível ser excelente na arte do convencimento a ponto de gerar, nos outros, a convicção de que você é bom no que faz. Estamos diante de uma nova verdade universal, é necessário aceitá-la e acolhê-la se quisermos nos manter no jogo.
O grande desafio para os profissionais de hoje é fazer isso sem dissimulação, exageros, demagogia, fazer isso com verdade, autenticidade. E são os benefícios dessa autenticidade que precisamos entender para de fato ganharmos uma vantagem competitiva nesse mercado em que diplomas, línguas e experiências estão cada vez mais perto de se tornar commodities.
Google, Apple, Sony, Microsoft são alguns exemplos de empresas globais que já reformularam seus processos seletivos completamente voltando-os à procura de autênticos. A título de ilustração, podemos citar o emblemático processo seletivo da Cervejaria Heineken que se tornou case para as áreas de Marketing e Recursos Humanos. A empresa escolheu, entre milhares de candidatos, seu último trainee, ao simular uma emergência médica e um incêndio no prédio sede da empresa. O candidato, que imaginava estar sendo convidado para uma entrevista convencional, ficava no mínimo surpreso quando seu entrevistador começava a passar mal, pouco antes de o alarme de incêndio do prédio soar. Para que tal teatro?
Tornou-se trainee da empresa o profissional que soube agir com maior autenticidade e pró-atividade, sendo capaz de tomar atitudes humanas, éticas e altruístas diante de tais situações, ainda que elas parecessem embaraçosas ou oferecessem risco. Muitos perderam a oportunidade porque estavam ocupados dissimulando sobre sua trajetória e currículo num mundo em que a atitude autêntica é mais importante.
E o que é, afinal, ser autêntico? O verdadeiro marketing pessoal nos ensina a enaltecer nossa jornada, talentos e habilidades sem demagogia, o que significa mostrar-se sim; não mostrar para parecer ser o que não somos, mas para garantirmos que o que realmente somos não ficará oculto. Existem hoje, no mercado de trabalho, muitos profissionais que não se beneficiam da meritocracia porque não são capazes de levar o mundo a conhecer seus talentos, o que fazem é escondê-los atrás de pilhas de processos e cargos pouco estratégicos quando na verdade podem muito mais.
Além de valorizar-se e mostrar-se com veracidade, é preciso ser coerente e fiel a suas convicções: dizer que apoia uma causa ou projeto não pode ser diferente de vivenciar realmente essa causa. Pois o contrário só levaria a um discurso vazio e pouco persuasivo. O mundo não precisa de mais hipócritas que fingem participar de iniciativas socioambientais. As empresas também não.
As corporações estão dispostas a ensinar habilidades técnicas, mas procuram pessoas prontas em suas atitudes. Em um mundo corporativo que parecia corrompido pela competitividade selvagem e pela retórica vazia, os autênticos despontam como uma joia. É hora de investirmos em nós como pessoas, em nossos conhecimentos humanísticos, em nossas mais nobres convicções, pois hoje ser profissional é, antes de tudo, ser humano! Ser autêntico é importante e “parecer ser” com autenticidade é mais ainda!
Kate Domingos é publicitária pela USP, docente e consultora em Marketing e Comunicação. Contato: kate@concrie.com