Especialistas em recursos humanos alertam que nem todas as empresas são receptivas à novidade e apenas um equívoco pode ser determinante para a desclassificação do candidato
Douglas Terenciano Publicado em 03/06/2016, às 11h21
Com as disputas por uma vaga de emprego, estágio ou trainee, cada vez mais acirradas no mercado de trabalho, muitos profissionais optam por um currículo criativo e, quem sabe assim, despertar o interesse do empregador. Em tempos de crise econômica, pode ser uma alternativa interessante, mas será que vale a pena arriscar? Pensando nisso, o JC&E conversou com especialistas de recursos humanos para saber como e quando é válido utilizar a criatividade no currículo, que é considerado o principal cartão de visita do candidato.
Seja de maneira diferente ou tradicional, a elaboração de um bom currículo deve ser utilizada na trajetória da vida profissional com palavras objetivas e de destaque. Neste momento, as características pessoais de cada pessoa devem ser valorizadas. “Nem toda atividade é executada da mesma forma e cada profissional possui sua expertise para essa realização. O bom uso da criatividade será o diferencial para que o selecionador (a) queira conhecer o candidato que enviou o currículo”, explica Josiane Butenas, selecionadora da Employer, consultoria especializada em recrutamento de profissionais.
Antes que trabalhadores ou estudantes já comecem a pensar em como diferenciar seu currículo, vale ressaltar que nem todas as empresas são receptivas à novidade. “Tudo vai depender da companhia que o profissional está se candidatando. Ele deve sempre se atentar para a cultura da empresa e o tipo de trabalho, pois com certeza irá se prejudicar se não considerar a forma como a empresa lida com algo que foge dos procedimentos tradicionais”, afirma Daniela do Lago, coach de carreira e professora da Fundação Getúlio Vargas. Não existe um cargo ou setor específico, mas “algumas áreas são tidas como mais abertas a receber e lidar com seleção diferenciada como startups e empresas ligadas aos segmentos de publicidade, comunicação, marketing de massa, entretenimento e televisiva”, acrescenta.
A prática de enviar caixas, pôsteres, cartões personalizados e até brindes pode ser rotineira em empresas de comunicação, mas a recrutadora Josiane enfatiza que basta um equívoco para que o currículo diferente deixe de ser atrativo e torne-se o motivo da desclassificação do candidato. “Lembre-se que para cada vaga que concorre, existem profissionais com a mesma qualificação e outros com qualificação superior, então demonstre a sua especialização. Para cargos de designer e estilista, por exemplo, podem mostrar o quão criativos são com apresentação em gráficos e portfólios bem elaborados, onde expressam seu foco e objetivo”, salienta.
Com a propagação e facilidade de acesso a sites segmentados como YouTube e Vimeo, aliado ao baixo custo de produção, já que muitas pessoas utilizam o próprio celular para gravar conteúdo, uma das novidades na área de recursos humanos é o vídeo-currículo. A iniciativa é válida, no entanto, se o selecionador não utilizar esse recurso, não terá diferença no resultado. “Quando for necessária essa opção, procure sempre ambientes sem ruídos para a gravação e da mesma forma cuide da sua apresentação pessoal”, orienta Butenas.
Daniela ressalta para que o candidato apenas envie vídeo se o empregador solicitar. “Deve-se observar a cultura da empresa e o tipo de vaga que está procurando para que não sirva de exemplo de como não fazer no mercado. Em um mundo competitivo, fazer algo diferente pode te ajudar, mas cuidado para não perder ‘a mão’ e ser prejudicado pela falta de noção. Até hoje, em minha prática no mercado, há mais de 13 anos, não presenciei ninguém que tenha sido contratado por se arriscar apenas em um vídeo-currículo, salvo em empresas do ramo de entretenimento e televisiva”, afirma a coach.
Outra modernidade que pode atrapalhar os planos de muitos candidatos em busca de uma vaga é o excesso de praticidade. Atualmente, não é raro profissionais enviarem apenas o link do perfil no LinkedIn, rede social que serve como currículo on-line, ao invés do modelo tradicional. Sobre o tema, Daniela foi taxativa: “não recomendo que enviem somente o link do LinkedIn. O ideal é que insira as informações das redes sociais no currículo. Enviar somente o perfil do LinkedIn (exceto casos em que for expressamente solicitado pela empresa), pode dar impressão de preguiça e que o profissional coloca a responsabilidade somente no selecionador”.
Outro ponto a ser observado pelo candidato é saber se quem receberá o currículo diferente está realmente preparado para avaliar esse formato. “Se o selecionador não estiver apto para analisar, mesmo que você atenda todos os requisitos e possua todas as habilidades necessárias, não terá a mesma eficácia e poderá ser desclassificado. Na dúvida, envie os dois modelos”, completa Josiane.
Independente do formato escolhido, alguns cuidados são primordiais para não desperdiçar uma boa oportunidade no mercado. O excesso de texto ou acrescentar habilidades que não correspondem ao seu domínio podem prejudicar. “As informações devem ser sempre precisas e ao informar que possui certo conhecimento, sendo contratado, será cobrado pela realização do mesmo. Se desconhecer, não terá sucesso ao desempenhar a atividade”, explica Butenas.
Mesmo que já amplamente conhecidos por boa parte da população, muitos profissionais ainda tropeçam em equívocos considerados comuns e acabam colocando informações desnecessárias no currículo. Daniela do Lago alerta os candidatos para evitar inserir “preferências sobre hobbies e interesses pessoais que não são ‘socialmente’ aceitos, como a participação de movimentos tidos como preconceituosos, partidos políticos e até práticas religiosas. Isso sem contar os erros de português que eliminam qualquer pessoa do processo seletivo”, diz.
Ambas as especialistas entrevistadas concordam que enviar o currículo é apenas a primeira etapa de um processo seletivo. Josiane comenta que a determinação do candidato será o grande diferencial. “Muitas vezes questionamos tanto as empresas sobre as exigências das vagas e salários baixos, mas no fundo não somos especialistas e depois que conquistamos a vaga, simplesmente nos acomodamos e não retornamos as qualificações. Seja diferente, amplie seu conhecimento e torne-se especialista em sua área”, incentiva.
Daniela emenda sobre a importância deste contato inicial. “Vale ressaltar que o currículo serve apenas como uma ‘isca’ para despertar o interesse do selecionador em te conhecer pessoalmente. O objetivo é conquistar uma reunião presencial, porque pessoalmente você poderá expor melhor suas ideias, responder melhor as perguntas, fazer perguntas sobre o trabalho e descrever as razões que está se candidatando àquela empresa. Cuide bem da forma que coloca as informações para que sua ‘isca’ seja apetitosa!”, finaliza.
Considerada um dos momentos mais decisivos do processo de seleção profissional, a entrevista de emprego oferece ao recrutador a possibilidade de conhecer as habilidades técnicas e comportamentais do candidato, além de saber o que o concorrente espera da organização e de que forma poderá contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais. Por outro lado, o entrevistado tem a chance única de fazer uma boa apresentação pessoal, o que poderá colocá-lo à frente dos demais que disputam a vaga.
A principal recomendação para o candidato é apresentar-se de forma positiva, expondo com clareza suas habilidades e evidenciando seus objetivos profissionais. Geralmente, as companhias esperam que o postulante possua as competências para a vaga solicitada e, é exatamente no momento da entrevista, que essa qualificação será avaliada.
Antes da entrevista, a dica é pesquisar sobre as missões e valores da empresa e fazer uma lista de perguntas que poderão ser feitas pelo entrevistador para tentar respondê-las. Outro ponto determinante é relacionar seus pontos fortes e fracos, procurando soluções para minimizar os desfavoráveis. Além disso, é fundamental buscar informações sobre a vestimenta adequada para o ambiente em questão e o acesso ao local da entrevista, evitando chegar atrasado.
Na hora da entrevista, seja transparente e responda de forma tranquila, sem mentiras ou exageros. Tente apontar suas virtudes de maneira sincera e especifique as qualidades para o cargo desejado, sem exceder o limite de seu potencial. Também é importante evitar falar mal da empresa ou dos colegas com quem trabalha ou trabalhou e, em hipótese alguma, coloque no currículo ou crie histórias que não poderão ser comprovadas.