Saber mais sobre a empresa evita falsas expectativas

Antes de participar de processos seletivos para oportunidades na iniciativa privada, especialistas recomendam que candidatos pesquisem informações sobre a cultura das companhias

Douglas Terenciano   Publicado em 16/06/2015, às 11h26

Anualmente, milhares de estudantes participam de processos seletivos em busca da sonhada oportunidade de estágio, aprendiz ou trainee. Mesmo sem ter garantias de sucesso, os jovens encaram longas e exaustivas etapas de seleção. Muitos se preparam, treinam o inglês e passam horas tentando adivinhar as temidas perguntas dos recrutadores e quando conquistam seu objetivo, simplesmente desanimam e/ou desistem da vaga. Afinal, o que acontece? Especialistas ouvidos pelo JC&E acreditam que um dos motivos desse desapontamento repentino pode ser a falta de informação. Conhecer a cultura da empresa é fundamental e ajuda a evitar falsas expectativas.

Recentemente, duas das principais companhias da indústria da tecnologia, Google e Facebook, foram apontadas como lugares ruins para se trabalhar por funcionários e ex-funcionários. A informação, publicada em fevereiro pelo site americano Business Insider, chamou muito a atenção porque ambas as empresas costumam liderar as listas de locais dos sonhos dos jovens.

Se os profissionais em questão soubessem a rotina das corporações antes de assumirem os cargos, talvez nem se candidatassem. Decepções existem em todos os setores e são muito comuns, não sendo privilégio apenas do Google ou do Facebook. Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas, recomenda buscar o máximo de informação possível. “A primeira coisa que deve ser sempre lembrada por quem está procurando emprego ou participando de processos seletivos é que ao ser chamado para uma entrevista, não se iluda com nomes ou status da organização, procure saber antecipadamente, mesmo que seja de maneira informal, como é o ambiente de trabalho. Como são as pessoas, qual o ritmo de trabalho, como se medem resultados, o que é bem ou mal visto no dia a dia, que estilo de pessoas é promovido, como são os chefes e assim por diante”, afirma.

De acordo com Eraldo Vieira, especialista em recrutamento do portal Webestágios, o trajeto até o local de trabalho também deve ser pesquisado. “É importante saber como faz para chegar até lá. Se for de própria condução, qual o melhor caminho, ou se for de transporte público, qual ônibus ou Metrô que deve pegar”, comenta. É comum estagiários desistirem de ótimas oportunidades, até mesmo em grandes empresas, devido a distância entre o local em que atuam e a universidade.

Diferença

Pessoas muito diferentes do clima e da cultura organizacional podem sofrer uma pressão enorme e, consequentemente, não conseguir render o necessário. Naturalmente, a ocasião acaba sendo ruim tanto para o profissional quanto para a companhia. Quando alguém se sente parte da cultura da empresa, a tendência é de que o rendimento em suas respectivas atividades aumente, sem que nenhum esforço seja feito.

Eduardo explica que “se você é uma pessoa calma, formal, concentrada, que gosta de fazer uma coisa de cada vez, e entra em uma empresa sem rotinas definidas, com muita pressão e comandada por pessoas ansiosas e agressivas, certamente não conseguirá se adaptar. O mesmo acontecerá se você for uma pessoa extrovertida, sociável e criativa e trabalhar em uma organização onde as normas são rígidas, o ambiente é formal e os relacionamentos pessoais são pouco valorizados”, diz. Em ambos os casos, o profissional terá de passar os dias se controlando e sofrendo em um ambiente com uma cultura completamente diferente daquela em que se sentiria feliz.

A falta de preparo para assumir determinado cargo ou a incompatibilidade do profissional com a rotina cultural da empresa reflete na área de recursos humanos. O ano de 2015 promete ser um dos mais agitados no que se refere a processos seletivos. Pelo menos é o que aponta a pesquisa da Right Management, consultoria especializada em gestão de carreira e talentos. No estudo, 86% dos entrevistados afirmaram que pretendem mudar de emprego ainda neste ano. “Muitos jovens executivos, em busca de rápida ascensão na carreira, não criavam vínculos com as instituições e enxergavam que novos desafios eram relacionados a novas oportunidades”, afirma André Rapoport, diretor geral da Right Management no Brasil.

Ainda de acordo com os dados, 8% dos participantes responderam que se mantêm atentos às oportunidades do mercado e talvez procurem novos caminhos profissionais. Já para 5% das pessoas, uma mudança de emprego não é urgente, no entanto, atualizaram seus currículos caso uma boa vaga apareça. Por fim, apenas 1% dos entrevistados na pesquisa alegaram que pretendem seguir em seus atuais cargos e empresas.

Vantagem na seleção

O candidato que procurou e pesquisou antes sobre a companhia pode ter um diferencial no processo seletivo, ressalta Eraldo. “Ele estará mais antenado com o ramo de atividade da empresa, aos procedimentos internos e saberá se vai se adaptar melhor à cultura organizacional. O profissional de recursos humanos percebe que a pessoa buscou conhecer melhor a organização e essa atitude demonstra mais interesse na vaga. Isso vale muito na hora de escolher o candidato”.

Para quem não sabe por onde começar, Vieira aconselha a internet, ao menos em um primeiro momento. “É o caminho mais rápido e fácil para buscar as informações. Vale visitar o site da empresa e ver se tem imagens. Verificar com a pessoa que o chamou se ela pode passar mais informações sobre a vaga também é válido”, finaliza o especialista.

Redes sociais

Segundo pesquisa da consultoria Universium, em parceria com a CNN Money, 49% das pessoas buscam mais detalhes sobre o empregador nas redes e comunidades sociais. O estudo entrevistou estudantes de diversas áreas em 12 países, incluindo o Brasil.

Ainda de acordo com o levantamento, o segundo lugar na preferência é para os sites de carreiras das companhias, com 40%. Para Andressa Schneider, responsável pelo conteúdo do site 99jobs.com, a procura por informações sobre as organizações é essencial. “Muito mais do que guiar-se por uma descrição de cargo, é necessário entender que organização é aquela, e quem trabalha lá”, defende.

Tentar reunir um leque de informações, como vídeos, avaliações, missão, valores, se o lugar é formal ou informal e depoimentos de quem trabalha na área pode fazer a diferença, afirma Andressa. “Queremos que, com isso, as pessoas explorem aquele ambiente, vejam se combina com elas e se vai ser agradável passar os dias naquele tipo de lugar. Afinal, saber com quem você vai fazer é tão importante quanto saber o que você vai fazer”, conclui.

Dica

Como elaborar um currículo sem gafes

Quando se está em busca de uma colocação no mercado de trabalho, o currículo é o seu primeiro contato com a empresa a qual se candidata. Por isso, a elaboração do documento sem equívocos e/ou exageros é fundamental para despertar o interesse do selecionador em entrevistá-lo.

De acordo com Cida Bucater e Luiz Eduardo Gasparetto, ambos especialistas em recursos humanos, um currículo deve ser claro, objetivo, de fácil entendimento e de leitura agradável. Caso contrário, mesmo um profissional bem qualificado pode ser eliminado logo no início do processo seletivo.

Confira, a seguir, cinco dicas para turbinar o seu currículo:

1 – É  preciso descrever com clareza sua experiência, por menor que seja. E este deve ser o primeiro tópico logo após o nome e as informações para contato.

2 – A seguir, apresente sua formação acadêmica iniciando pela maior titularidade, por exemplo: pós-graduação e graduação. Neste caso, cite o ensino médio apenas se for técnico.

3 – Apresente o histórico profissional, informando:

Nome da empresa anterior – caso seja uma companhia desconhecida é conveniente uma pequena apresentação (exemplo: empresa de serviços logísticos para indústrias alimentícias);

Cargo – cite as funções que ocupou e os períodos de tempo em anos e/ou meses;

Período – mês e ano são suficientes para indicar a admissão e saída de cada empresa; cursos de extensão ou de aperfeiçoamento, destaque aqueles mais relevantes ou ligados diretamente à vaga a qual se candidata;

Informações adicionais – a inclusão de idiomas e informática; destaque atividades e experiências que realmente ampliem a sua visão profissional e pessoal que trouxeram vivências específicas para a oportunidades em questão.

4 – Evite autoelogios, descrição pessoal (exemplo: peso, altura ou religião), viagens de turismo ou citações religiosas, filosóficas e/ou de autoajuda.

5 – Envie fotos apenas quando solicitado e, neste caso, uma foto do tipo 3x4 com roupas, acessórios, cabelos e maquiagem discretos.