Saiba mais sobre o fenômeno "the great resignation" e como ele traz desafios ao recrutamento e seleção no país
Douglas Terenciano Publicado em 03/04/2023, às 10h36 - Atualizado às 10h41
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam quase 12 milhões de desempregados no país. Contudo, ao mesmo tempo, um terço das demissões tem sido voluntárias, ou seja, profissionais que “pediram a conta” em seus empregos, de acordo com levantamento da LCA Consultores. Ainda de acordo com os números, mais de 600 mil brasileiros abriram mão de posições estáveis em apenas um mês!
Esse fato é curioso e soa contraditório. Afinal, há desemprego, mas pessoas estão largando seu trabalho. E não se trata de um movimento pontual, mas sim que o Brasil vem experimentando o fenômeno “the great resignation”, em expansão em boa parte do planeta. Em tradução livre, o termo significa “grande renúncia”. Na prática, reflete que pessoas insatisfeitas não exclusivamente com o trabalho, mas com o modo de vida que levam, decidem pedir demissão. “As pessoas estão encontrando no abrir mão do emprego e tentativa de novas experiências um caminho para buscar satisfação e felicidade”, pontua o executivo Márcio Monson, fundador e CEO da Selecty, empresa curitibana de tecnologia para recrutamento e seleção.
Monson avalia que o fenômeno traz desafios às organizações e, em particular, aos setores de recrutamento e seleção. “Os dados, as notícias recentes e a vivência prática mostram que ‘the great resignation’, onda verificada nos Estados Unidos, na Europa, na China e na Índia, também já é realidade no Brasil. As organizações precisam estar preparadas, identificando como tornar as vagas que oferecem não só atraentes do ponto de vista da empregabilidade, mas da satisfação que proporcionam ao profissional”, explica.
Além disso, as expressões “big quit” e “great reshuffle” (“grande debandada” e “grande renúncia”) são outras formas de nomear a onda. Todas também mostram o que está por trás desse movimento, observa o CEO da Selecty. “É uma migração de pessoas, de seus trabalhos, muitas vezes bem remunerados e relativamente estáveis, para outros propósitos. Pessoas que consideram que certas atividades trazem menos dinheiro e status, mas geram mais felicidade, por exemplo”, completa.
Trata-se de um comportamento, ainda segundo Monson, bastante acentuado depois da pandemia da Covid-19. A crise fitossanitária forçou a mudança de hábitos, trouxe incertezas e medos, e fomentou reflexões. Nesse caminho, vieram decisões por rupturas, por alterar estilos de vida. “Recentemente, foi noticiado que, nos Estados Unidos, apenas em dois meses, 8,5 milhões de pessoas pediram demissão, sem ter outra vaga em perspectiva. E, aqui no Brasil, a constatação da LCA, de que, dos 1,8 milhão de desligamentos registrados apenas em um mês, mais de 600 mil (ou 33%) foram voluntários. São dados para serem observados e acompanhados com atenção”, sublinha o executivo da Selecty.
Afinal, continua ele, além de engrossar as estatísticas de desemprego, “the great resignation” costuma afetar principalmente postos-chaves, vagas que exigem qualificação profissional e outros atributos muitas vezes difíceis de serem encontrados no mercado de trabalho. “Os efeitos internos, nas organizações, e externos – na conjuntura econômica – devem ser mensurados, e seguramente são significativos”, projeta Monson.
Reverter o fenômeno passa por combater culturas tóxicas nas empresas, excesso de pressão, insegurança e falta de reconhecimento profissional. Costumam ser razões como essas – e menos aquelas ligadas ao salário, por exemplo – que motivam as “renúncias”, considera o CEO da Selecty. Ou seja, motivações de ordem psicológica e comportamental, acima daquelas ligadas a fatores materiais. “As organizações, de um modo geral, e os profissionais de recrutamento e seleção, em particular, precisam estar atentos a isso”, finaliza Márcio.
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