Nem-nem: 20,6% dos jovens brasileiros não estudam nem trabalham

Em 2023, 20,6% dos jovens brasileiros estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Entenda as causas e as possíveis soluções para essa questão alarmante

Victor Meira   Publicado em 05/09/2024, às 11h30

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O Brasil enfrenta um desafio significativo com a elevada taxa de jovens que não estudam nem trabalham, também conhecidos como "nem-nem". De acordo com um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 20,6% dos brasileiros nessa faixa etária encontravam-se nessa situação em 2023. Comparado a outros países da América Latina, o Brasil apresenta um número alarmante: na Argentina, essa taxa era de 15%, enquanto na Bolívia e no Chile era de 9,5% e 15,3%, respectivamente.

Para Virgilio Marques dos Santos, um dos fundadores da FM2S e especialista em gestão de carreiras, entender por que o Brasil lidera esse ranking indesejado requer uma análise aprofundada das condições econômicas e sociais.

Santos destaca que a desaceleração econômica dos últimos anos, agravada pela pandemia de Covid-19, contribuiu significativamente para o aumento do desemprego e para a falta de oportunidades educacionais de qualidade.

“A crise econômica e a pandemia intensificaram a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho e à educação”, afirma Santos.

O estudo da OIT também revela uma disparidade de gênero significativa entre os jovens "nem-nem". A cada três pessoas nessa condição, duas são mulheres. Esse desequilíbrio é, em grande parte, resultado de uma recuperação desigual no mercado de trabalho pós-pandemia, com os homens sendo reabsorvidos mais rapidamente.

“As mulheres jovens, especialmente as de baixa renda, enfrentam barreiras adicionais, como a responsabilidade desproporcional pelos cuidados domésticos e a falta de políticas eficazes de apoio à maternidade e à inserção no mercado de trabalho”, explica Santos.

A grande presença de jovens fora da educação e do mercado de trabalho não afeta apenas os indivíduos diretamente envolvidos, mas também tem impactos econômicos e sociais profundos. Essa situação resulta em uma perda de capital humano, reduzindo a capacidade produtiva do país e exacerbando as desigualdades sociais.

Santos alerta que “essa situação pode gerar um ciclo vicioso de exclusão e marginalização, dificultando ainda mais a inclusão dessas pessoas no futuro”.

Quando comparado a países como Argentina, Bolívia e Chile, o Brasil se destaca negativamente. Apesar de todos enfrentarem desafios socioeconômicos, a menor taxa de "nem-nem" na Bolívia e no Chile sugere que políticas mais eficazes de inclusão e desenvolvimento juvenil foram implementadas. A Argentina, embora também enfrente problemas semelhantes, mantém um número menor de jovens nessa situação.

Para enfrentar essa questão, Santos sugere uma abordagem multidimensional.

“É essencial fortalecer as políticas públicas que incentivem a educação e a qualificação profissional, especialmente para as mulheres. Programas de apoio ao primeiro emprego, parcerias público-privadas para a criação de estágios e aprendizagens, e incentivos à formalização do trabalho são fundamentais”, defende o especialista.

Além disso, é crucial desenvolver políticas de proteção social que permitam às mulheres participar plenamente do mercado de trabalho, como creches acessíveis e licença parental mais equitativa. Investir em educação de qualidade e em oportunidades de qualificação para os jovens, especialmente os mais vulneráveis, é essencial para evitar que continuem à margem da sociedade.

A situação dos jovens "nem-nem" no Brasil é um sintoma de problemas mais profundos no tecido socioeconômico do país. Resolver essa questão exigirá um reconhecimento das falhas sistêmicas e uma vontade política de implementar mudanças significativas. Sem isso, o risco é perpetuar um ciclo de pobreza, exclusão e falta de oportunidades, condenando uma parte significativa da população jovem a um futuro incerto e limitado.

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