Geofísica

Nesta semana, a seção "Profissões & Cursos" trata da carreira do Geofísico. Ainda pouco conhecida do público em geral, essa modalidade possui, hoje em dia, uma demanda de emprego maior do que o número de profissionais capacitados na área. Para falar sobre o assunto, o JC&E convidou a coordenadora do curso de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, professora Liliana Alcazar Diogo. Confira.


JC&E –O que faz o profissional dessa área?
Profª Liliana Alcazar Diogo (IAG/USP) – O Geofísico é um profissional que investiga o planeta Terra utilizando o que chamamos de métodos indiretos. Ele obtém informações sobre as estruturas e materiais em subsuperfície através de medidas de parâmetros físicos, como densidade, temperatura, susceptibilidade elétrica, entre outras, efetuadas na superfície. As medidas podem ser em terra ou dentro de barcos (em rios e no mar), em aviões e em satélites.

JC&E –Onde ele pode atuar?
Profª Liliana – São diversas as áreas de atuação da Geofísica: em empresas de exploração de petróleo e de mineração; em empresas que prestam serviço para estudos de meio ambiente e de problemas de contaminação do subsolo, para exploração de água, para apoio em grandes obras de engenharia civil, no uso do subsolo em áreas urbanas. Na área acadêmica, o Geofísico realiza pesquisas tanto no estudo do planeta quanto na área de aplicações. Ele investiga e busca explicar a forma e dinâmica do nosso planeta: como e porque ocorrem terremotos, os continentes se movem, montanhas mudam de tamanho, oceanos se alargam, vulcões se formam etc. Já na Geofísica Aplicada, realiza estudos de caso e procura aperfeiçoar as teorias e metodologias de investigação.

JC&E –Qual é o perfil necessário para atuar nessa área?
Profª Liliana – Tem que gostar da área de Exatas (de Física e Matemática), de trabalhar no computador (para processamento de dados e imagens) e, também, precisa ter espírito aventureiro, gostar de viajar, da natureza, de andar no meio do mato.

JC&E –Fale sobre o curso.
Profª Liliana – O curso de Bacharelado em Geofísica, ministrado no Departamento de Geofísica do IAG/USP, é pioneiro no Brasil (criado em 1984) e forma profissionais capazes de planejar e executar levantamentos geofísicos e de processar e interpretar diferentes tipos de dados. Atualmente, a duração do curso é de cinco anos. Com uma estrutura curricular flexível, alguns alunos, no entanto, conseguem completar a formação em quatro anos.

A base do curso é constituída por uma sólida formação em Física e Matemática e em Computação, tema que é abordado durante todo o curso em várias disciplinas específicas de Geofísica. Os tópicos de Geologia são ministrados do segundo ao quinto semestre. A partir do quinto semestre, os estudantes passam a cursar as disciplinas específicas da Geofísica, onde aprendem teoria e prática das principais metodologias usadas para investigar a subsuperfície do planeta. No último ano, o aluno realiza um Trabalho de Graduação dentro de sua área de interesse e sob a supervisão de um professor (orientador).
Embora não sejam obrigatórios, os estágios em empresas e projetos de Iniciação Científica são muito incentivados e podem ser aproveitados como Trabalho de Graduação.

JC&E –E como está o mercado de trabalho para profissionais desse segmento?
Profª Liliana – O mercado para o Geofísico vem crescendo consideravelmente na última década e continua promissor para os próximos anos. Nos últimos tempos, houve um crescimento das atividades petrolíferas e do setor mineral no Brasil. Certamente, também haverá uma ampliação do uso da Geofísica na busca por água subterrânea, na compreensão das propriedades dos aqüíferos e proteção dos mesmos quanto à poluição. Além disso, o crescimento dos centros urbanos têm demandado a utilização da Geofísica para a detecção de interferências no subsolo e assim orientar a sua ocupação. Há, ainda, espaço na carreira acadêmica, em universidades, para quem tiver esse perfil.

JC&E –Quais os pontos positivos dessa carreira?
Profª Liliana – Atualmente, existe uma demanda de emprego maior do que o número de profissionais capacitados na área.

JC&E –E as maiores dificuldades para profissionais dessa área?
Profª Liliana – Não diria que são dificuldades, mas o profissional deve ter disponibilidade para viajar com freqüência, deve procurar ter fluência em inglês e ser uma pessoa dinâmica. Recentemente, uma aluna egressa do curso na USP declarou: "quando eu era aluna, fiz um trabalho de iniciação científica em um ano, depois fiz o meu Trabalho de Graduação (TG) em mais um ano, e agora, trabalhando em uma empresa, faço um "TG" a aproximadamente cada semana".

JC&E – Como ingressar, profissionalmente, no setor?
Profª Liliana – O profissional deve aproveitar ao máximo o seu curso de graduação. Procurar realizar estágios e/ou desenvolver projetos de iniciação científica onde estuda. Deve cuidar do seu currículo e procurar demonstrar sua capacidade enquanto ainda é aluno do curso. Certamente, será contratado tão logo se forme.
Uma sólida formação também é importante para que o profissional da Geofísica venha a acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas que se processam nessa área. Participar dos eventos promovidos pela SBGf - Sociedade Brasileira de Geofísica (www.sbgf.org.br) e manter contato com as universidades são formas de manter-se atualizado.

JC&E –Qual a remuneração média da área?
Profª Liliana – Em média, um recém-formado, no Brasil, ganha na faixa dos R$ 3.000,00. As empresas multinacionais pagam em dólar, em torno de U$ 1,5 mil para um iniciante, mas se o Geofísico for deslocado para o exterior, esse valor dobra. Já o salário final varia muito dependendo da experiência e atuação do Geofísico.

Rogerio Jovaneli/SP