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“A gente não pode ser mero espectador”

Como jornalista, Carolina ainda fez algumas matérias, mas já no último ano do curso de direito começou a fazer cursinho preparatório para concursos.

Redação
Publicado em 19/03/2010, às 15h33

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Quando Carolina Nabarro Munhoz Rossi prestou vestibular ainda não conhecia sua vocação: inscreveu-se para artes na Unicamp, direito na USP e jornalismo na PUC de São Paulo. Passou nas três. Ainda indecisa, Carolina cursou jornalismo e direito simultaneamente. O chamado veio durante as aulas do segundo ano da faculdade de direito: “A possibilidade de você pacificar as partes, de conseguir efetivamente atuar na vida das pessoas que o juiz faz... Pensei é isso o que eu quero. E acabei conseguindo, mas não foi fácil”, contou.   

Como jornalista, Carolina ainda fez algumas matérias, mas já no último ano do curso de direito começou a fazer cursinho preparatório para concursos. No ano em que se formou em direito, porém, o único concurso aberto foi para a área trabalhista, no qual foi até a etapa de prova oral.

Carolina começou a trabalhar meio expediente em um escritório de advocacia para ganhar experiência, fazia matérias como repórter free-lancer,  e à noite estudava para os concursos. Ela passava nas provas escritas, mas sempre reprovava no exame oral.

A jovem que tinha uma experiência cheia de sucessos escolares sofreu com o fato de não passar nos concursos. “Eu fazia uma autoanálise: por que eu não passei? O que deu errado? É um período em que a gente fica de luto mesmo. Será que eu não tinha condição? Eu chegava a brincar, me perguntando, se eu enganava bem escrevendo”, contou.

Porém, a hora certa chegou depois que ela passou em um concurso para a procuradoria da Prefeitura de Santo André, cidade do ABC paulista, onde atuou por cerca de quatro meses. “Trabalhei com a área de licitação e com a parte política, com as quais eu não tinha experiência. Acho que eu amadureci nesses quatro meses tudo o que faltava talvez”, lembrou.

No exame oral seguinte, a diferença foi perceptível: “Senti que a entrevista foi totalmente diferente. Eu já soube me posicionar. A experiência no trabalho te traz uma bagagem que só o estudo não traz”, observou a juíza.  Vencido o concurso, Carolina acredita que o grau de dificuldade exigido nos exames é fundamental para identificar se o candidato está preparado para o nível de pressão que a carreira de juiz cobra.

Do outro lado do balcão, ela viu que a vida de juiz era muito mais difícil do que ela imaginava. No começo, uma das principais dificuldades foi a falta de estrutura, tanto de funcionários quanto de tecnologia para despachar os processos. Outro desafio foi a jornada que o começo da carreira impôs, começando como juíza substituta em Santos, onde cobria as circunscrições de Praia Grande, São Vicente, Guarujá e Cubatão. De lá, partiu para Peruíbe, depois Votorantim, na região de Sorocaba, Suzano e, por fim, Guarulhos, ambas na região metropolitana de São Paulo.

Carolina calcula que trabalhe em média 14 horas por dia. Em um bom mês ela consegue dar 400 sentenças, sem contar as audiências, despachos e liminares. Os altos salários então são justos? Não, considera ela, porque o juiz começa atuando muitas vezes fora de sua cidade de origem, não recebe ajuda de custo e tem um volume enorme de processos sendo protocolados todos os dias. “A sensação que a gente tem é de que vai ser engolida pelos processos”, ela comenta entre risos. O desafio para ela é não virar um burocrata, que produz sentenças prontas em ritmo industrial. “A pessoa que pensa em ser juiz deveria visitar, ver se tem vocação. Quem quer ganhar dinheiro deve buscar outra coisa. Juiz não tem fundo de garantia, nem hora extra, várias coisas. O salário é bem remunerado considerando o país, mas, comparando com o oferecido pela iniciativa privada, não”.

Discurso de quem parece arrependido? Carolina continua apaixonada pela profissão e coleciona histórias simples, mas que lhe dão a sensação de dever cumprido, como o caso de uma senhora que havia comprado um terreno e depois descobriu que o imóvel tinha outro dono. “Consegui que eles fizessem um acordo. Não foi o ideal para ninguém ali, mas pra mim foi importante porque ela não precisou sair. Na prática, eu resolvi o problema dos dois, isso é o que vale a pena”, descreveu.

Tanto no jornalismo, quanto no direito, o que seduziu Carolina foi a chance de fazer a diferença. “Como juiz a gente tem essa oportunidade, nem que seja um trabalho de formiguinha. A gente tem que fazer alguma coisa, a gente não está aqui como mero espectador”, sentenciou ao fim da entrevista.

Aline Viana

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