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Arbitrando o jogo da vida

André Luís Patrício é servidor da Câmara Municipal de Osasco (SP) e fala sobre os caminhos que o levaram a ser aprovado em primeiro lugar na carreira de técnico contábil.

Redação
Publicado em 28/01/2011, às 16h25

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“Deus foi colocando várias pessoas no meu caminho para eu conseguir”, conta André Luís Patrício, servidor da Câmara Municipal de Osasco (SP), sobre os caminhos que o levaram a ser aprovado em primeiro lugar na carreira de técnico contábil.

André começou a trabalhar com 15 anos. Foi office-boy em um escritório de contabilidade e na rede de academias ACM (Associação Cristã de Moços). Ganhava em 1994, salário mínimo de R$ 70. Com essa renda, entrou numa escola técnica de contabilidade, onde ganhou bolsa de estudos de 50%. “O curso ficava em R$ 60 e, na minha matemática, tudo se encaixava. No fundo quem me bancava era a minha mãe, o salário mal dava para as minhas coisas”, contou.

Estagiou em um escritório de contabilidade e em uma metalúrgica próxima a Taboão da Serra, cidade da Grande São Paulo distante do bairro paulistano do Jabaquara onde morava. No último emprego, em 1997, ganhava R$ 350 de salário, sem vale alimentação ou sequer um lugar onde esquentar a marmita. “Ainda pagava ônibus intermunicipal. Praticamente pagava pra trabalhar”, lembrou. Decidiu migrar para o serviço público.

Em uma quinta-feira, a mãe trouxe-lhe uma edição do JC&E, com a notícia de um concurso da Câmara de Vereadores de Osasco, que oferecia uma vaga de técnico contábil. Os únicos poréns: ele não tinha os R$ 15 da taxa e as inscrições se encerrariam na sexta.

A sequência de coincidências teve início. Sua irmã, casada e mãe de dois meninos com quatro e um ano e meio de idade, precisava que ele cuidasse das crianças no dia seguinte para que ela fosse à uma entrevista de trabalho – em troca ofereceu-lhe pagar R$ 20 na volta. Com esse crédito futuro, André recorreu à dona Maria, uma vizinha, que já lhe havia ajudado antes. Conseguiu o dinheiro pela manhã com o compromisso de pagá-lo à noite.

Pegou as duas crianças, encheu as mochilas com biscoitos e suco, e rumou para Osasco sem ter muita noção de onde era. Pegou um ônibus e desceu na avenida Cupecê para pegar uma linha executiva para Osasco. Ao descobrir o valor da passagem, concluiu que faltaria dinheiro para a volta. Um desconhecido lhe ensinou como ir de trem à cidade. Com ajuda de mais um e outro transeunte, conseguiu finalmente inscrever-se. De volta à casa, sua irmã o censurou mais pela ingenuidade de gastar dinheiro com inscrição em um concurso do que pela aventura com as crianças.

Antes do concurso da Câmara de Osasco, ele já havia prestado processos seletivos para o Tribunal de Justiça e o Ministério Público. Embora tenha considerado as provas fáceis, justamente esse fator dificultou sua aprovação, pois, ao errar uma ou duas questões perdia várias posições.  Apoiado em um histórico de boas notas no colégio, decidiu concentrar sua estratégia em processos seletivos com ênfase nas disciplinas de língua portuguesa e matemática. Tudo somado, conseguiu a primeira colocação na Câmara.

O trabalho permitiu que ele ingressasse na faculdade de jornalismo. No último ano se viu diante de um dilema: o salário de jornalista não equivalia ao pago pela Câmara, onde havia sido promovido, elevando sua renda bem acima do salário inicial de jornalista. Assim só poderia exercer a profissão aos finais de semana. “Fui promovido porque tinha a carteira do Conselho Regional de Contabilidade e nível superior. Assumi como assessor técnico contábil, não foi algo planejado, mas, quando a oportunidade veio, eu estava preparado”, André analisou.

Ao mesmo tempo, a paixão pelo futebol se tornou mais pronunciada, sugerindo uma terceira opção: a arbitragem. Além do prazer, poderia incrementar a renda com a ajuda de custo da atividade. Fez sua inscrição na Federação Paulista de Futebol e começou o curso. Perdeu peso, ganhou fôlego e conseguiu ser aprovado na prova física.

Sua primeira partida como árbitro foi no interior paulista, em 2005, no dia de seu casamento. Foi uma partida tranquila entre o Mirassol e o Botafogo de Ribeirão Preto. Agitado só o noivo, que mesmo partindo de avião, chegou atrasado à cerimônia mais importante de sua vida. A noiva, que conheceu como colega na Câmara, manteve a posição e hoje, além de casados, são sócios em uma pequena loja.

Aline Viana

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