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Sarah e Coubertin, exemplos para os concurseiros

Em meus artigos e palestras, costumo comparar os candidatos de concursos públicos com os corredores da maratona olímpica. O esforço exigido, em ambos os casos, é um exemplo extraordinário da capacidade humana de superar obstáculos

Redação
Publicado em 14/08/2012, às 12h23

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Wilson Granjeiro


Em meus artigos e palestras, costumo comparar os candidatos de concursos públicos com os corredores da maratona olímpica, prova que, disputada na distância de 42.195 metros, tradicionalmente encerra as Olimpíadas. O esforço exigido dos participantes, em ambos os casos, é um exemplo extraordinário da capacidade humana de superar obstáculos para alcançar um objetivo distante e cheio de dificuldades durante o percurso. No caso dos atletas, o objetivo a ser atingido é a linha de chegada. Já no dos concurseiros, é a aprovação na seleção para um cargo público no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário.


Minha experiência pessoal me permite fazer essa comparação com a certeza de que não se trata de simples figura de retórica. Afinal, fui concurseiro de sucesso na juventude e hoje sou um bem-sucedido maratonista – ainda que como atleta amador –, orgulhoso por alcançar ótimos resultados para minha faixa etária, em competições como a dificílima Maratona de Nova Iorque, da qual participei há alguns anos.


Agora, quando assistimos aos Jogos Olímpicos de Londres pela televisão, mais uma vez sou levado a fazer tal analogia. Não apenas em relação à maratona, mas à competição olímpica inteira, incluindo suas origens, na Antiguidade Grega, e o seu ressurgimento, na Era Moderna, pelas mãos – e principalmente pela cabeça – do Barão Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin. Ele próprio, Coubertin, foi exemplo de tenacidade inigualável ao recriar os Jogos Olímpicos, no fim do século XIX. No artigo de hoje, vou contar um pouco dessa história.


Quero, antes, porém, fazer referência a alguns episódios que mereceram destaque na primeira semana dos Jogos de Londres. Eles são belos exemplos daquilo de que uma pessoa é capaz quando se propõe a ultrapassar qualquer barreira para competir e vencer no esporte, assim como ocorre com o concurseiro que tem determinação idêntica. Refiro-me ao competidor sul-coreano, quase cego (No olho esquerdo, a sua visão é de apenas 10%, enquanto que a visão do olho direito é de 20%. A precisão vem da concentração e da capacidade de distinguir as diferentes cores no borrão que enxerga), que bateu recorde mundial na sua modalidade – tiro com arco(arco e flecha) e à mesatenista polonesa que, embora desprovida de um dos antebraços, disputa as Olimpíadas com atletas sem deficiência – e joga no mesmo nível dos adversários.


Também não posso deixar de mencionar a primeira medalha de ouro brasileira em Londres, conquistada pela judoca Sarah Menezes. A luta já é considerada histórica, por ter tido como protagonista a primeira mulher do nosso país a se tornar campeã olímpica da modalidade e a segunda a ocupar o lugar mais alto do pódio na história dos Jogos Olímpicos, precedida apenas pela campeã do salto em distância Maurren Maggi, vencedora em Pequim há quatro anos. Que beleza a vitória de Sarah! E que lindo o seu orgulho no pódio, tendo a fronte erguida e a medalha no peito, ao som do Hino Nacional. Ela acompanhou o hasteamento da bandeira brasileira com uma expressão de felicidade inigualável no rosto, por onde não deixou rolar uma lágrima sequer naquele momento. Ao contrário, manteve a serena alegria do dever cumprido.

Na história de vida da atleta, é importante notar que ela não quis deixar o estado do Piauí e viver num grande centro, como Rio e São Paulo, para treinar e tentar mais oportunidades no esporte. A vida provou que ela estava certa, como ficou demonstrado em Londres. O Piauí merece a campeã olímpica que tem, e esta é digna de toda a glória decorrente de sua magnífica conquista. Sarah certamente será, em 2016, um dos grandes nomes das Olimpíadas do Rio de Janeiro.


Mas falemos um pouco sobre Coubertin. Vou contar um pouco da história dele e dos modernos Jogos Olímpicos, que estão em sua 30ª edição e, daqui a quatro anos, terão como sede o Rio de Janeiro, primeira cidade da América do Sul a ser agraciada com o privilégio.


Em síntese, tudo a que assistimos em Londres e que veremos daqui a quatro anos se deve à persistência de Pierre de Frédy. A cada vez que leio algo sobre sua história, mais me entusiasmo com a personalidade desse homem. Rico e aristocrata francês de berço, em vez de se dedicar à carreira militar, como queria a família, ele se tornou educador e tomou para si a missão de promover uma reforma no ensino na França.


Nascido em Paris, em 1º de janeiro de 1863, Coubertin formou-se em pedagogia infantil na Universidade de Ciências Políticas. Era apaixonado pelos esportes, embora nunca tenha praticado nenhuma modalidade. Intelectual, depois de visitar Inglaterra, Estados Unidos e Canadá para conhecer sistemas educacionais que aliassem os exercícios físicos aos intelectuais, apresentou na Universidade de Sorbonne, em Paris, junto com o estudo “Os exercícios físicos no mundo moderno (1892)”, o projeto de recriar os Jogos Olímpicos que eram disputados na Grécia Antiga.


A ideia não teve grande repercussão na época, mas, dois anos mais tarde, Coubertin conseguiu apoio para realizar um congresso internacional na mesma Sorbonne. A programação do evento fora elaborada de modo a disfarçar seu principal objetivo: fazer ressurgir os Jogos Olímpicos. Continha apenas questões sobre o esporte em geral. Pierre de Frédy deixara de mencionar a verdadeira finalidade do congresso, receando que se criassem resistências capazes de desencorajar quem fosse favorável ao projeto. Isso porque sempre que seu plano fora mencionado em encontros anteriores, em Oxford ou em Nova York, a plateia o considerara utópico e impraticável.


No congresso de 1894, Coubertin finalmente obteve o apoio necessário para realizar em Atenas, a capital grega, os primeiros jogos olímpicos do mundo moderno, em 1896. Renasceram, assim, os Jogos Olímpicos, quase 16 séculos depois da proibição de sua realização (393) pelo imperador bizantino Teodósio I. Contado dessa maneira, o feito parece ter sido fácil, não é? Mas não foi. Muito pelo contrário. Imaginem as dificuldades enfrentadas por um empreendimento como esse há 116 anos, num mundo sem telefone, computadores, internet, rádio, televisão...


No entanto, a despeito de todas as dificuldades, os jogos de Atenas foram realizados. Sem financiamentos oficiais, a organização da competição, a preparação da cidade e a construção do estádio e de um hipódromo para a disputa só foram possíveis graças à generosa contribuição do bilionário arquiteto egípcio Georgios Averoff. Com o Barão de Coubertin como secretário-geral do Comitê Olímpico Internacional (COI), fundado pouco antes, no dia 6 de janeiro de 1896, a chama olímpica voltou a ser acesa e os Jogos Olímpicos começaram na capital grega, tal como no passado, com a presença de 311 atletas não profissionais nas disputas, representando apenas 13 países.


Aliás, Coubertin sempre foi defensor ferrenho do amadorismo e nunca permitiu a profissionalização da competição enquanto comandou o COI. Igualmente, jamais aceitou a participação de mulheres nas disputas. Ele achava que a elas cabia apenas papel decorativo no evento, na entrega de flores e de medalhas aos vencedores.


Ao contrário do que se pode supor, a primeira realização dos Jogos Olímpicos na Era Moderna não encerrou as dificuldades enfrentadas por Coubertin para promover as edições seguintes. Ele teve de vencer, por exemplo, forte resistência dos gregos contra a alternância de cidade sede das provas. Essa era a base do projeto olímpico de Pierre de Frédy. Ele acreditava que a universalização das Olimpíadas seria a mais importante contribuição do evento para a educação e o congraçamento dos povos. Idealista, acabou vencendo a disputa, mas criou uma animosidade com os gregos que levaria décadas para ser superada.


Depois da primeira edição dos Jogos, Pierre de Frédy presidiu o COI até 1925. Morreu aos 74 anos, em 1937, pobre e isolado, depois de ter gastado praticamente toda a sua fortuna para colocar em prática o sonho da Olimpíada. Hoje, o coração dele está enterrado sob um monumento na cidade grega de Olímpia. O corpo ficou em Genebra, Suíça, onde ele passou seus últimos anos de vida.


Para a posteridade, Coubertin legou o lema: “O importante não é vencer, mas competir – e com dignidade”. Segundo, historiadores, a frase não é de sua autoria. Teria sido criada pelo bispo de Londres em um ato religioso, em 1908. Para mim, não importa se o lema é ou não dele. Coubertin é o meu herói.


J. W. Granjeiro é Diretor-Presidente do Gran Cursos; coordenador do Movimento pela Moralização dos Concursos - MMC. www.professorgranjeiro.com. Twitter: @jwgranjeiro.

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