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Nova ortografia e escravidão

Ernani é pesquisador de Língua Portuguesa há mais de quarenta anos.

Redação
Publicado em 08/06/2009, às 15h43

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Ernani Pimentel*

O decreto nº 6.583, de 29 de setembro do ano passado, assinado pelo Presidente da República Federativa do Brasil, fez nascer para o povo brasileiro a realidade de que a partir de 1º de janeiro último entraram em vigor as nossas novas regras de escrita, resultantes do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, subscrito pelos Governos dos países de Língua Portuguesa.

Independente de estarmos todos preparados para adotar as novas regras, como já o fizeram muitas empresas jornalísticas, educacionais e editoriais e muitas outras o estão fazendo, é importante refletirmos sobre a necessidade de aprimorar esse acordo para tirá-lo das premissas compatíveis com o século XX, época em que foi pensado, e adaptá-lo à realidade prática e racional do século XXI, período em que passa a viger.

Se há algo que sempre atrapalhou o ensino-aprendizagem do capítulo ortografia, desmotivando alunos e professores, produzindo uma consciência coletiva de incapacidade de escrita e de subordinação compulsória ao dicionário, chama-se “exceção”. No século passado aceitava-se que a “exceção comprovava a regra”, hoje a consciência predominante é de que “a exceção destrói a regra”, torna-a incapaz e desinteressante, porque transmite a sensação de perda de tempo: para que estudar uma coisa que é falha, que não tem lógica, que é irracional. Ao homem do terceiro milênio não interessam as formulações superficiais, não práticas, não racionais e dogmáticas. É, pois, preciso adequar a ortografia a essa nova etapa de evolução do ser humano, que deixa de ver o mundo sob a ótica da linearidade e passa a captá-lo sob um ponto de vista quântico, holístico.

Qualquer indivíduo inteligente, hoje, (e todos, a princípio, o são) não aceita imposições irracionais docilmente e vai querer saber:

Por que blêizer se escreve com z e gêiser, com s?

Por que estender com s e extensão, com x?


Por que água-de-coco com hífen e suco de uva, sem?

Por que Nova Guiné, sem hífen e Timor-Leste e Guiné-Bissau, com?

Por que eliminamos o trema de nossas palavras e o usamos nas estrangeiras?

Por que proto-herdeiro, com h e hífen, mas coerdeiro, sem eles?

Por que duas grafias aceitas para uma mesma palavra, bi-hebdomadário e biebdomadário?

Por que cor de café, cor de bonina sem hífen e cor-de-rosa , com?

Por que paraquedas, paraquedista, paratudo, sem hífen, mas para-raios e para-sol , com?

Por que para-raios e para-sol com hífen, mas contrarregra e contrassenso com rr e ss, sem hífen?

Por que giravolta sem hífen, mas gira-mundo, gira-pataca(bobo) e gira-discos, com?

Por que guarda-chuva e manda-tudo têm uma só grafia com hífen obrigatório, porém mandachuva está correto sem hífen ou com ele, manda-chuva?

Por que as onomatopeias com palavras repetidas ora têm hífen (reco-reco, blá-blá-blá), ora o dispensam (panapaná, panapanã)?

Por que, em madre-forma, madre-mestra e madre-caprina, o hífen é obrigatório, mas não é usado madrepérola?

Por que água-de-colônia com hífen e água de cheiro, sem?

Por que pé de botina, pé de sapato, pé de chinelo  sem hífen e pé-de-meia, com?

A palavra arco-íris tem quatro outras denominações arco de Deus, arco da chuva, arco da aliança e arco-da-velha . Por que só a última tem hífen, se todas têm preposição?

Por que há duas grafias corretas para pré-embrião/preembrião, com ou sem hífen, mas uma só para pré-embrionário, com hífen?

Por que só existe uma grafia, com hífen, para pré-esclerose, mas duas para seu adjetivo, pré-esclerótico/preesclerótico, com ou sem hífen?

Por que só uma grafia para preeleger, sem hífen,  mas duas, com ou seu hífen, para pré-eleito/preeleito, pré-eleição/preeleição...

Por que duas grafias para ab-rupto /abrupto, quando se deve ensinar que a melhor pronúncia é a que separa os dois elementos?

Por que duas grafias corretas para adrenal /ad-renal, com ou sem hífen, mas uma só, sem hífen, para adrenalina e adrenalite?

Por que futuro do pretérito se escreve sem hífen, mas mais-que-perfeito deve ser hifenado obrigatoriamente?

Por que se mantiveram as grafias mal-andança (infortúnio), mal-assombro (fantasma), malconceito (má fama), malcriação, se o mal está indevidamente usado como adjetivo. Deveria ser má-andança, mau-assombro, mau-conceito, má-criação.

Se você, leitor, concorda que o ensino da ortografia deve ser simplificado eliminando-se esses disparates, eliminando-se as exceções, entre no blog www.acordarmelhor.com.br, clique em “eu assino o manifesto”, preencha seus dados e os envie e sua atitude valerá como uma assinatura de apoio à luta pela racionalização e simplificação ortográficas.

Acredite em você, em nós, em nossa causa, divulgue essas idéias o máximo que puder, e conseguiremos nossa independência dos dicionários, na hora de escrever.

www.acordarmelhor.com.br

para simplificar a ortografia

* Ex-seminarista, gramático e professor com formação em Língua Portuguesa, Latim, Grego, Linguística, Análise de Texto, Teoria e Análise Literária. É pesquisador de Língua Portuguesa há mais de quarenta anos, autor de mais de 10 mil páginas didáticas e de livros que são best-sellers nessa área.

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