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Fusões, crises e algumas explicações

Para entender a polêmica acerca da malfadada proposta de fusão entre duas gigantes do varejo pela ótica do cinema

Redação
Publicado em 15/07/2011, às 15h56

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Um dos assuntos que mais tem mobilizado a mídia nas duas últimas semanas diz respeito a possível fusão entre dois gigantes do varejo brasileiro: o grupo controlado pelo empresário Abílio Diniz, cujo principal ativo é a cadeia de supermercados Pão de Açúcar, e o braço brasileiro da multinacional francesa Carrefour. 
A fusão propriamente dita, que ainda se encontra em um estágio preliminar (precisa ser aprovada pelos conjuntos de acionistas de ambas as marcas) não é o que suscita maiores consternações. Mas o comportamento das empresas envolvidas. Há, ainda, o Casino - principal sócio de Diniz no grupo Pão de Açúcar e que injetou milhões na rede às vésperas da falência em 1999. O grupo, que por ser francês cultiva uma rivalidade acirrada com o Carrefour, acionou câmaras arbitrais nacionais e internacionais para paralisar o negócio. O Casino sente-se lesado pela  conduta de Abílio Diniz que, segundo a perspectiva do conglomerado europeu, age para diminuir a presença do Casino no controle do Pão de Açúcar. 
O caso é histórico porque além de reunir grandes expoentes do mundo empresarial em dimensão internacional, estipula um ineditismo no Brasil. Jamais um caso de tamanha complexidade jurídica e empresarial envolveu companhias brasileiras. Será uma oportunidade para averiguar a capacidade de prover segurança jurídica que o Brasil ostenta. Há, ainda, outros componentes na engenhosa equação: como concentração de mercado (a nova empresa controlaria mais de 35% do varejo alimentício brasileiro; com essa porcentagem aumentando em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro) e demissões em massa. 
Se no Brasil uma disputa dessa magnitude surge em 2011, em outros países elas já são rotina. Tanto que o cinema americano já as perpassou com sagacidade inabitual. Um filme que marca com beligerância o capitalismo que afloresce economias é “Wall Street: poder e cobiça”. Na fita, Michael Douglas, em performance premiada com um Oscar, vive um tubarão do mercado financeiro que se investe em operações imorais. Ele compra empresas à beira da falência para liquidá-las (declarar concordata) e lucrar com a venda de ativos (patrimônio, bens, etc). Gordon Gekko, o personagem que virou símbolo de uma geração de corretores e operadores da bolsa de valores, é a encarnação do empresário atroz. Aquela figura capaz de vender a mãe por um bom negócio. 
O filme, que é de 1987, permanece atual e a crise econômica de 2008, que ainda causa impacto nos Estados Unidos, surgiu na wall street de Gordon Gekko e seus semelhantes. O epílogo que Oliver Stone lançou em 2010, “Wall Street: o dinheiro nunca dorme”, aproveita justamente o ensejo dessa crise de 2008. Em um mundo em que empresas são diluídas em um volume cada vez mais assustador e que fusões não são mais estratégias de crescimento, mas de sobrevivência (como é o caso do Carrefour), a prática de Gordon Gekko em 1987 não só está disseminada, como legalizada. O próprio, em dado momento do segundo filme, solta a pérola: “Certa vez disse que a ganância é boa, parece que agora ela é legal”. De certa forma essa frase mimetiza o imbróglio envolvendo a fusão Pão de Açúcar e Carrefour. 
O Brasil testemunhou duas grandes fusões no âmbito nacional nos últimos anos. A celebrada entre os bancos Itaú e Unibanco e entre a redes de congelados Sadia e Perdigão que culminou na criação da gigante Brasil Foods. Esta última ainda está sendo discutida pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Nenhum desses negócios, porém, enfrentou acusações tão sérias de falta de ética e respeito a contratos em vigência. Além do acompanhamento pelos jornais, o leitor pode aprender muito sobre esse mundo em que bilhões de dólares, reais e euros flutuam assistindo a esses dois filmes bastante pedagógicos sobre o tema. 
Outro filme que coloca altos executivos no banco dos réus é o documentário vencedor do último Oscar. “Trabalho interno” faz uma retrospectiva da história americana para desvendar os culpados pela crise financeira de 2008 que roubou os empregos de milhares de americanos. As respostas são muito parecidas com as que Oliver Stone alcança com seus dois Wall Street.
Serviço:Wall Street: poder e cobiçaNome original: Wall Street País: Estados UnidosAno de produção: 1987Direção: Oliver StoneDisponível em DVD
Wall Street: o dinheiro nunca dormeNome original: Wall Street: money never sleepsPaís: Estados UnidosAno de produção: 2010Direção: Oliver StoneDisponível em DVD
Trabalho internoNome original: Inside jobPaís: Estados UnidosAno de produção: 2010Direção: Charles H. FergusonDisponível em DVD a partir de agosto 

Por Reinaldo Matheus Glioche
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