“O esporte tem o poder de transformar vidas”. A frase pode ser atribuída a algum político (quantos já não falaram coisa parecida?) ou extraída de algum filme que tenha o esporte como fio condutor. Não é uma inverdade pelo fato de ser uma constatação até certo ponto banal. O futebol, paixão nacional, é um catalisador de sonhos de meninos de todas as classes sociais e pedaços do Brasil. Mas o que realmente chama à atenção é como as mais variadas modalidades esportivas se viabilizam como poderosos elementos narrativos no cinema. Em geral propõem catarse e revigoram sonhos e ideais.
Filmes com esporte como mote são muito usados como referência para o mundo profissional. “Rocky – um lutador”, vencedor do Oscar de melhor filme e que catapultou à fama o astro Sylvester Stallone, parte do boxe para uma infinidade de metáforas. A fita superou no Oscar de 1976 filmes muito melhores como “Todos os homens do presidente”, “Taxi driver” e “Rede de intrigas”. Por quê? Pelo simples fato de que nenhum outro filme, até então, havia embarcado tão bem o famigerado sonho americano. Na fita, Rocky (Stallone), é um zé-ninguém que acredita que pode ser campeão mundial de boxe. A fita mostra os percalços desse sonhador na busca de seu objetivo. Estava inaugurado um subgênero cinematográfico que colocava o esporte como principal locomotiva de mudança social.
Obviamente que há filmes que estenderam o escopo como “Duelo de titãs”, que mostra como um técnico de futebol americano universitário combateu o racismo embrenhado na sociedade americana para formar um time campeão, ou mesmo o recente “O vencedor”, em que uma família expia seus pecados através do boxe.
Grandes diretores já se debruçaram sobre o esporte para realizar crônicas sobre mazelas sociais. Para falar da importância do líder sul-africano Nelson Mandela, Clint Eastwood focou no rúgbi – esporte muito popular no país. Em “A luta pela esperança”, Ron Howard conta a história do pugilista Jim Braddock para falar da grande depressão econômica que assolou os Estados Unidos no começo da década de 30 e sobre como o país se reergueu. Tudo com o boxe como metáfora.
No drama brasileiro “Linha de passe”, premiado no festival de cinema de Cannes, Walter Salles acompanha o cotidiano de uma família da periferia paulistana em que uma das crianças sonha em ser jogador de futebol profissional.
Esse poder transformador do esporte, em ano olímpico, parece mais em voga do que nunca. O que todos esses filmes, e esportes, sugerem é que obstinação não é algo fácil. Exige treino, paciência, dedicação, fé e um pouco de sorte.
Adjetivos, como se pode observar, perfeitamente ajustáveis ao mundo dos concursos públicos ou à rotina profissional. Eis aí o pequeno segredo da longevidade e boa aceitação desse subgênero cinematográfico.
Prestar concursos ou participar de dinâmicas de grupo não são exatamente a melhor definição de esporte. Mas se inspiração anda faltando, coloque Eye of the tiger (música tema de “Rocky - um lutador”) em seu “I alguma coisa” e se prepare para o próximo soco.
Por Reinaldo Matheus Glioche