É comum no universo dos concursos, e o leitor já se deparou com coisas do tipo neste jornal, truques para memorização e instruções sobre como otimizar a memória e o funcionamento do cérebro. Existem gurus que fazem fama nesse nicho de mercado. Muitas das dicas são proveitosas e acabam por se provar ferramentas valiosas para concurseiros dedicados e decididos.
Mas há certas coisas impraticáveis para quem precisa acionar o cérebro e a memória para outras incumbências sociais, culturais, econômicas, políticas, etc.
O fascínio que o cérebro e seu funcionamento, ainda não totalmente desvelado, exercem sobre o ser humano não poderiam escapar ao cinema e sua igualmente fascinante capacidade de dar vida a devaneios de toda sorte.
Por exemplo, um thriller de ação e mistério em que o protagonista, um escritor fracassado, toma uma pílula sintética que potencializa o funcionamento de seu cérebro, é algo curioso. “Sem limites” parte dessa sinopse para, sem grandes julgamentos morais, viabilizar uma trama divertida sobre esse cara, um legítimo zero à esquerda, que de uma hora para a outra vira um gênio. Escreve seu livro em quatro dias, vira um guru da bolsa de valores e apresenta uma memória capaz de recordar dados de 15 anos atrás ou aprender italiano em um mês. Um feito e tanto; só que os fabricantes da tal pílula mágica surgem em seu encalço.
Uma crônica sobre oportunidade, drogas, ciência e memória. Mais hollywoodiano impossível. Nem tão hollywoodiano é “Amnésia”, o cartão de visitas do diretor Christopher Nolan - que obteria reconhecimento de público e crítica com os novos filmes do Batman. “Amnésia”, mais do que uma história engenhosa, apresenta uma narrativa fragmentada e capciosa para esconder a simplicidade da trama. E tudo, como indica o nome nacional da fita, tem a ver com memória.
Um homem, após um ataque violento, desenvolve uma doença que o impede de reter memórias recentes. Para desvendar o que aconteceu com ele e com sua esposa, desaparecida, ele precisa ser inventivo. Como, por exemplo, tatuar pistas no corpo e tirar fotos instantâneas de lugares e pessoas que precisam ser lembrados. O mais interessante, no entanto, é que “Amnésia” não se constrói cronologicamente. A disposição narrativa do filme, então, configura um segundo quebra-cabeças para o público. Muito mais desafiador do que o caso que move o protagonista.
Situando-se entre o lirismo e a ficção científica está “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Mas antes, a fatídica pergunta: Você já quis apagar da memória lembranças indesejadas? É o que faz Clementine. Após o rompimento traumático com Joel, ela decide se submeter a um procedimento experimental que deleta memórias indesejadas. Joel, consternado com a notícia de que será apagado da memória da ex-namorada, decide fazer o mesmo. No entanto, no meio do procedimento, muda de ideia e então passamos a testemunhar a luta de seu inconsciente para preservar a memória de Clementine.
O debate que “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” estabelece tem pouco a ver com as capacidades do cérebro, é verdade, mas é muito mais interessante para nossas angústias cotidianas. Afinal, é legítimo querer apagar memórias indesejadas? Mais do que isso. Seria moralmente e pedagogicamente recomendável? São questões que o filme compila romanticamente e apresenta soluções que nos lembram do que nos faz humanos: nossas imperfeições.
Como se vê, há horas que queremos deletar memórias e outras que gostaríamos de acionar dispositivos que aumentassem nossa capacidade de retê-las. Os filmes aventados aqui reforçam essa dicotomia essencialmente humana. Não há truques capazes de driblar nossa constante variação de humor em relação a esse tópico.
Serviço: Sem limitesNome original: LimitlessAno de produção: 2011País: Estados UnidosDireção: Neil BurgerDisponível em DVD
AmnésiaNome original: MementoAno de produção: 2001País: Estados UnidosDireção: Christopher NolanDisponível em DVD
Brilho eterno de uma mente sem lembrançasNome original: Eternal sunshine of the spotless mindAno de produção: 2004País: Estados UnidosDireção: Michel GondryDisponível em DVDPor Reinaldo Matheus Glioche
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