Crônica baseada nos filmes "Sociedade dos poetas mortos", "187 - Código de violência" e "Entre os muros da escola".
Redação
Publicado em 21/01/2011, às 15h37
Será que as crianças de hoje quando devaneiam sobre as profissões que querem seguir ainda alimentam o desejo de serem professores? Embora pareça ingênua e despropositada, a pergunta é sintomática dos tempos cínicos que vivemos. Da crescente desvalorização do profissional que nos encaminha pela vida e suas oportunidades. Apesar de ser uma profissão admirada em determinados nichos e que polarize atenções em concursos públicos, principalmente nas esferas municipal e estadual, a atividade docente é algo que anda um tanto desencantada. A forma como o cinema a registrou ao longo dos últimos anos é uma demonstração eloquente do estado das coisas. No alvorecer da década de 90, Robin Williams entusiasmava e inspirava seus alunos em “Sociedade dos poetas mortos”, filme referencial quando se aventam retratos edificantes do ofício de ensinar. Na trama, Williams vive o professor de literatura John Keating, um tipo pouco convencional que revoluciona o ensino da tradicional e conservadora escola Welton Academy, ao cunhar um novo tipo de aprendizado em que incita os alunos a pensarem por si mesmos. A subversão proposta pelo professor em “Sociedade dos poetas mortos”, em filmes como “187 - código de violência” soa ingênua. No filme de 1997, Samuel L. Jackson faz um professor de High School, equivalente ao nosso ensino médio, que precisa conviver com a constante ameaça à integridade física que paira sobre os profissionais que trabalham na rede pública de ensino. Os filmes, separados por meros oito anos, expõem um verdadeiro abismo na qualidade da educação e nas prioridades de um educador. Se o professor vivido por Williams sofre resistência de seus pares, encontra uma forte acolhida em seus alunos. O que não ocorre com o personagem de Jackson em “187 - código de violência”. Mas essa bifurcação não é tão simples quanto parece.
Outros filmes se incumbem de entender, com mais propriedade, a relação que se dá dentro das salas de aula entre mestres e pupilos. É o caso da produção francesa, vencedora da Palma de ouro no festival de Cannes, “Entre os muros da escola”. No filme, um híbrido de documentário e ficção, o professor François Marin (François Begaudeau) tenta atender as demandas de uma classe das mais heterogêneas em uma escola da periferia de Paris. O filme, que é adaptado do livro de Begaudeau (que interpreta a si próprio), cativou platéias do mundo todo pela acuidade do registro. Questões como imigração e preconceito – de toda a ordem – estão à frente do debate e as tensões sociais que florescem em um ambiente escolar nunca foram tão bem capturadas por um filme. “Entre os muros da escola” cristaliza uma verdade cada vez mais flagrante: a falta de aparato do Estado, aliada a transformações sócio-culturais modificaram o status da atividade professoral.
Os governos ainda batem cabeça na hora de aprimorar essa deficiência cada vez mais flagrante. Seja com iniciativas de estímulo a frequência escolar (como o programa Leve leite na cidade de São Paulo) ou dois professores nas salas de ensino fundamental, como instituiu o último governo paulista. Nenhuma das medidas, porém, contribuiu para que a dura realidade encenada em “Entre os muros da escola” dê vez à nostalgia que se experimenta ao assistir “Sociedade dos poetas mortos”.
Serviço:
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Sociedade dos poetas mortos
Nome original: Dead poets society
País: Estados Unidos
Ano de produção: 1989
Direção: Peter Weir
Disponível em DVD
187- código de violência
Nome original: 187
País: Estados Unidos
Ano de produção: 1997
Direção: Kevin Reynolds
Disponível em DVD
Entre os muros da escola
Nome original: Entre les murs
País: França
Ano de produção: 2007
Direção: Laurent Cantet
Disponível em DVD
Por Reinaldo Matheus Glioche
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