Quase sempre quando se pega um edital de abertura de concurso, o candidato se surpreende com aquelas profissões (ou nomes de profissões vá lá) que parecem só existir no funcionalismo público.
Quase sempre quando se pega um edital de abertura de concurso, o candidato se surpreende com aquelas profissões (ou nomes de profissões vá lá) que parecem só existir no funcionalismo público. Desde eufemismos para atividades subordinadas a um médico legista a um “disfarce” para a função de engenheiro na CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). É natural que algumas profissões surjam diante de novas necessidades que se apresentem no seio da sociedade, porém, não é este o caso daqueles cargos que só existem em concursos públicos. Há, no entanto, algumas profissões que se projetam dentro dos avanços sociais e culturais que experimentamos, enquanto sociedade, nesse começo de milênio. Algumas dessas profissões, que ainda carecem de regulamentação e – em alguns casos – até mesmo de um nome específico já são abordadas pelo cinema. Essa abordagem se dá, invariavelmente, de maneira charmosa, ainda que revestida de ironia e senso crítico.
O filme “Obrigado por fumar”, por exemplo, revela os bastidores de uma profissão muito popular nos Estados Unidos e que, embora permaneça na informalidade, cresce exponencialmente no Brasil: o lobista; essa derivação do profissional de publicidade e propaganda caracteriza um marketing mais agressivo, que se vale de técnicas mais persuasivas e, muitas vezes, de legalidade discutível. No filme, Nick Naylor (Aaron Eckhart) é um representante da indústria tabagista. Compete a ele alinhar acordos com estúdios de cinemas para que estrelas apareçam nos filmes fumando, atuar junto à mídia para circular versões de que o cigarro não tem um impacto tão prejudicial à saúde e viabilizar generosas doações e parcerias com gabinetes políticos para assegurar apoio no congresso. “Obrigado por fumar” é um filme de rara inteligência que faz humor, sem deixar de ser sério, com questões bem ligadas ao nosso cotidiano. Ainda que não nos demos conta da proeminência delas.
É de Jason Reitman, diretor de “Obrigado por fumar”, outro filme pontual sobre uma profissão que é, mais do que qualquer outra coisa, sinal dos tempos. Em “Amor sem escalas” (um título que, acredite, pouco tem a ver com o filme), George Clooney vive um emissário do desespero, por falta de uma definição melhor.
A profissão de Ryan Bingham é demitir pessoas. Ele é uma espécie de consultor free lancer, que só é acionado por empresas que se veem na contingência de demitir funcionários e não dispõe de um RH suficientemente capaz para tanto. O que Jason Reitman mostra (e o filme foi concebido com a crise econômica de 2008 decolando) é que na avidez por corte de custos, até o indigesto ato de demitir um funcionário pode ser terceirizado. Enquanto o negócio de muita gente ia mal, o de Ryan prosperava como uma Ferrari em seus áureos tempos. Uma demonstração da força do capitalismo. E profissões renovadas e originais têm tudo a ver com o jeito capitalista de ser.
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É George Clooney, novamente, quem faz uma espécie de faxineiro em “Conduta de risco”.
Faxineiro é a forma como Michael Clayton (Clooney) é conhecido pelos colegas do escritório de advocacia de Nova Iorque em que trabalha. Mesmo com 15 anos de escritório Michael nunca colocou os pés em um tribunal. Pelo menos não como advogado litigante. O que ele faz na firma é empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Proteger clientes de deslizes morais e arremedar gastos escusos. Uma função muito comum em escritórios de advocacia de renome e prestígio. Embora convencionemos chamar esse profissional de advogado, não é bem o caso. Michael Clayton, no curso do filme, cada vez menos se sente como um.
Não cabe ao cinema batizar essas profissões, mas na falta de uma alternativa melhor, ele as ilumina com precisão ilibada.
Por Reinaldo Matheus Glioche
Serviço:
Obrigado por fumar
Nome original: Thank you for smoking
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2006
Direção: Jason Reitman
Disponível em DVD
Conduta de risco
Nome original: Michael Clayton
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2007
Direção: Tony Gilroy
Disponível em DVD
Amor sem escalas
Nome original: Up in the air
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2009
Direção: Jason Reitman
Disponível em DVD
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