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É para lá que eu vou...

Cada dia mais, estudantes já ingressam nas faculdades de direito de olho na iniciativa pública.

Redação
Publicado em 18/12/2009, às 16h15

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Nas salas de aula de um curso de direito, diante do quadro-negro estão dezenas de estudantes com o mesmo sonho, o mesmo vislumbre de destino: serão juízes, procuradores, promotores, defensores públicos, delegados talvez. O futuro, eles sabem, passa por um concurso público. Em alguns casos, por muitos. Existe, portanto, no caminho entre eles e suas carreiras, pelo menos uma prova e milhares de candidatos com a mesma motivação que os move, com litros do seu combustível-mor, que é a determinação, a disciplina.

As possibilidades de quem está ali naquela classe são muitas. Logo no início do curso, porém, as escolhas de muitos já estão determinadas, algumas vezes desde o vestibular. Com dezessete, dezoito anos, já se vêem estudantes que traçaram um plano de carreira, que se enxergam lá na frente, alguns passos adiante na linha do tempo, vestindo uma toga de magistratura ou seu terno de defensor ou promotor, quem sabe. Essa febre pelas carreiras públicas na área jurídica se repete desde há muito e conduz, cada vez mais precocemente, a vida acadêmica nas faculdades de direito de todo o país. As meninas dos olhos dos estudantes são a Magistratura, o Ministério Público Federal e do Trabalho, a Defensoria e Promotoria Públicas e a Polícia Federal. Isso é unânime.

Larissa Monforte Ferreira, estudante do sétimo semestre do curso de direito da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), acredita que essa fascinação acontece por todos os benefícios que um cargo público oferece, mas também pela importância do próprio cargo. “A função do funcionário público é repleta de princípios, como a efetiva aplicação da justiça à sociedade, e isso instiga os alunos”, defende ela, que acredita, porém, que tal objetivo se desmantela rápido naqueles que não mantêm firme o propósito: “Acredito que a maioria desiste em razão da dificuldade. Os que realmente querem se esforçam do jeito que podem, não há desculpa pela falta de tempo”.

Larissa segue à risca o que manda a determinação, já que disciplina e força de vontade são, para ela, características que não podem esmorecer em quem deseja estar no páreo pela vaga. De manhã e à tarde, cumpre estágio (desde o primeiro ano do curso) em um escritório de advocacia, no qual tem a oportunidade de colocar em prática a teoria vista na faculdade e se manter atualizada a respeito das novas legislações. À noite, frequenta as aulas de direito e, nos finais de semana, faz cursinho preparatório para concurso e estuda a fundo tudo o que vê em classe. “Quem quer ser funcionário público tem que estudar bastante, não tem segredo. Portanto, a rotina se torna diferente sim: não posso me limitar à matéria dada em sala de aula, não posso deixar para me dedicar mais somente na semana de provas”, acredita, e acrescenta, quando questionada sobre quais matérias o concurseiro deve privilegiar: “O foco em disciplinas específicas variam de acordo com o exigido no edital do concurso para o cargo almejado, mas, normalmente, o domínio em Direito Constitucional, por exemplo, tem se tornado impreterível”.

Quando terminar o curso, daqui a um ano e meio, Larissa já sabe o que quer: continuará os estudos preparatórios e a atuação em escritório de advocacia até conquistar um bom cargo público, embora a escolha desse cargo ainda esteja em aberto, já que a estudante não quer se limitar a apenas um e restringir suas possibilidades. Cursar uma pós-graduação não está nos seus planos a médio prazo, pois acredita que estudos paralelos a fariam perder o foco. E exclama: “Ainda há muito para estudar!”.

A coordenadora de seu curso na Umesp, Débora Vanessa Caús Brandão, lhe dá razão: “Concurso é estudo, estudo e estudo. Desde o início do curso o aluno precisa se dedicar e entender que, desde a primeira aula até a última, tudo é importante. Deve ler os manuais, a legislação sem parar. Ter disciplina para estudar, fazer fichamentos, reservar um tempo para se exercitar e relaxar, mas logo voltar a estudar. O aluno tem de entrar na faculdade focado em fazer o melhor que puder. Estudar com comprometimento, estar comprometido consigo”.

Concurso público é mesmo uma disputa voraz entre candidatos que se prepararam muito e aqueles que se prepararam ainda mais. Não há muita chance para milagres. “Hoje o tempo médio de estudo para ser aprovado em um concurso é de três anos, se o estudante imprimir uma carga horária diária de dez horas”, acredita Débora. Entretanto, para quem imagina que na carreira pública encontrará as melhores remunerações, ledo engano. “Dentro da área pública existem profissões bem remuneradas, mas na área privada é que estão os maiores salários, sem dúvidas”, afirma a coordenadora da Umesp. Com ela, concorda o professor de Processo Penal da Rede LFG e juiz de direito, Guilherme Madeira Dezem: “A remuneração mais alta não se encontra no funcionalismo público. Se quer ficar rico, não venha para a carreira pública. Você certamente não passará fome e terá uma vida digna, mas não será rico. A iniciativa privada, para quem tem talento para tal, é o caminho que conduz à maior remuneração”.

O que move então um candidato que se submete a tantas horas de estudo para enfrentar uma concorrência tão grande? “Acredito que o maior atrativo seja contribuir para a formação democrática do país e, além disso, possuir independência para decidir e trabalhar como preferir, segundo suas convicções”, confia Dezem. Débora Brandão também acredita que os ideais dos estudantes e bacharéis sejam o que mais tem força em suas escolhas: “Creio que a maior motivação está concentrada no acesso ao poder, além de contribuir para o aprimoramento das instituições e, portanto, da sociedade”, diz ela. A estabilidade, é claro, é um ponto favorável do trabalho na iniciativa pública, mas não pode ser decisiva para guiar a escolha profissional. “Acredito que o melhor caminho para quem faz direito é seguir o coração. O aluno precisa ter certeza do que quer. Se esta certeza vier logo no início do curso, tanto melhor. Acredito que, para isso, é importante que faça os mais distintos estágios ao longo da faculdade. Somente desta forma poderá ter certeza de que seu coração está em um caminho e não em outro”, aconselha Guilherme Dezem.

Marco Antonio Araújo Junior, diretor pedagógico de cursos livres da rede LFG, defende que no funcionalismo público não cabem mais os profissionais sem vocação: “Não há mais espaço para o funcionário público acomodado, desatualizado e inerte. Precisamos de servidores públicos comprometidos. Juízes atuantes, promotores combativos, delegados responsáveis e advogados públicos vocacionados. Esse deve ser o perfil do operador do direito nas carreiras públicas”. Juiz da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, Guilherme Dezem tem uma rotina repleta de sentenças, despachos, audiências e atendimento de advogados, mas diz que é preciso de sensibilidade para exercer a profissão. “Se não gosta de pessoas, você passou no concurso errado. Juiz que não gosta de gente deve procurar outra carreira. Hoje mesmo, acabei de fazer uma audiência tocante: pude ter o privilégio de alterar o nome de duas crianças e a família toda acabou chorando de felicidade. Confesso que chorei depois que saíram de meu gabinete. Esta satisfação pessoal é impagável”, comenta.

Para quem deseja encarar um concurso, a boa preparação é essencial. “A graduação em direito não prepara o aluno para o Exame da OAB, tampouco para as carreiras públicas. A preparação é genérica e o aluno não estuda as especificidades dos concursos públicos. É fundamental que o aluno que pretende ingressar em uma carreira pública se valha de um curso preparatório”, crê o diretor pedagógico da rede LFG. O juiz e professor Guilherme Dezem acrescenta: “O que noto é que não basta apenas o conhecimento formal das disciplinas tradicionais, cada vez mais se exige do candidato sólidos conhecimentos de cultura geral e boa capacidade interpretativa de textos, além de boa redação. Isto somente se obtém com leitura de boa literatura. Além disso, para aqueles que desejam carreiras que possuam prova oral, é fundamental que saibam falar bem. Boa opção é, desde logo, fazer treinos de provas orais”. Uma pós-graduação também pode auxiliar na formação do candidato, além de muitas vezes, no caso de concursos com provas de títulos, aumentar sua pontuação, embora não seja ainda pré-requisito. Dezem deixa ainda um último recado, fruto do aprendizado durante o período de concurseiro: “Nós somos do tamanho de nossos sonhos. O ser humano é capaz de tudo aquilo que ousar sonhar, basta lutar para tanto”.

Lygia Roncel/SP

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