Ao longo dos anos, diversas operações foram anunciadas como o 'fim da Cracolândia'. Abordagem policial prejudicou iniciativas e políticas públicas eficientes
Pedro Miranda Publicado em 08/01/2024, às 19h27
Trinta anos após a criação de uma delegacia especializada no combate ao crack, a Cracolândia, localizada na região central de São Paulo, continua a desafiar as autoridades e evidencia a complexidade das abordagens governamentais na luta contra o crack.
Em 1995, o governo de São Paulo inaugurou o 3º Distrito Policial vinculado ao Departamento de Investigações Sobre Narcóticos (Denarc), marcando o início das políticas de repressão contra o comércio e consumo de drogas na região.
Apesar das ações policiais, a Cracolândia permanece um ponto crítico, e as estatísticas revelam a persistência do desafio. Entre 2011 e 2023, mais de 5 mil boletins de ocorrência foram registrados em delegacias responsáveis pela região. No entanto, as operações policiais parecem ter pouco impacto na redução do uso ou venda de drogas.
O pesquisador Almir Felitte observa que a abordagem repressiva tem confinado pessoas, principalmente em situação de rua, à região da Cracolândia, impedindo a implementação de políticas mais abrangentes e humanizadas relacionadas ao uso de drogas.
Ao longo dos anos, diversas operações foram anunciadas como o 'fim da Cracolândia', mas a realidade complexa e multifacetada persiste. A ativista Roberta Costa destaca a violência em algumas dessas ações, como a Operação Dor e Sofrimento em 2012, que visava criar desconforto para incentivar as pessoas a buscar serviços públicos.
Em 2017, outra grande operação liderada pelo então prefeito João Doria também foi anunciada como o 'fim da Cracolândia', mas a aglomeração se deslocou para outra área da cidade. Felitte observa que a abordagem policial prejudicou iniciativas como o Programa De Braços Abertos, que oferecia moradia, renda e acompanhamento social a cerca de 400 pessoas.
O cenário persistente destaca a necessidade de repensar as estratégias, considerando abordagens mais inclusivas, centradas na saúde pública e na redução de danos. A questão da Cracolândia representa um desafio complexo e multifacetado que transcende as fronteiras da segurança pública, exigindo uma abordagem mais ampla e humanizada para lidar com as complexidades associadas ao uso de drogas.
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