No artigo desta semana, o colunista Gabriel Granjeiro explica que os erros são ferramentas para te edificar durante os processos da vida
Publieditorial Publicado em 23/06/2022, às 11h18
Uma das maiores verdades é a de que errar é humano. Nós erramos o tempo todo e, pra piorar, às vezes persistimos nos mesmos equívocos. Bem, há quem diga que, nesse caso, já se trata mais de burrice... Seja como for, há erros e erros.
Tomar uma decisão que desde o início se anunciava infeliz pode dizer muito sobre a pessoa, que talvez esteja tão apegada a suas verdades que se tornou cega a outras possibilidades e segue cometendo velhos erros. Por outro lado, reinventar-se, embora arriscado, pode render melhores frutos. Em outras palavras, se erros são inevitáveis, que nos lancemos aos novos.
Alguns erros são fatais e outros têm desdobramentos menos drásticos. Comer cogumelos venenosos, por exemplo, pode ser letal; incluir na dieta fungos do tipo comestível não. Aliás, algumas receitas ganham muito em sabor e potencial nutritivo quando o cozinheiro se arrisca a incluir cogumelos no preparo. Algumas tentativas podem ser bem-sucedidas, outras nem tanto, mas mesmo nos insucessos o chef ganhará em experiência.
A boa notícia é que a maioria dos enganos que cometemos são desse segundo tipo: não letais e edificantes. Eles ensinam e nos fazem avançar. Ou você acha que haveria inovação no mundo se as pessoas não cometessem erros nas muitas investidas antes do sucesso definitivo? Todos nós sentimos medo e eventualmente cometemos erros, sobretudo quando nos propomos a fazer algo extraordinário e totalmente novo.
Um erro, mesmo que trivial, não é para ser punido, mas tampouco é para ser aceito passivamente. A meu ver, ele deve ser corrigido. Assim como os problemas, erros não devem ser normalizados nem suportados indefinidamente em nossa vida; devem, sim, ser enfrentados e resolvidos o quanto antes.
Nesse campo, caro amigo, querida amiga, o perfeccionismo não faz o menor sentido. Não existem decisões certeiras quando se trata de fazer escolhas. Abstenha-se, portanto, de querer acertar cem por cento das vezes.
Uma decisão num sentido, nunca esqueçamos, implica contrariar outra no sentido inverso. Como se diz por aí, toda escolha pressupõe uma renúncia, que talvez lá na frente venha a se mostrar equivocada. Fazer o quê, senão aceitar que sempre nos é dado viver apenas parte das nossas possibilidades? Decidir raramente se revela um jogo de ganha-ganha no curto, no médio ou no longo prazo, então respeitemos a máxima segundo a qual é preciso perder antes de ganhar.
Muitos de nós têm tanto medo de errar que acabam cometendo o maior dos equívocos, o de se concentrar demais nos problemas e se esquecer de pensar em possíveis soluções ou de procurá-las nos lugares certos. Há uma parábola que resume bem essa ideia:
“Um sujeito passou a noite inteira debaixo de um poste de luz, tateando o chão como se estivesse procurando algo. Um garçom que observava a cena aguardou o fim do turno, foi até lá e perguntou ao homem, com a intenção de ajudar:
- O que você está procurando?
- Minha aliança de casamento, respondeu o sujeito.
- Você a perdeu aí debaixo do poste?
- Não, perdi em casa.
- Mas, se perdeu em casa, por que não procura por lá?, questionou o atônito garçom.
- Porque aqui está claro e em minha casa está escuro.”
Reparou como o homem tem tudo para não encontrar a aliança, já que a procura no lugar errado? Em outras palavras, ele finge buscar a solução para o seu problema, mas, na verdade, está bem longe disso.
Ele é como o concurseiro que erra quase todas as questões de língua portuguesa de uma prova elaborada pela FGV, e, a fim de corrigir o erro tático, decide estudar por meio de provas antigas da matéria, mas elaboradas pelo Cespe/Cebraspe.
Ora, é evidente que os resultados de agir assim não serão nada bons, afinal o equívoco está na base: procurar a solução no lugar errado.
Sei que ainda vou errar muito nas minhas escolhas e decisões, mas pretendo seguir o conselho que ouvi do meu pai a certa altura da vida e ora repasso a você, meu leal leitor: cometa erros novos.
Olhe, não foram poucas as dificuldades que enfrentei no meu contexto. Já sofri bastante, tendo, inclusive, tomado quatro tiros no rosto ao cometer o erro crasso de andar sozinho e despreocupado na madrugada de Nova Iorque, acreditando que era seguro. Acabei entrando para as estatísticas como um dos raros casos de agressão naquela área.
Na escola, apesar de sempre ter sido bom aluno, certa vez, querendo parecer legal aos colegas, cometi um erro que quase me rendeu a expulsão. Felizmente, o diretor resolveu me dar uma segunda chance, o que foi fundamental na minha trajetória, pois, sem essa nova oportunidade, eu jamais teria sido aceito na faculdade em que acabei me formando. (Essa história, aliás, me ensinou outra importante lição, a de que há muitas pessoas boas no caminho dispostas a nos dar segundas chances. Se for o seu caso, aproveite.)
Mais tarde, já na condição de empreendedor, voltei a errar, e não poucas vezes. Felizmente, porém, não foram erros fatais.
O que estou dizendo é que todos aprendemos com nossos erros. Quem consegue corrigi-los e não torna a cometê-los faz algo ainda mais valioso: os deixa no lugar em que devem ficar, isto é, no passado.
Rompem os vínculos com os equívocos de ontem e, assim, se libertam para as oportunidades de amanhã, exatamente como recomendava Steve Jobs: “Vamos inventar o amanhã em vez de ficar nos preocupando com o que aconteceu ontem”. Ora, nossos olhos estão no rosto, não nas costas, então é para frente que se olha. Se nosso futuro nos reserva mais alguns erros, sem problema. Desde que sejam erros novos.
Conta-se que um professor escreveu no quadro: 9x1=7; 9x2=18; 9x3=27; 9x4=36; 9x5=45; 9x6=54; 9x7=63; 9x8=72; 9x9=81; 9x10=90. Os alunos riram dele, e não faltaram piadas. O professor esperou todo mundo se calar e veio com a lição: “Errei de propósito, para demonstrar como o mundo reage diante de qualquer erro. Ninguém o elogia por ter acertado nove ou mil vezes, mas todos o ridicularizam, o humilham, tiram sarro se você tiver errado uma única vez.”
É real, amigo leitor: somos todos julgados, criticados, maltratados, torturados mesmo que tenhamos errado apenas uma vez. Então prepare a mente e o espírito para isso, aprendendo a lidar bem com a situação quando você falhar, especialmente se sabe que fez o melhor nas condições em que se encontrava, com as informações de que dispunha e no tempo que lhe foi dado.
Sigamos juntos, cometendo erros – como seres humanos que somos –, mas erros novos. Combinado?
“Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida ou como um resultado que aponta uma nova direção.” – Steve Jobs (1955-2011), empreendedor norte-americano.
*texto de Gabriel Granjeiro, diretor-presidente do Gran Cursos Online
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