Lista de ex-recenseadores inclui nomes como a apresentadora Ana Maria Braga e o jornalista Pedro Bial. Destinado a preencher mais de 200 mil vagas, concurso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) está com inscrições abertas
Samuel Peressin | samuel@jcconcursos.com.br Publicado em 09/03/2021, às 11h16 - Atualizado às 14h54
Estão abertas as inscrições para o concurso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) destinado a preencher 204.307 mil vagas. Desse total, 181.898 postos são para recenseador, cargo que já foi ocupado por nomes que hoje fazem sucesso na televisão e na música.
A convite do órgão, personalidades como a apresentadora Ana Maria Braga e o jornalista Pedro Bial, ambos da TV Globo, e o baterista André Jung relembraram suas experiências trabalhando no Censo Demográfico, que neste ano chega à edição número 13.
Em 1970, enquanto estudava para tentar uma vaga na faculdade, Ana Maria Braga encontrou na operação de recenseamento a oportunidade de faturar um dinheiro extra. Para isso, conta ela, encarou chuva, sol e calor batendo de casa em casa na cidade de São José do Rio Preto, no interior paulista.
“Eu sei que ganhei naquela época uma grana que me ajudou muito. No meu pré-vestibular, eu estudava até de madrugada para poder prestar o exame para entrar na universidade. E me lembro direitinho que me ajudou muito e trabalhei bastante, mas valeu muito a pena”, diz.
Antes de se tornar conhecido como correspondente de guerra, o jornalista Pedro Bial, então aos 22 anos, foi contratado pelo IBGE para atuar no Censo de 1980. O trabalho serviu para moldá-lo "não só como cidadão, mas também existencialmente", recorda.
"Foi uma experiência de profundidade existencial e humana para mim, que me formou. É daquelas experiências que mudam a sua vida. Tem o antes e o depois daquele julho ou agosto de 1980, meio do ano", afirma Bial.
Naquele mesmo ano, o baterista André Jung, que mais tarde faria sucesso com as bandas Titãs e Ira!, dava seus primeiros passos na carreira musical e se valeu do Censo Demográfico para conseguir investir em novos equipamentos.
“Eu estava doido para comprar umas congas [instrumento de percussão] e o dinheiro que eu ganharia como recenseador seria perfeito. Então me inscrevi na seleção, fiz o exame, passei, fui para o treinamento e comecei a trabalhar, aplicando os questionários em domicílios do bairro de Sumarezinho, em São Paulo. Foi uma experiência incrível, que eu guardo com muito carinho. Tenho muito orgulho de ter atuado numa coisa tão importante para a nação quanto um recenseamento”, relembra.
Não foi exatamente visitando domicílios, mas a jornalista e comentarista Flávia Oliveira, que atua na GloboNews, também já deu sua contribuição ao IBGE. Em 1986, quando cursava o último ano do ensino técnico em estatística, ela estagiou no órgão fazendo a revisão por amostragem de formulários censitários.
"A intimidade que a formação estatística me deu com números, com a capacidade de análise e de interpretação e de tabulação foi decisiva para a jornalista em que me transformei. Até hoje, os números e a produção estatística do IBGE são essenciais no meu trabalho como jornalista de economia e de temas sociais", declara.
Abaixo, confira a íntegra dos depoimentos concedidos por algumas personalidades ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
"Eu estava me preparando para o vestibular em São José do Rio Preto e não tinha grana. Aí, apareceu a inscrição do IBGE para trabalhar no Censo, e fiz uma área, o bairro da Boa Vista, junto com mais quatro universitários. A gente batia de casa em casa. Naquela época, não tinha essa coisa de você receber mapa pronto pelo Google, então, eles davam uma área, como se fosse, aqueles mapas de cidade com rua, e aí você tinha que seguir com chuva, com sol, com calor.
Então eu batia de casa em casa, ia sempre acompanhada de mais uma pessoa. Era preciso contar quantas pessoas moravam na casa, idade, profissão, escolaridade. Tinha de perguntar quantas geladeiras, se tinha geladeira, se tinha fogão, se tinha telefone, se tinha carro. Enfim, mas era um questionário bem complexo, e era tudo no papel, e você preenchia na mão tudo aquilo.
Quanto mais casas você visitasse, mais você terminava o seu trabalho, a cobertura de área. E era um trabalho de confiança, porque a pessoa podia dizer que tinha ido, mas não tinha. Hoje em dia, deve ter métodos mais avançados, até gostaria de saber. Sei que eu ganhei naquela época uma grana que me ajudou muito no meu pré-vestibular. Eu estudava até não sei que horas, de madrugada, pra poder prestar o exame pra entrar na faculdade. E eu me lembro direitinho, me ajudou bastante, trabalhei muito, mas valeu muito a pena. Foi isso aí! Manda um beijo para o pessoal do IBGE! Superbeijo! Lindo dia!"
"A minha experiência como recenseador no Censo de 1980, quando eu tinha 22 anos, foi um ritual de iniciação na vida adulta e no Brasil. Foi uma experiência de profundidade existencial e humana para mim, que me formou. É daquelas experiências que mudam a sua vida. Tem o antes e o depois daquele julho ou agosto de 1980, meio do ano.
A mim foi incumbido um quarteirão de Copacabana, no Posto 6, entre a Rua Barata Ribeiro e a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, com muitos prédios com dezenas de apartamentos. Acho que, ao todo, fiz mais de centenas de apartamentos, fiz milhares. Ia batendo de porta em porta, entrando, vendo as mais diferentes configurações familiares, gente, pessoas, famílias, níveis de renda. E eu me envolvia, já com meu jeitinho de repórter, cumpria o formulário, mas ficava observando. Aquilo foi um filme, mais do que um filme, uma série, e que me preparou para a vida, para o Brasil, para profissão de repórter.
Me emocionei seguidas vezes. Foi um negócio extraordinário; e, quando digo que foi um ritual de iniciação, é porque eu ainda morava com a minha mãe e, durante o Censo, fiz o movimento de sair de casa. Fui à luta, era o ingresso mesmo na vida adulta.
A experiência do recenseador é não só a experiência de estar contribuindo para o projeto Brasil, para algo grande, coletivo, para uma ideia de sociedade; como também, pessoalmente, individualmente, cada uma daquelas pessoas com quem tive contato, em cujas casas entrei, me moldaram não só como cidadão, mas também existencialmente, para a minha sensibilidade para com o outro, para as diferenças. Copacabana, né, um lugar onde tem tudo, muito. Esse foi o meu Censo."
"Em 1980, eu fazia jornalismo na ECA [Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo], apesar de estar focado mesmo em estudar música. Minha carreira como músico ainda estava começando, mas eu já sabia que era essa a profissão que eu queria seguir. Foi nessa época que vi uma notícia sobre o processo seletivo do IBGE para o Censo de 1980. Eu estava doido para comprar umas congas [instrumento de percussão] e o dinheiro que eu ganharia como recenseador seria perfeito. Então me inscrevi na seleção, fiz o exame, passei, fui para o treinamento e comecei a trabalhar, aplicando os questionários em domicílios do bairro de Sumarezinho, em São Paulo.
Foi uma experiência incrível, que eu guardo com muito carinho. Tenho muito orgulho de ter atuado numa coisa tão importante para a nação quanto um recenseamento. Além disso, com o meu trabalho no Censo, consegui o dinheiro para as minhas congas! Elas já estavam sendo fabricadas, porque eram feitas sob encomenda por um artesão. E eu fui buscá-las assim que recebi o dinheiro. Essas congas acompanharam a minha carreira. Em abril de 1981, comecei a tocar no Titãs e gravei o primeiro disco deles. Eu era o baterista da banda, mas toquei percussão em muitas músicas. E na faixa Querem Meu Sangue, que o Nando Reis canta, eu toquei um trechinho solo com as congas."
"Minha relação com o IBGE vem dos anos 1980. Em 1984, eu comecei a estudar na Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE, ainda hoje uma unidade de ensino mantida pelo IBGE, mas que, naquela época, tinha um curso técnico de ensino médio, à época segundo grau. Eu fiz o segundo grau técnico em estatística, portanto tenho uma formação em estatística que, sem dúvida alguma, para mim foi determinante na entrada no jornalismo econômico. A intimidade que a formação estatística me deu com números, com a capacidade de análise e de interpretação e de tabulação foi decisiva para a jornalista em que me transformei. Até hoje, os números e a produção estatística do IBGE são essenciais no meu trabalho como jornalista de economia e de temas sociais.
Em 1986, o último ano do curso técnico em estatística, eu estagiei na então sede do IBGE em Mangueira, no departamento de Economia. Eu fazia revisão por amostragem dos formulários do censo econômico. Então é uma ligação muito intensa por ter estudado em instalações do IBGE, por ter estagiado e, portanto, ter trabalhado. por um curto período, também numa instalação emblemática, o IBGE Mangueira, que não existe mais. E, ao longo de toda a minha trajetória profissional – lá se vão 28 anos de jornalismo –, também usando as informações e a produção do IBGE para ancorar meu trabalho jornalístico.
Não preciso nem dizer do meu pesar pelo adiamento do Censo 2020 para 2021 em razão da pandemia; e da minha alegria em ver o reinício da preparação das operações para essa pesquisa, que é o mais importante diagnóstico sobre a sociedade brasileira, sobre condições de vida, de renda, de acesso à educação e à habitação. A produção estatística do IBGE a partir do censo é elemento fundamental para o autoconhecimento da sociedade brasileira e, portanto, para o diagnóstico e elaboração e aplicação de políticas públicas. Parabéns ao IBGE! Vamos contribuir e, alegremente, participar do Censo 2021."
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+++ O JC Concursos disponibiliza mais detalhes sobre o processo seletivo, como atribuições, conteúdo programático e cronograma, na página do concurso do IBGE
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