Não há desemprego para profissionais da área e o momento atual é ideal
Redação Publicado em 01/12/2008, às 10h48
Até pouco tempo atrás, os contadores eram chamados de "guarda-livros". O mais famoso deles talvez tenha sido o grande poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), que realizava escritas e traduções comerciais em diversas firmas, sem horário fixo. Pessoa, inspirado em seu ganha-pão oficial, deu vida em seus livros a Bernardo Soares, um empregado do comércio. O termo "guarda-livros" caiu em desuso há cerca de trinta anos, quando as atividades do contador tomaram dimensões maiores e também alcançaram maior reconhecimento.
"O contador é o responsável por toda a contabilidade da empresa. E toda empresa é obrigada legalmente a contratar um", diz André Diniz Filho, coordenador do curso de Ciências Contábeis das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). É ele quem exerce a escrituração (registro dos fenômenos contábeis), as demonstrações (exibição do patrimônio de uma entidade e sua evolução), a auditoria (verificação da conformidade dos registros e procedimentos realizados) e análise de balanços (análise de fenômenos que afetaram o patrimônio). Além das pessoas jurídicas, as pessoas físicas também contratam seus serviços, quando, por exemplo, precisam elaborar anualmente a declaração do Imposto de Renda.
Segundo Diniz Filho, o momento atual é de extrema valorização do profissional de contabilidade, já que há a cultivação de valores e a imposição feitas pela própria sociedade, em que se tem dado muita atenção à transparência dos gastos e prestação de contas. Somado a isso, há o fato de uma nova lei (Lei nº 11.638), de 28 de dezembro de 2007, estabelecer a padronização internacional das demonstrações contábeis de companhias de grande porte (com ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual superior a R$ 300 milhões). Essa nova obrigatoriedade de as práticas contábeis brasileiras se adaptarem ao padrão internacional fará, segundo o coordenador da FMU, com que haja grande aumento da procura por profissionais da área, já que o prazo estabelecido para adequação à nova lei se encerrará no final de 2010.
Atuação
No dicionário Michaelis, encontra-se o termo "Contabilidade" descrito assim: "1. Arte de organizar os livros comerciais ou de escriturar contas. 2. Escrituração de receita e despesa de repartição do Estado, de casa comercial, industrial ou bancária, de qualquer administração pública ou particular (...)". Em verdade, o contador lida com registro, controle e informação dos fatos contábeis, três passos considerados essenciais para a organização das contas.
"Esta é uma profissão com desemprego zero", afirma o coordenador da FMU. De acordo com ele, existem 23 áreas de atuação para os profissionais da área. Há diversas oportunidades em concursos públicos, em controladoria, atuária, perícia contábil, planejamento tributário, consultoria, instituições de ensino e, principalmente, auditoria, tanto interna quanto externa.
Diniz Filho afirma que a bolsa-auxílio para estagiários varia entre R$ 800 e R$ 1 mil. Já Graciela Fernandes, aluna do 6º semestre do curso de Ciências Contábeis da FMU, diz que esse valor pode facilmente chegar a R$ 1,4 mil. Um recém-formado ganha em média de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil e, com alguma experiência, já é possível alcançar um salário de R$ 4 mil.
O curso
A graduação em Ciências Contábeis se dá em quatro anos (8 semestres). Durante o curso na FMU, por exemplo, o aluno terá aulas de Administração Financeira e Orçamentária Empresarial, Auditoria, Análise das Demonstrações Contábeis, Perícia Contábil, Planejamento Tributário, Técnica Comercial, Estatística, Controladoria, além de aulas específicas de Contabilidade (Aplicada, Avançada, Comercial, de Custos, em Comércio Exterior, Geral, Gerencial, Pública, Social e Ambiental) e as ligadas à área jurídica e de legislação (tributária, empresarial, previdenciária, trabalhista etc.).
O estágio é obrigatório nos dois últimos anos do curso, mas as oportunidades, segundo o coordenador, surgem assim que o curso tem início. “É muito comum que empresas de auditoria e escritórios procurem estagiários nos bancos de empregos da própria universidade”, conta ele. E acrescenta: “Só com a graduação, já se consegue alcançar bons patamares e fazer um bom plano de carreira, pois geralmente os profissionais são preparados para cargos de gerência”.
Perfil do aluno
Segundo Diniz Filho, o curso recebe alunos de todas as faixas etárias, inclusive profissionais que eram técnicos de contabilidade no passado e já atuam na área, e que voltam à procura da graduação superior. “Todos os alunos saem com oportunidades de emprego”, garante ele.
Os interessados no curso, de acordo com o coordenador, devem possuir raciocínio lógico e gostar de matemática e direito, além de terem iniciativa. Com a entrada em vigor da lei que estabelece a padronização internacional, aumentou a exigência sobre os profissionais da área e a fluência em um segundo idioma, em especial o inglês, tornou-se quase indispensável.
A aluna Graciela Fernandes se formará no final do próximo ano na FMU. Graciela tem 24 anos e atualmente trabalha como funcionária efetiva no comércio atacadista, na área fiscal e de RH. “Estava desempregada e comecei ajudando uma amiga que era contadora. Gostei daquilo e fui fazer um curso superior. Entrei na empresa na área administrativa, mas aproveitei o que aprendia no curso para mostrar que estava apta à área de contabilidade. Deu certo”, conta ela. Para o próximo ano, Graciela já pretende dar início a um curso de inglês. Depois de se formar, quer sair da área comercial e atuar em auditoria, sem deixar de se atualizar sempre com cursos específicos da área, para se inteirar das constantes mudanças que sofrem as legislações e a economia.
Lygia Roncel/SP