Com poucos cursos de formação nesta área, o mercado para este profissional é considerado muito promissor.
Redação Publicado em 16/12/2008, às 10h31
Apesar de ser regulamentada há mais de 20 anos, a profissão de Museólogo ainda é uma carreira pouco conhecida, tanto é que na maioria das vezes essa função acaba sendo exercida por profissionais de outros segmentos, como Historiadores, Pedagogos e Artistas Plásticos. No entanto, segundo Ivan Coelho de Sá, diretor da Escola de Museologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), nos últimos cincos anos o mercado de trabalho para o Museólogo tem crescido consideravelmente: “Isso vem ocorrendo graças à implementação de uma política específica para a consolidação dos museus, promovida pelo Ministério da Cultura. Há uma conscientização das instituições e empresas públicas e privadas, das Secretarias de Cultura das cidades do interior do país, que estão promovendo a criação de Museus, Núcleos, Casas de Memória, Ecomuseus e Centros Culturais. Estas ações repercutem diretamente no mercado, proporcionando à expansão da área técnica, ou seja, de todas as ações ligadas à prática museológica”, afirma o diretor.
Para a Museóloga e Coordenadora do Centro de Memória Bunge da Fundação Bunge, Marilúcia Bottallo, o maior desafio desta profissão ainda é a falta de cursos de formação na área. Porém, também ressalta que a profissão está em expansão e com um mercado bastante promissor.
“Hoje em dia o Museólogo pode atuar em várias fases do processo cultural, inclusive gerenciando produtoras como professor, pesquisador, em projetos expositivos, de ação educativa, em ações de preservação de acervos e documentos públicos e privados, como coordenador, diretor, entre outras. Isso quer dizer que é uma área que vem crescendo”, frisa a Museóloga.
Diante da falta de conhecimento que se tem desta área, é pouco provável que as pessoas saibam dizer ao certo qual o seu principal papel. Então, que tal conhecer quais as tarefas deste profissional pouco conhecido, mas com um amplo leque de possibilidades no mercado?
O Museólogo é o responsável por formular e executar políticas institucionais de preservação do patrimônio, atuando nas áreas de documentação museológica, pesquisa, conservação preventiva, comunicação, ação educativa para públicos específicos, elaboração e montagem de exposições.
O que difere o Museólogo de profissionais como o Historiador é que o primeiro consegue fazer a síntese de temas e traduzi-lo em uma exposição, apresentando-o por meio de objetos, fenômenos, enquanto que o outro trabalha com questões ligadas à pesquisa e aos estudos que fundamentam a compreensão do processo histórico. Segundo Marilúcia, nada impede que estes dois profissionais atuem como parceiros em um projeto expositivo.
Atualmente, no Brasil, encontram-se cursos de graduação em Museologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), que funciona desde 1932, constituindo-se o primeiro curso do gênero das Américas, e na Universidade Federal da Bahia (UFBA), desde 1970, o segundo do Brasil. De acordo com Sá, também foram implantados cursos de Museologia em várias regiões do país, entre os quais estão: o da Fundação Educacional Barriga Verde (Febave), em Orleans (SC), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira (BA), da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), em Pelotas (RS), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Ouro Preto (MG), da Universidade de Brasília (UnB), em Brasília (DF), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife (PE), da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém (PA), e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em Laranjeiras (SE).
“O recente desenvolvimento de uma Política Nacional de Museus tem estimulado a criação de novos cursos de Museologia, que constituirão importantes instrumentos na consolidação da Museologia, dos Museus e do profissional Museólogo”, diz o diretor.
Áreas de atuação
Diante deste cenário otimista, o museólogo é um profissional requisitado para atuar em diversos segmentos da área cultural, como Museus de História e Arte, Museus Arqueológicos e Etnográficos, Museus de Ciência e de Tecnologia, Ecomuseus e Museus Comunitários, Museus Universitários, Museus Militares, Fundações Culturais, Programas de Memória e Patrimônio, Centros de Pesquisa, Documentação e Informação, Centros de Conservação e Restauração, Sítios Arqueológicos e Históricos, Parques, Monumentos e Reservas Naturais, Cidades-monumento, Aquários, Zoológicos e Jardins Botânicos, Planetários, Secretarias e outros órgãos públicos de cultura e patrimônio, Arquivos e Bibliotecas, Antiquários e Galerias de Arte, Teatros e Redes de Televisão, Coleções Públicas e Particulares, empresas e até mesmo em projetos de exposição em universidades ou outros órgãos.
Perfil
Quem tem um perfil multidisciplinar, gosta de várias áreas das Ciências Humanas e Sociais como Arte, Antropologia, História, Filosofia e Sociologia, é curioso em saber sobre outras formas de cultura e se interessa por questões ligadas ao patrimônio cultural e natural é um candidato que possui forte tendência para se emaranhar neste universo do conhecimento.
Segundo Marilúcia, o Museólogo trabalha, sobretudo, com salvaguarda e comunicação do patrimônio preservado. Portanto, é preciso ter disposição e vontade de conhecer sempre mais. “As outras habilidades vêm com a formação e com a prática do dia-a-dia”, enfatiza.
Remuneração
Quanto ao salário deste profissional, Marilúcia afirma que a baixa remuneração do setor é típica da área cultural. “No entanto, a baixa remuneração é compensada por uma atividade de grandes recompensas cotidianas, como o convívio com os diferentes públicos, artistas, profissionais diversos e, sobretudo, acervos preservados que nada mais são do que a expressão do ser humano que somos”.
O Conselho Federal de Museologia (COFEM) estabelece pisos salariais iniciais de R$ 2.178 para jornada de 20 horas semanais, R$ 3.212 para a de 30 horas e R$ 4.356 para a de 40 horas.
Já quem possui mestrado pode chegar a ganhar até R$ 5.227, com jornada de trabalho de 40 horas; com doutorado, até R$ 6.267 para a mesmo período de tempo. “Só que na prática nem sempre estes parâmetros são respeitados, havendo muita discrepância em relação aos salários”, alerta Ivan.
Curso
O curso de Museologia oferecido pela UNIRIO, por exemplo, tem duração de quatro anos, o estágio curricular é realizado no 8º período, ou seja, no último ano, e possui carga horária de 255 horas. “O nosso curso investe numa formação mais ampla que possa preparar os graduandos para enfrentar a pluralidade de tipologias de Museus e acervos”, explica o diretor da escola.
As disciplinas que o curso oferece para seus alunos se estruturam em cinco eixos e são as seguintes:
• Museologia Geral: segundo Ivan, está é a “espinha dorsal” do curso, pois corresponde basicamente às disciplinas que estruturam o conhecimento e o pensamento museológico: Museologia, Patrimônio e Memória, Introdução à Museologia, Museologia I, II, III, IV, V e VI, Gestão de Museus e Administração de Coleções, Museus, Cultura e Sociedade;
• Museologia Específica: engloba as disciplinas predominantemente ligadas à prática: Museologia e Comunicação I, II, III, IV e V, Informação e Documentação Museológica I e II, Museologia e Preservação I, II, III e IV;
• Pesquisa: referente às disciplinas que instrumentalizam os métodos de pesquisa científica e dão subsídios para a elaboração da monografia final: Metodologia Científica, Metodologia da Pesquisa Aplicada à Museologia, Trabalho de Conclusão de Curso I e II;
• Estudos Gerais: refere-se às disciplinas de formação geral, ligadas, sobretudo, às áreas de conhecimento das Ciências Humanas e Sociais: Introdução à Ciência da Informação, Análise da Informação, Antropologia Cultural, Antropologia Cultural no Brasil, Antropologia dos Museus, Introdução à Sociologia, Introdução à Filosofia, Arqueologia Geral, Museologia e Arte Ocidental I, II, III e IV, História Moderna, História contemporânea, História do Brasil I, II e III, Ecologia Geral, Fundamentos de Geologia e Paleontologia, Patrimônio Natural;
• Museologia Aplicada: são disciplinas optativas que auxiliam na pesquisa museológica e dão suporte ao processamento técnico de acervos: Museologia Aplicada a Acervos I, II, III, IV, V, VI e VII, Introdução à Pesquisa Artística nos Museus, Tópicos Especiais I, II, III, IV e V, Conservação de Bens Culturais I,II, III, IV e V, Técnicas e Processos Artísticos, Artes e Técnicas Decorativas.
Patricia Magalhães/SP