Cerca de 350 profissionais de órgãos públicos estão envolvidos nas ações de monitoramento. Prefeito destacou que o plano de contingência abrange diversas hipóteses de colapso
Pedro Miranda Publicado em 01/12/2023, às 17h41
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, expressou preocupação com a iminência do colapso de uma mina da Braskem na capital alagoana, classificando o evento como "a maior tragédia urbana no mundo, em curso". Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (1º), o prefeito evitou fornecer horários específicos para a ocorrência, visando reduzir a ansiedade da população.
Segundo o prefeito, equipamentos modernos estão sendo empregados para calcular o afundamento do solo, direção e intensidade desse movimento. Cerca de 350 profissionais de órgãos públicos estão envolvidos nas ações de monitoramento. O afundamento, registrado em 5 centímetros por hora na manhã de hoje, afeta principalmente o bairro do Mutange.
O foco principal da Prefeitura tem sido a preservação de vidas, com a realocação de 60 mil pessoas de cinco bairros afetados e a evacuação completa da área de risco. O prefeito destacou que o plano de contingência abrange diversas hipóteses de colapso, e todos os protocolos estão sendo rigorosamente seguidos pela Defesa Civil de Maceió.
O caso remonta a março de 2018, quando o primeiro abalo sísmico foi registrado na região, chamando a atenção das autoridades. Em 2019, a Prefeitura de Maceió decretou emergência devido ao risco iminente de colapso de uma mina da Braskem na Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange.
A Braskem informou que estão sendo tomadas todas as medidas cabíveis para mitigar o impacto, compartilhando dados de monitoramento em tempo real com as autoridades competentes. As minas de Maceió, abertas pela extração de sal-gema, têm sido alvo de atenção desde 2019, quando o afundamento do solo resultou na interdição de bairros inteiros da capital alagoana.
O Ministério Público Federal em Alagoas acompanha o caso desde 2018 e, em julho deste ano, a prefeitura fechou um acordo com a Braskem assegurando uma indenização de R$ 1,7 bilhão devido ao afundamento dos bairros afetados desde 2018.
A exploração mineradora em Maceió iniciou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, posteriormente denominada Braskem, obtendo autorização governamental para a extração de sal-gema, um mineral essencial na produção de soda cáustica e PVC.
Em fevereiro de 2018, sinais alarmantes surgiram no bairro do Pinheiro, incluindo uma extensa rachadura com 280 metros de comprimento. O mês seguinte testemunhou um tremor de magnitude 2,5, exacerbando as rachaduras e gerando crateras no solo, resultando em danos irreparáveis às propriedades.
Apenas um ano depois, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), vinculado ao governo federal, confirmou que a atividade mineradora foi responsável pela instabilidade do solo. Em junho de 2019, ordens de evacuação foram emitidas para os residentes do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. À medida que a situação se agravava, a evacuação foi estendida para partes do Bom Parto e do Farol.
Desde então, mais de 14 mil propriedades foram desocupadas na região, impactando aproximadamente 55 mil pessoas e transformando o que antes eram bairros movimentados em áreas quase desertas.
Diante das conclusões sobre a mineração como a principal causa da instabilidade do solo, a Braskem iniciou um intenso esforço para fechar e estabilizar 35 minas na região do Mutange e Bebedouro, com profundidade média de 886 metros. No entanto, após cinco tremores de terra apenas no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o "risco de colapso em uma das minas", especificamente a de número 18, próxima à lagoa Mundaú, o que poderia resultar em uma enorme cratera.
O professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, destaca a possibilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas adjacentes, formando uma cratera com dimensões comparáveis ao estádio do Maracanã.
O colapso potencial da mina 18 poderia levar à entrada de água da lagoa, terra e detritos, formando um lago com profundidade entre 8 a 10 metros. A Defesa Civil alerta que esse evento transformaria a água da lagoa em salgada, resultando em impactos significativos em toda a área de mangue na região.
+ Acompanhe as principais informações sobre Sociedade e Brasil no JC Concursos
Sociedade Brasil