Relatos sobre o medicamento Zolpidem têm dominado as redes sociais e voltado ao debate sobre os riscos para a saúde; uso inadequado cresce no país
Jean Albuquerque Publicado em 13/11/2022, às 08h54
Os relatos sobre o medicamento Zolpidem, que é um calmante para dormir, têm dominado as redes sociais e voltado ao debate sobre os riscos para a saúde. São comuns relatos como: "dirigi dormindo", "mandei áudios no grupo de trabalho" e "fiz compras sem necessidade".
Alguns especialistas têm alertado que o medicamento não é o problema, mas o uso inadequado que cresce no país. Só para se ter uma ideia, segundo informações da Agência O GLOBO, a compra cresceu entre os brasileiros, de 2017 até 2020, houve um aumento de 121,5%. Em 2021, houve uma breve queda, o ano terminou com 19 milhões de embalagens comercializadas. Já em 2022, entre os seis primeiros meses já foram vendidas 10,6 milhões.
O aumento do uso também pode ser percebido a partir dos dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que revela o crescimento das vendas no país em 560%, entre 2011 e 2018. Já apenas em 2020, foram vendidas 8,73 milhões de caixas do medicamento nas farmácias brasileiras.
De acordo com a coordenadora do Ambulatório de Sono do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Rosa Hasan, ouvida pela agência, o crescimento se dá porque muitos médicos que prescreviam benzodiazepínicos, que é de uma geração anterior de remédios para a insônia, passaram a indicar o Zolpidem.
"Mas também é pelo fácil acesso, que leva ao uso abusivo e inadequado, até mesmo de forma recreativa, o que é muito grave. E tem também essa característica de hoje as pessoas quererem ter tudo sob controle, até mesmo o adormecer, sendo que a realidade não é bem assim", avalia a especialista.
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Os efeitos colaterais relacionados ao uso do remédio são conhecidos, dentre eles estão a amnésia, agitação e pesadelos, além do sonambulismo. A consequência afeta cerca de 5,1% dos pacientes, segundo estudo publicado no European Journal of Neuropsychopharmacology, mas especialistas alertam que naqueles que o utilizam de forma inadequada, como levantar da cama ou por mais tempo do que o recomendado, até 4 semanas, a probabilidade é muito maior.
A dona de casa Rica Gomes Todeschini, de 49 anos, moradora de São Paulo, ouvida pelo O GLOBO, afirma que o sonambulismo foi o que a levou a parar de tomar a medicação. Começou a tomar o Zolpidem por indicação médica em 2019, após perder a mãe e ter descoberto um nódulo no pâncreas, o que fez com que ela tivesse dificuldades para dormir.
A neurologista Dalva Poyares, professora de medicina do sono na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono, ouvida pela aG6encia, explica que o Zolpidem não pode ser considerado um vilão, mas nos anos 1990 se tornava uma promessa perfeita para o fim da insônia.
"Ele é um hipnótico muito mais específico, atua no subtipo de receptor chamado GABAA. Quando ele se liga, ele vai especificamente para um local onde existe o efeito de fazer a pessoa dormir rapidamente. Outros remédios induzem o sono de uma maneira menos abrupta, por serem menos específicos, aos poucos", acrescenta.
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