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A Brasília do bombeiro

Luciano Pereira dos Santos, 32, descreve sua experiência em dez anos como bombeiro.

Redação
Publicado em 29/10/2010, às 14h52

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 “Se não me falha a memória, a história mais marcante que me aconteceu nos Bombeiros foi em 2004. Estávamos servindo no quartel e todas as viaturas estavam quebradas. Chegou uma viatura da PRF (Polícia Rodoviária Federal) com uma gestante em trabalho de parto. Lembro bem porque foi no dia dos pais. Tive que fazer o parto com recursos mínimos e tinha algumas complicações, como o bebê estar com o cordão umbilical enrolado no pescoço. No final, tudo acabou bem. Era uma menina”. Foi assim que Luciano Pereira dos Santos, 32, descreveu sua experiência mais marcante em dez anos como bombeiro. O terceiro sargento nos contou como uma crise econômica o levou a realização profissional graças a um concurso público.

Falar em crise cambial, hoje parece algo muito distante, quase uma marolinha. Mas nem faz tanto tempo assim. Corria o ano de 1999 quando Luciano perdeu o emprego em uma empresa no Aeroporto Internacional de Brasília (DF) – Juscelino Kubistchek. Para enfrentar a crise, a empresa decidiu por um corte no quadro de funcionários. “Decidi que não queria mais passar por aquilo e fui estudar”, disse.


Não havia concurso aberto naqueles primeiros dias, mas isso não o impediu. Pegou livros escolares de segundo grau e começou a estudar português e matemática por serem matérias comuns a várias carreiras. Escolhia livros com exercícios resolvidos para que pudesse compreender o raciocínio de todo tipo de equação.


Luciano adotou rotina e ritmo militares de preparação: “Estudava umas doze horas por dia. Como fiz técnico em contabilidade não tive química, física, história, biologia... Mas tive sorte porque contava com uma boa condição familiar, que permitiu que eu ficasse só a cargo dos estudos”.

Quando saiu o edital para o Banco do Brasil, Luciano comprou apostila para estudar as matérias específicas. Não foi aprovado, mas perseverou.  Pouco tempo depois saíram os editais para o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e para a Secretaria Estadual de Saúde.

De cara, o concurso para os bombeiros foi o que mais interessou Luciano. A oportunidade recuperava o sonho de menino de vestir o mítico uniforme vermelho. O mesmo uniforme que muitos vizinhos de sua casa de infância em Sobradinho, região administrativa de Brasília, envergavam em missões diárias.  A coincidência tem motivo: parte das moradias de Sobradinho foi planejada para abrigar, justamente, os membros da corporação.


Os estudos agora contavam com uma preparação extra, específica para a prova física. Resgatar de gatinhos em árvores a mocinhas em prédios em chamas requer fôlego. Nesse período, Luciano abriu mão da solidão e realizava os exercícios físicos com um amigo que também prestaria o concurso. “A prova física não é um bicho de sete cabeças porque, na verdade, não é nada sobre-humano, são índices mínimos que se a pessoa treinar sozinha, consegue”, explicou ele. Mais 24 mil candidatos também se preparavam.


Na prova objetiva, o nome de Luciano aparecia na 136ª colocação. Após as demais etapas (exames biomédicos, psicotécnicos, investigação social, etc),  ele havia subido para a 76ª posição. Não esquecendo de contar que ele também foi aprovado para a Secretaria de Saúde, mas nem cogitou trocar de posto.


Após a posse, Luciano não perdeu a motivação. Para alcançar patentes superiores, prestou concursos internos. Também fez cursos, entre eles a especialização em atendimento hospitalar, que lhe permitiu a atuação como paramédico, nome pelo qual são chamados os socorristas ou técnicos hospitalares no Brasil em referência ao termo usado nos Estados Unidos.


Seguir uma carreira militar para ele também não é um problema. “Costumo parafrasear um professor meu que diz que para ser um bom militar basta ser educado. Tenho que acordar todo dia às 5h40, mas faz parte”, contou ele com a tranquilidade de quem não tem sonhos em haver.  “Nunca mais quero voltar pra iniciativa privada, o emprego público te traz uma estabilidade e segurança que ela não te traz. Tenho um salário bem razoável,  não existe emprego que pague o que recebo.

Mesmo que pagasse o dobro, não iria. A coisa mais gratificante é você ajudar os outros, salvar vidas. Não tem salário que pague a forma que a pessoa te olha quando você a ajuda”, revelou.

Aline Viana/SP


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