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Concordância é assunto recorrente nos concursos

João Bolognesi fala sobre concordância, assunto recorrente nos concursos públicos

Lucas Vasconcellos
Publicado em 26/03/2013, às 12h14

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Concordar significa harmonizar, ajustar, combinar, conciliar. Tem origem na palavra latina cor/cordis, que significa coração, ou seja, concordar remete à harmonia entre corações. Apesar de tantas contrariedades que a vida nos submete, ela só vale a pena quando há aqueles momentos sublimes em que predominam amizade, amor, conciliação, fidelidade... predominam momentos de concordância.

Nos estudos gramaticais também existe concordância e, entre outras, temos a harmonia necessária entre verbo e sujeito. Apesar de haver algumas regras excepcionais, globalmente predomina a regra geral: o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito. Essa regra, como se nota, é enxuta e bem objetiva, mas muitos sofrem para praticá-la com dignidade.

A escola frisa bastante que o verbo concorda com o sujeito, porém falta mais precisão à regra, pois, salvo as exceções, o verbo concorda é com o núcleo do sujeito. Essa é a primeira regra que se deve aprender.

Deve-se ter o núcleo do sujeito na palma da mão, pois ele será essencial para organizar a análise. Uma de suas características é não vir preposicionado.

Por exemplo, em “a análise dos médicos foi feita”, análise é o núcleo; em “a resposta dos professores aos alunos será dada”, resposta é o núcleo.

Quando corrijo uma dissertação, rara é aquela que não traz “discordância”. Analisemos um exemplo real: “Ao reclamante em situação semelhante seria concedido os benefícios da justiça gratuita”.

A concordância correta é “seriam concedidos”. Eu, no silêncio de minhas reflexões, indago-me: o que causa tal falha? Por que, sendo a regra tão simples, é desrespeitada tantas vezes? Na frase acima, por exemplo, a ordem inversa e o termo secundário (“ao reclamante”) contribuem para que a análise sintática perca a precisão.

Para quem se prepara para um concurso, essa noção – a de estudar as causas que levam alguém a não concordar o verbo com o núcleo do sujeito – é fundamental, pois é com essa experiência que poderão ser antevistos os perigos, os descaminhos, as tocaias e as camuflagens que toda questão resguarda em si.

Uma das formas mais comuns de produzir o erro nas questões de concurso é distanciar o verbo do núcleo do sujeito. Além disso, a musicalidade ao redor do verbo também influi negativamente, induzindo o usuário à tentação de concordar “de ouvido”. Juntos, distância e musicalidade são perigos mortíferos: erra-se sem sentir dor. Observe um exemplo: “A análise dos autores dos crimes revelarão novas perspectivas para o caso”.

O correto é “revelará”, pois o núcleo do sujeito é “análise”. Identificar o erro é importante, mas entender por que se erra é vital para reduzir as falhas. Não deixe de notar que ao lado do núcleo “análise” aparecem termos em função secundária (dos autores dos crimes) e a presença deles gera uma“poluição”, já que temos um sujeito com vários componentes. Para piorar, tudo que não é núcleo e está ao redor do verbo aparece no plural: autores,crimes, novas perspectivas. Essa musicalidade periférica ao verbo distrai a análise.

Nós, brasileiros, somos um povo apaixonado por música. Não sei por quê, mas em particular há algumas músicas que ficam perpetuadas na memória. Por mais que você tente não pensar nelas, elas aparecem por conta própria. Façam uma retrospectiva comigo: já cantamos “Eguinha Pocotó” com o Lacraia (que Deus o tenha), já gingamos com “Festa no Apê” do Latino, já chegamos até o “Rebolation” e hoje em dia entramos em uma insuportável sequência de onomatopeias eróticas: lelelê, parapapá, tchê tchê re re e tchu tcha tcha.

Com essa cantoria, nossos ouvidos perdem a delicadeza, a nossa sensibilidade vai para o beleléu! Não tenham dúvida de que conviver com essa musicalidade contribui com vários distúrbios, entre eles as falhas de concordância.

Voltando às provas, observem 5 exemplos da armadilha criada pela distância e musicalidade (em destaque o núcleo do sujeito e o verbo com a concordância errada):

- O setor de fundos de investimentos encolhe­ram no segundo semestre de 1997.

- O funcionamento dos dois hemisférios cerebrais são necessários tanto para as atividades artísticas como para as científicas.

- Normalmente, a aplicação de métodos quantitativos e exatos acabam por distorcer as linhas de raciocínio em ciências humanas.

- A busca da competitividade da indústria brasileira de software e outros produtos passam, necessariamente, pelo alcance de padrões.

- O maior dos paradoxos das eleições, de acordo com as ponderações do autor, se verificariam nos caminhos nada democráticos que se trilham para defender a democracia.

Conclui-se que não se pode concordar com qualquer coisa que apareça pela frente. O princípio é encontrar o verbo e o sujeito e, em seguida, focar no núcleo do sujeito. Isso, sim, dará bons resultados. A musicalidade ao redor do verbo é um canto de sereia, portanto abram os olhos e tampem os ouvidos.

João Bolognesi é professor de português para concursos do Complexo Educacional Damásio de Jesus, mestre em língua portuguesa pela PUC-SP e graduado em jornalismo pela UNESP e em letras pela Universidade do Sagrado Coração. É autor de obras didáticas voltadas para o ensino do nosso idioma, sempre com destaque aos temas gramaticais e textuais.

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