Sandra Ceraldi CarrascoAtenção para alguns verbos!
Os verbos terminados em "-iar" são regulares. Vamos tomar como exemplo "renunciar": "eu renuncio", "ele renuncia", "eles renunciam", "eu renunciava", "nós renunciávamos", "eles renunciavam", "que eu renuncie", "que eles renunciem", "se eu renunciasse", "se nós renunciássemos" etc. Entretanto, há seis verbos terminados em "-iar" que não seguem a conjugação regular. Cinco deles ("mediar", "ansiar", "remediar", "incendiar" e "odiar") permitem que se forme o anagrama "MARIO". O sexto é "intermediar", derivado de "mediar".
Esses seis verbos não seguem a conjugação de "renunciar" ou a de qualquer verbo regular terminado em "-iar", fato confirmado pelos registros das gramáticas e dos dicionários brasileiros, que, geralmente, dão a esses seis a denominação de irregulares. A conjugação acaba aproximando-se da dos que terminam em "-ear", uma vez que, no presente do indicativo e no do subjuntivo, ocorrem quatro flexões (eu, tu, ele e eles) com o grupo "ei".
Analise o verbo "odiar": "eu odeio, tu odeias, ele odeia, nós odiamos, vós odiais, eles odeiam" (presente do indicativo); "que eu odeie, que tu odeies, que ele odeie, que nós odiemos, que vós odieis, que eles odeiem" (presente do subjuntivo).
Os outros verbos que integram o "MARIO" seguem os passos de "odiar". Vejamos "mediar", por exemplo: "eu medeio, tu medeias, ele medeia, nós mediamos, vós mediais, eles medeiam" (presente do indicativo); "que eu medeie, que tu medeies, que ele medeie..." (presente do subjuntivo). As flexões de "incendiar" vão pelo mesmo caminho: "eu incendeio", "ele incendeia", "nós incendiamos", "eles incendeiam", "que eu incendeie", "que nós incendiemos", "que eles incendeiem" etc.
Muito pouco usadas na língua oral, as flexões de "mediar", "intermediar" e "remediar" normalmente surpreendem os falantes quando aparecem em títulos jornalísticos ou em provérbios como "Instituto intermedeia negociação", "Brasil medeia transações internacionais" ou "Quem não previne remedeia", nos quais se verifica o emprego das formas verbais abonadas pelos dicionários e gramáticas.
Essa surpresa revela o fato de que o falante talvez tendesse a conjugar esses três verbos como regulares ("Instituto intermedia..."; "Brasil media..."; "Quem não previne remedia"). Em se tratando de língua culta, as formas consagradas são mesmo "medeio", "intermedeio", "medeia", "intermedeia", "remedeio", "remedeia"etc.
É preciso lembrar que em Portugal são mais de seis os verbos terminados em "-iar" cujas flexões sofrem influência das dos verbos que terminam em "-ear". Não é raro encontrarmos, no uso oral e no literário, formas como "premeia" e "negoceia". Nos registros formais do Brasil, essas flexões não encontram abrigo.
Bons Estudos!
Professora Sandra Ceraldi Carrasco, consultora e especialista em Língua Portuguesa, autora de livros e periódicos na área. Há mais de 20 anos ministra cursos e palestras, com índice recorde de aprovação. Seu mais recente trabalho aborda de forma prática o Acordo Ortográfico. Atualmente é coordenadora do curso preparatório IPA. Contato: professora.sandracarrasco@uol.com.br.Siga o JC Concursos no Google News