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Cheddar, molhos especiais e cifras extras

Os faturamentos, que já chegaram a atingir R$ 200 mil por mês, hoje atingem uma média de R$ 60 mil.

Redação
Publicado em 11/09/2009, às 15h17

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Três horas da tarde. Nas mesas quadradas, misturam-se homens de terno, jovens despojados e pessoas dos mais variados estilos. Estão abrigados embaixo dos guarda-sóis alaranjados que protegem do calor pouco habitual na cidade de São Paulo. Apesar da temperatura elevada, intensificada pelo ar estagnado, eles não procuram por sombra, como seria de imaginar. E, contrariando também a diversidade de aparências, executam ali a mesma tarefa, quase como trabalhadores operários. Com a diferença de que, na repetição de movimentos, beneficiam-se com a nada cansativa função de levar um imenso hot-dog à boca: alegram-se a cada mordida dada.

Entre a movimentação nada desanimadora para o meio da tarde (já que o local tem fama de boêmio e costuma atrair os baladeiros de plantão na pré ou pós-saída noturna), Leandro Neves aparenta estar atarefado. De jeans, camiseta e tênis, ele logo respira e aconchega-se em seu império: o Black Dog.

Foi após terminar o colegial que Leandro começou a enveredar pelo caminho que o levaria à famosa marca de hot-dogs de São Paulo. Junto com um amigo, decidiu utilizar a Kombi do pai para abrir seu próprio negócio. Compraram um carrinho de cachorro-quente: enquanto o amigo era responsável pelas vendas, Leandro se ocupava do cargo de motorista, levando e trazendo o colega diariamente. A divisão não deu nada certo e a desistência do amigo diante das difíceis horas na calçada veio logo. Sem desanimar, Leandro assumiu a tarefa.


A preparação foram conversas com trabalhadores que observava nas ruas. Alguns diziam vender mil lanches por dia, declarações que fizeram saltar os olhos de Leandro. Na época, com ambições da proporção de um menino de 18 anos, planejou-se para os lucros de dois, três mil reais por mês.

De início, vendia em frente à loja de tintas de seu pai, onde já havia trabalhado como office-boy. Mas logo foi atraído pela movimentação da avenida Paulista e de uma faculdade, estabelecendo-se em frente ao prédio da Gazeta.


O pai, que até então era patrão na loja de tintas, passou logo a funcionário do filho quando a empresa (que ia mal das pernas) fechou, ajudando no novo negócio. Enquanto os outros “dogueiros” vendiam o lanche por um preço quase de tabela, por volta de cinquenta centavos,

Leandro cobrava alto: R$ 1,50. O custo era justificado por todos os diferenciais, contabilizados em cheddar, muitos tipos de molhos e outros tantos diferentes ingredientes. Isso sem contar os sorteios que promovia para aumentar as vendagens. A barraca logo virou 24 horas e a pretensão de um salário de três mil reais por mês se transformou em faturamentos sólidos, contabilizados em cerca de 40 mil.


Sete anos após o início do negócio, veio a primeira loja, que não passava de um corredor estreito próximo ao ponto inicial (para não perder a clientela). Daí em diante o empreendimento não parou mais de crescer. Em 2005, vieram as franquias e, dessa vez, a falta de pesquisa e planejamento pesou. Foram problemas com administração, perfis inadequados, entre tantos outros. As 16 lojas viraram 11. Algumas fecharam, outras tiveram que retirar a marca por não atender aos padrões desejados.


Pela falta de empresas de hot-dog e pela vontade de passar à frente, Leandro confessa ter caído num erro: o de tentar copiar. Entre os deslizes, a tentativa de criar um lanche combo (que saía mais barato do que os itens separados, forçando os consumidores a comprar o integrado) não foi sucesso. O crescimento, baseado em grande parte na análise dos erros e acertos, deixou Leandro mais atento, embora muitas das falhas tenham afastado os discípulos fiéis, que o acompanhavam desde a época da barraquinha (os faturamentos, que já chegaram a atingir R$ 200 mil por mês, hoje atingem uma média de R$ 60 mil).


Recém-formado na faculdade de Gestão Empreendedora, na Universidade Paulista (Unip), Leandro quer colocar os aprendizados em prática e aumentar sua rede. Inspirado no livro A Estratégia do Oceano Azul, que defende a tese de que as empresas devem parar de olhar para os concorrentes e começar a procurar oportunidades alternativas que valorizem suas competências, Leandro está certo de que deve continuar inovando para manter seu oceano azul particular: o Black Dog.


Nina Rahe/SP


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