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Ah, os clichês...

Em nova edição da coluna, os clichês cinematográficos a respeito de algumas profissões são debatidos

Redação
Publicado em 31/08/2012, às 16h02

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O cinema tem fetiche por certas profissões. Quem nunca viu um filme sobre duplas de detetives ou sobre um médico plantonista brigando contra o sono? Essa própria coluna se alimenta desse impulso para proporcionar ao leitor, como um contraponto ao rigor das notícias, um painel sobre o mundo profissional. Esse complemento que se pretende mais leve, mas não se desvia da análise, vez ou outra também belisca o clichê.

Não teria como não ser assim. Como diria Woody Allen, e certamente muitos outros antes dele, a vida é um clichê.  Por que certas profissões acabam recebendo registros unidimensionais no cinema, no entanto, é algo que excede essa medição. Parte da resposta está vinculada à percepção social de algumas funções. A visão que se tem do jornalismo, por exemplo, é bastante romântica. Filmes como “Intrigas de estado” louvam o compromisso com a verdade inerente à profissão. O zelo pelos ideais democráticos substanciados pela atividade jornalística abastece a trama que acompanha um jornalista investigativo (papel vivido por Russel Crowe) que tenta desbaratar uma intricada conspiração política. A trama ganha relevo atual ao confrontar o jornalismo tradicional com o da “geração 2.0”, encarnado na figura da blogueira vivida por Rachel McAdams.

Os personagens também são calcados em percepções livres que se erigem a respeito desses profissionais. Mas elas são construções funcionais e muitas vezes verificáveis.

Mas o clichê é, também, uma faca de dois gumes. Filmes como “O quarto poder” atentam para o “lado negro da força” da atividade jornalística. Na fita do grego Costa-Gravas, Dustin Hoffman vive um experiente jornalista que vê em uma situação de sequestro, a possibilidade de voltar a seus dias de glória. A manipulação da ação passa a ser seu objetivo. Esse tipo de crítica pode ser encontrado em outros filmes, como, por exemplo, “A montanha dos sete abutres” ou “O preço de uma verdade”. No primeiro, um veterano jornalista se aproveita de um desastre envolvendo mineiros para ganhar notoriedade profissional; enquanto que no segundo, baseado em fatos reais, um jornalista promissor do New York Times ascende profissionalmente inventando ou distorcendo fatos de muitas de suas reportagens.

O mundo da moda, que sempre nos parece tão excêntrico e ostensivo, é parodiado com alguma assertividade em “Zoolander”. No filme, Ben Stiller vive o super modelo internacional que dá nome ao filme. Só que ele está em crise por já não ser mais o número 1. Exploração do trabalho infantil, egos inflamados e mais de uma dúzia de participações especiais engraçadíssimas dão o tom dessa sátira afinada.

Parece claro que os mais manjados clichês podem render bons filmes. É o caso de “O poder e a lei”, em que um advogado (vivido com surpreendente firmeza por Matthew McConaughey), que só defende, e com desembaraço, a escória vai levando uma ducha de moral ao longo do filme. Ainda que a metodologia do protagonista não sofra grandes alterações, “O poder e a lei” é um bom exemplo de um filme que embrulha os clichês para presente.

Esses recortes, por vezes críticos, por vezes condescendentes, geralmente factíveis, são o que aproximam àquela velha máxima “a vida imita a arte e vice-versa” da nossa vã filosofia.

Por Reinaldo Matheus Glioche/SP

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