O ser humano é resistente a mudanças por natureza. Ironia suprema é a constatação de que, entretanto, a espécie humana é aquela dotada de maior capacidade de adaptação. O que não quer dizer que as mudanças ou transformações sejam menos difíceis. Essa lógica transferida para um contexto sócio-cultural infere em angústias que todos atravessamos: o fim de um relacionamento amoroso, mudanças de emprego, mudança de classe social, entre outros.
Nesse contexto, o cinema encontra espaço para dialogar com nossas aflições de maneiras, no mínimo, inusitadas. Está em cartaz nos cinemas brasileiros “O homem que mudou o jogo”. O filme é ambientado na esfera esportiva – mais propriamente no jogo de bastidores do baseball – mas fala, entre outras humanidades, da coragem de propor e enfrentar mudanças.
Brad Pitt faz o gerente esportivo do que seria um “time pequeno” da liga de baseball. Sem dispor de um orçamento elástico que o possibilite medir forças com os principais times da liga, ele desenvolve junto com um jovem economista um modelo revolucionário para montar equipes competitivas a partir de estatísticas e projeções matemáticas. A ideia esbarra na visão romântica e anacrônica que impera no meio esportivo. O que “O homem que mudou o jogo”, que é baseado em fatos reais, advoga é a noção de que o empreendedorismo enquanto conceito é muito mais amplo do que se imagina. Não se trata apenas de construir uma empresa. Construir uma vida, um legado devem ser tomados como medidas igualmente empreendedoras. Para dimensionar esse argumento é válido recorrer a outra produção exibida recentemente no país. Ainda que “Compramos um zoológico” seja menos racional e mais sentimental do que o filme estrelado por Brad Pitt, preserva a mesma essência: apresentar personagens suficientemente corajosos para enfrentar mudanças (profissionais) que redefinirão suas vidas. A mudança na vida do personagem de Matt Damon em “Compramos um zoológico” tem motivação emocional. Após a morte da esposa, o jornalista se vê enclausurado em uma vida que não mais lhe desperta emoção. Com propósito terapêutico e contra todas as recomendações, ele compra um zoológico de pequeno porte na expectativa de fomentar novas perspectivas para ele e seus filhos enlutados. Não é preciso dizer que a experiência, além de confortadora, abrirá novos horizontes para a família.
O que esses filmes irrompem é o sentido que toda força criativa, toda propulsão instintiva deve ser considerada. O que não quer dizer que se deve seguir todo o impulso ou desejo que se manifeste, mas pensá-los sob diferentes perspectivas. Outra apólice nesse pensamento vem do premiado “A rede social”. O filme que recria as circunstâncias do surgimento do site de relacionamentos Facebook é uma investigação inteligentemente articulada de como eventos aparentemente banais culminaram na construção de um grande império econômico – ainda que tenha custado uma amizade e alguns processos judiciais. Uma sugestão cuidadosamente ardilosa do filme dirigido por David Fincher é de que o conceito do Facebook começou a tomar forma após Mark Zuckerberg levar um ruidoso fora de sua namorada em um café nos arredores da universidade de Harvard. O que se vislumbra em “A rede social” é como Zuckerberg vai encorpando uma ideia que vai gerando novas ambições conforme cresce de tamanho. Primeiro é uma vingança, depois um surto de vaidade por notoriedade no campus, logo se transforma na possibilidade de um negócio e por aí vai...
“O homem que mudou o jogo”, “A rede social” e “Compramos um zoológico”, por mais diferentes que sejam em estrutura e dinâmica, apresentam personagens que não se ressentem de serem obstinados.
É uma mensagem bem cara ao meio empresarial ou profissional, mas que faz ainda mais sentido na lógica que nos move em nossas escolhas mais pessoais.
Por Reinaldo Matheus Glioche
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