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A síndrome do aluno nota 10

Ser um sucesso em comparação aos 50, 100 alunos da escola e da faculdade é – sem dúvida – um feito. Mas estar entre os melhores quando o universo a ser considerado é de 10 mil, 100 mil pessoas… bom, amigo. Daí o papo é outro.

Gabriela Knoblauch
Publicado em 23/03/2017, às 16h37

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Você era a criança prodígio da escola. O orgulho da família. Seu futuro era promissor. Todos apostavam que entraria em uma excelente universidade. E todos estavam certos! Você não só  estudou em uma excelente faculdade como era sempre destaque na turma. Orador da formatura! 
Você sempre “flutuou” pela vida, de sucesso em sucesso. Mesmo que estivesse acostumado a ralar bastante para obtê-lo, existia a certeza de que ele – mais cedo ou mais tarde – viria.  E ele sempre chegou cedo, não é?
Já formado (a), a realidade começou a mudar. Arrumar um emprego legal é algo mais duro do você poderia imaginar. O salário do primeiro emprego era muitíssimo distante do que você – e todos a sua volta – esperavam. As oportunidades, mais minguadas do que nos seus piores pesadelos.
 Eis que você vislumbra a solução, o pote de ouro no fim do arco-íris.  Você, a pessoa boa de prova, o arraso do vestibular, o número 1 da faculdade, vai se dar bem… e rápido. Estudar nunca foi problema. Você então se matricula no cursinho, compra um monte de material e se joga no maravilhoso mundo dos concursos!
Os livros são grandes. O tempo é curto. As leis são infinitas. A jurisprudência é uma salada e – para piorar – alguns autores teimam em discordar. As bancas são geniosas. O Cespe acha uma coisa. A Esaf outra. A FCC uma terceira.  Enquanto você tenta lidar com isso, escuta de parentes e amigos que “logo vai passar em um grande concurso! Você sempre foi inteligente”.   A cobrança é do peso do mundo. Não sabem eles que não é mais bem assim? Você se questiona em looping!
Ser um sucesso em comparação aos 50, 100  alunos da escola e da faculdade é – sem dúvida – um feito. Mas estar entre os melhores quando o universo a ser considerado é de 10 mil, 100 mil pessoas… bom, amigo. Daí o papo é outro.
 Você então começa a questionar sua inteligência e até o seu passado. Como puderam te enganar todo esse tempo? Como assim você não é um prodígio? Hã? O que está acontecendo? Emburreci? Tem jeito?
 Se o cenário acima te descreve, parabéns: você foi acometido da síndrome do aluno nota 10! Há muitos como você. Dou aulas e coaching para eles todos os dias. Eu os conheço. Pior, eu era um deles!
Uma vez diagnosticado o problema, vamos analisar a vantagem e as desvantagens da sua “condição”:
Vantagem: você tem uma boa base – Se você sempre foi um bom aluno, não tenha dúvidas que isso lhe ajudará a passar mais rápido. Seu esforço não foi em vão – embora possa parecer nos momentos de maior desespero. Desvantagem 1: você é muito cobrado – Todo mundo tem certeza absoluta de que você passará para juiz ou auditor fiscal em um mês de estudo pois você sempre foi um gênio. Até você, bem lá no fundo, sente uma pontada de decepção conforme o tempo passa. A sua cobrança e a dos outros é pior do que estudar em si, não é mesmo?  Fora que o povo adora falar: “Já passou? Como não? Mas você sempre foi tão inteligente!” Como se você não fosse mais! Além – claro – das histórias mirabolantes de sucesso do filho da vizinha da prima de alguém. Ninguém merece! Desvantagem 2: você não sabe perder – Uma reprovação sacode sua autoestima de uma maneira que te faz duvidar do que é capaz. É preciso entender que você não reprovou pois é incapaz. Você não emburreceu. Só não passou porque, naquele dia, naquela hora, naquela prova, tinha gente mais preparada do que você. Isso não quer dizer nada sobre outras provas. Garanto: aprender a perder dói um bocado, mas você vai sobreviver! Meu conselho: desapegue-se da vaidade – Você é o seu maior julgador. Seu ego dói sem o sucesso que antes o alimentava. Isso é normal. Mas agora as coisas mudaram. Agora, a batalha é entre os grandes. Na faculdade, muitos queriam apenas a presença, o canudo. Agora todo mundo quer o 10. O seu 10! E você vai ter que brigar por ele como nunca antes. Há um exército disposto a estudar de verdade para garantir uma vaguinha no serviço público.
Para diminuir a pressão e aumentar substancialmente suas chances de sucesso, pense que o 10 agora não é a nota. Nem o primeiro lugar tira 10. A nota 10 agora é o seu empenho, a sua persistência, a coragem. É não se importar com as perguntas pentelhas dos vizinhos e parentes. É você batalhar por você mesmo! Lute por esse novo 10.Você foi promovido! Você é quem se dá a nota agora. Você já é adulto. Você conquistou esse poder. Use-o!
Seu 10 é o seu dia a dia de estudo, o cumprimento do seu cronograma. É dizer não à balada para acordar cedo para estudar. É trabalhar o dia todo, chegar em casa cansado (a) e cumprir sua meta de estudo.
Batalhe pelo DIA NOTA 10, mas entenda que há momentos em que um 8 já uma é super vitória. Ou um 7, ou um 6… Deixe a vaidade do garoto (a) prodígio de lado! Isso era só uma fantasia. Agora você é capaz de algo muito, muito melhor: ser uma pessoa estudiosa, disciplinada, que construiu o próprio sucesso na base do suor e da coragem. E o melhor de tudo: cheio de humildade.
Gabriela Knoblauch é auditora de controle externo do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo e professora do Estratégia Concursos
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