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Escola até no nome

Conheça a história de Eliete Scola Tavares Lucio, professora que há 27 anos se dedica ao ensino público. Como concursada, a docente assumiu a função social de fazer a diferença por onde passa.

Redação
Publicado em 22/09/2011, às 14h52

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Eliete Scola Tavares Lucio já foi professora de educação infantil, lecionou para alunos do fundamental, assumiu cargos na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e atualmente coordena a E.M.E.I. (Escola Municipal de Educação Infantil) Alberto de Oliveira, no bairro do Cambuci, na capital paulista.
Em 35 anos de atividade, iniciados com o curso de magistério aos 16, viu o ensino e a condição do professor se transformarem radicalmente.
“Está tudo seguindo o fluxo contrário. Na escola particular é cada vez mais frequente o aluno dizer ao professor que paga e, por isso, pode fazer o que quiser. O professor perdeu a moral”.
A visão romanceada da infância, em um mundo fantástico em que bonecas eram alunas e o quarto desta filha única era a sala de aula, um espelho da profissão da mãe e da avó, ganhou concretude. 
Assim como se intensificou o compromisso assumido aos dez anos, quando a educadora cabulava as aulas de admissão para ajudar a freira e antiga professora a cuidar das crianças da pré-escola, sem que a mestra soubesse que a vocação substituía outros afazeres. 
Mas foi na idade adulta que a vocação ganhou ares de função social.
“Serviço público não é cabide de emprego, você tem uma função social muito grande. Esse é o olhar que quem decide prestar um concurso público tem de ter. Eu tenho prazer de fazer o que faço e de perceber como posso contribuir com a orientação às famílias”.
Eliete assumiu a missão de ser um elemento de ação produtiva em meio ao caos ou nos campos mais tranquilos em 10 de maio de 1984, quando passou em um concurso da Prefeitura de São Paulo. “Trabalhava de manhã em uma escola municipal, e à tarde no Cristo Rei. Depois de um ano e meio já tinha me convencido de que meu lugar era na escola pública, então larguei a particular”.
O ímpeto de contribuir com o mundo foi herança da mãe, e é repassada para o filho de 24 anos e para a filha de 21. “Ela me ensinou e me moldava dia a dia dizendo: - antes de se deitar, pergunte para você mesma onde fez a diferença”.
Por isso, quando surgiu o convite para ser auxiliar de direção em uma escola de educação infantil de Interlagos e, posteriormente, para ser coordenadora, por nomeação, a docente não pensou duas vezes. Buscou a liderança nata e se embrenhou no desconhecido, vislumbrando formas de fazer mais pela educação, aos moldes de Paulo Freire, educador que pensava o ensino pelo viés libertário e transformador.
“Sempre fui líder, desde menina. Fui representante de classe, participei da comissão de formatura. E estar como coordenadora, há 12 anos (só na E.M.E.I. Alberto de Oliveira), me deu a visão do todo, das relações entre o coletivo e com os pais, além do jogo de cintura. Tudo foi gradual e veio com naturalidade”.
O cotidiano foi acompanhado pela preparação, pois Eliete e comodismo são, definitivamente, antagônicos. Em 1988, a profissional esteve na primeira turma do curso para formar coordenadoras, e em janeiro do ano seguinte passou em nono lugar na seleção para o cargo. “O gosto pelo gosto não faz o bom profissional, é preciso se dedicar, estudar muito. O aluno de hoje não é o de antes, por isso, todo dia a gente aprende e se constrói”.
Mas os rumos que o ensino vem tomando no Brasil preocupam Eliete. “A educação não consegue dar conta das transformações sociais. Tem de se investir, mas está sendo feito de forma equivocada. É preciso que cada parte entenda o que cabe à escola e o que é função da família, porque a escola não muda a pessoa se a sociedade não estiver imbuída. Toda a concepção política da educação precisa ser mudada. O ensino fundamental de nove anos, fazendo com que o aluno entre aos seis anos, é um desrespeito à infância”.
Mesmo assim, a coordenadora vem tentando fazer a parte dela: orienta os pais sobre os modelos que passam aos filhos; explica a importância de ir às reuniões, considerando que as duas horas e meia que ouvirão sobre os filhos não são nem 1% das 1.200 horas em que as professoras passam com suas crianças, e transmite um pouco da experiência a quem chega na E.M.E.I. Alberto de Oliveira. A vocação está no próprio nome. “Eliete, na etimologia da palavra, quer dizer ‘pequeno sol’. Se eu conseguir iluminar uma criança por ano, pelo menos, já fico satisfeita”.
A função social adotada há 27 anos no serviço público não a deixa, sequer, pensar em parar, embora falte apenas dois anos e meio para a aposentadoria. “O que fazer depois? Tenho me feito essa pergunta nos últimos anos. As professoras aqui (da EMEI) têm a certeza de que parada não vou ficar. Talvez dê aulas em algum curso de formação ou atue como voluntária em alguma instituição, porque a escola não é a minha vida, mas faz parte do meu projeto de vida, pautado pela ética, compromisso e competência”.
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