Rede social literária se transoforma em editora de livros a preços populares
Com o passar do tempo e a expansão do acesso à internet, para grande parte da população brasileira, começa-se a perceber uma mudança no País. É a necessidade de interação e manifestação do pensamento, que se torna cada vez mais presente na sociedade e também serve para dar eco ao conhecimento que antes ficava restrito a uma parcela menor da população.
No meio de toda essa troca surgem as tribos, aqueles pequenos grupos de pessoas que identificam a internet como sua principal ferramenta para o intercâmbio de conhecimentos. E foi esse conceito que deu origem ao tema desta edição do Vida em Parágrafos: uma editora, criada há cerca de dois anos, que tem como objetivo disseminar e vender obras de autores por um preço mais acessível.
“A ideia inicial era fazer a troca de poesias, de recados, para que os autores pudessem compartilhar suas obras e conhecer o que é produzido pelo Brasil”, lembra o autor e criador do Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda., Márcio Marcelo do Nascimento Sena. “Com o tempo, fomos buscando ajudar os autores que, de forma geral, têm muitos problemas com as editoras tradicionais”.
Aos 41 anos, Sena se define como um autor nato e lembra pouco das experiências profissionais que teve antes de investir na literatura. “Fui profissional liberal, trabalhei com serviços braçais. A poesia era um hobby, que se tornou uma atividade profissional”, explica o escritor que iniciou seu trabalho na área há aproximadamente doze anos.
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A história do Beco começou em meados do ano de 2007, quando Sena criou uma comunidade em uma rede social aberta, já com a finalidade de conhecer novos autores. Ali surgiu a idéia de expandir o trabalho. Foi quando, em 2008, passou a trabalhar com a plataforma Ning, que permite a criação de uma rede social própria voltada à troca de informações. Não demorou muito e o conhecimento e experiência adquiridos possibilitaram à migração do Beco para um site, também uma rede social literária, que hoje funciona como um blog. No espaço, os autores cadastrados podem postar tudo o que produzem; trocar mensagens; e compartilhar informações com outras redes sociais.
“Todo autor tem dificuldade de trabalhar com as editoras, com ferramentas de publicação”, esclarece Sena quando perguntado sobre a ideia de fundar uma editora. “Hoje o mercado, incluindo as editoras, vive sob a tirania das distribuidoras, que chegam a cobrar 50% até 75% sobre o valor do custo das obras. O que fizemos, então, foi eliminar este intermediário”.
Para viabilizar o projeto, Sena se utilizou de outra forma de disseminação do conteúdo. A editora não trabalha com livrarias, a distribuição é feita basicamente via internet ou em feiras e grandes eventos onde ela está presente. Com isso, as obras alcançam locais nunca imaginados, em países como Estados Unidos, Bélgica, Japão e, especialmente, Portugal. “Não tenho nem como imaginar o nosso alcance. Estamos em todo lugar”, diz Sena.
O Grupo arca com os custos de todas as fases do processo de produção, contando com o apoio de colaboradores e de grandes instituições. Como não possui sede física, utiliza parte do orçamento com telefone, hospedagem do site, entre outras, necessárias para o funcionamento da editora. “Produzir um livro é barato. Temos um contrato de impressão e somos os responsáveis por receber o material do autor e fazer confecção do livro, além de levá-los aos pontos de venda. Tudo isso por meios próprios”, reforça o fundador do Grupo.
Por conta dessa economia, o valor do exemplar sai por 1/3, ou até menos, do valor do preço que seria cobrado em grandes editoras. “Muitas vezes, o autor não tem como bancar um custo de R$ 2 mil iniciais para lançar uma obra. Já em alguns casos, no Beco, o primeiro investimento pode ser até de R$ 75, possibilitando que ele comece vendendo para seus amigos e conhecidos”. O escritor lembra que o boca a boca é a principal ferramenta neste modelo. “Por isso, a importância da internet. Sem ela, talvez o Beco nem existisse”.
Hoje são mais de 4.200 autores integrantes da rede social literária, mas de acordo com Sena, o número é maior devido à presença do projeto em outros meios sociais. São 34 títulos lançados, entre livros e e-books.
Como todo bom empreendedor, Sena acredita que o meio eletrônico traz boas perspectivas de futuro. “Acredito nos meios digitais de publicação. O cenário deverá melhorar após a popularização do e-pub (formato de arquivo digital para e-books)”, diz. Além do Beco, o Grupo já conta com outros três sites – mais blogs – e trabalha na difusão do trabalho por meio de projetos culturais e o sarau matinal, que é “uma forma de fazer as obras saírem da biblioteca e ir para o teatro”.
George Corrêa
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