A maior roqueira do Brasil lança caixa com três DVDs e conta, entre respostas ácidas e diretas, porque está há
A maior roqueira do Brasil lança caixa com três DVDs e conta, entre respostas ácidas e diretas, porque está há 40 anos fazendo "roquenrou"
por Rubinho Vitti
Como contar a história da sua vida através de canções que fizeram história? Simples? Pouco provável, mas Rita Lee conseguiu e viveu sua música tão intensamente quanto a própria vida. Rita completa 40 anos de estrada e 60 de vida neste ano. O marco zero de sua carreira, como ela mesmo conta, foi em 1967 quando subiu ao palco com Os Mutantes e Gilberto Gil para virar ao avesso o terceiro Festival da TV Record.
Para comemorar todos estes anos de sucesso, Rita lança em maio uma caixa com três DVDs que traz imagens de várias fases de sua carreira, revivendo as décadas posteriores àquele Domingo no parque de 67. Trata-se de Biografitti. Os DVDs que compõem a caixa têm temas distintos: Ovelha negra, que mostra a infância e o retrato familiar da pequena ruiva; Baila comigo, recheado de cenas inéditas "on the road"; e finalizando com Cor de rosa choque, o perfil "femealista" de Rita e suas músicas contestadoras a favor das mulheres no poder.
Nesta entrevista, a maior roqueira do país conta os detalhes desta nova homenagem e ainda mostra que para ficar quatro décadas no altar da Música Brasileira, tem que ter humor, talento e uma certa dose de rebeldia.
São três DVDs que retratam sua vida através de suas próprias músicas. Dá pra contar sua história em forma de canções compostas durante toda sua carreira? Qual delas poderia mostrar a personalidade de Rita atual?
RL - Eu fiz músicas em várias fases da minha vida, de alguma maneira o que eu estava vivendo ou pensando naquele momento ficou registrado. A "Rita" atual ainda não sabe que personalidade tem, aguardemos pois.
Esta caixa de DVDs se assemelha às feitas pelo compositor Chico Buarque. No entanto foram quatro caixas gravadas por Chico, contando 12 DVDs. Vocês pretendem fazer o mesmo? Material é o que não falta, não é?
RL - Pois é, a novela deve continuar e os próximos capítulos já estão sendo gravados. Muita coisa ficou de fora por não existir quase nenhum material visual inédito como, por exemplo, da época de Mutantes e Tutti Frutti. Às vezes aparece uma pérola aqui e ali, mas como isso não aconteceu muito a gente apelou para a minha já tão combalida memória nas entrevistas que gravamos.
Os DVDs representam os quarenta anos de estrada em 2007. Pelas contas voltamos à 21/10/1967, data em que você se apresentou, juntamente com Os Mutantes acompanhando Gilberto Gil na canção Domingo no parque, no terceiro Festival da Record. Porque essa foi a data escolhida por você para representar o primeiro ano em que a música se tornou sua vida?
RL - Apesar de ter começado a mexer com música bem antes de 67 considero a apresentação de "Domingo no Parque" como o marco zero.
O lançamento da caixa de DVDs marca sua entrada na gravadora Biscoito Fino que tem no seu cast artistas de peso como Chico Buarque, Arnaldo Antunes e Maria Bethânia, misturados com artistas novos. Como foi a escolha pela Biscoito Fino? Ela se diferencia das grandes gravadoras que assolam o Brasil?
RL - A Biscoito Fino é uma gravadora que respeita o artista e está aberta para todo tipo de projeto musical. A arrogância e a falta de visão com que as "majors" trabalham estão em plena decadência, e eu não tenho saco nem idade pra ficar pagando pau para essa gente que não é bronzeada e nem quer mostrar o meu valor.
Entre os DVDs existe um deles que aborda o universo feminino dentro de sua carreira. Cor de rosa choque fala sobre suas canções como Pagu, Todas as mulheres do mundo e Luz del Fuego. Neste contexto você se considera uma feminista?
RL - As feministas dos anos 60 tiveram toda a razão ao queimarem publicamente seus sutiãs, hoje o discurso delas é um porre, muita reclamação para pouca ação.
Este mesmo DVD traz uma faixa inédita com a gravação da novíssima música Tão. Do que fala esta música?
RL - Para estes três primeiros DVDs gravamos três demos inéditas, uma delas é Tão que fala sobre aquele tipo de mulherzinha que de tão boazinha demais é chata pra caralho.
Outra canção inédita mostrada no DVD Baila comigo é Dinheiro. Essas duas músicas podem ser um indício de que um disco novo virá por aí?
RL- Estamos com tudo na manga para começar a gravar um disco de inéditas no segundo semestre.
E falando em dinheiro, algumas vezes você diz que a "arte está morta" e que o importante é faturar. Podemos considerar essa crítica sarcástica a uma metáfora ácida contra o capitalismo ou Rita Lee gosta sim de dim dim?
RL - Trata-se de uma frase tropicalista à la chacrinha cujo significado fica a critério de quem diz e de quem escuta.
No último DVD da série, Ovelha negra, você conta sua história e mostra que sempre foi uma garota que não aceitava as regras impostas à mulher: "Lugar de mulher é onde ela quiser!" Você conseguiu esta façanha de poder fazer o que quiser? E as mulheres de hoje, fazem o que querem?
RL - Ninguém que esteja vivo faz exatamente o que quer, meu bem. Eu quis dizer que o velho ditado "lugar de mulher é na cozinha" já ficou validado.
Ao mesmo tempo que os 40 anos de carreira são comemorados, no final do ano você completa 60 anos. Como anda a feiticeira dentro de você?
RL - Minha feiticeira está louca para deixar o cabelo grisalho e assustar os fãs, hehehe...
* Matéria extraída, na íntegra, do site Ziriguidum (www.ziriguidum.com).
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