O professor e consultor Sebastião de Almeida Júnior identifica os profissionais "suicidas".
Uma música do saudoso Vinícius de Morais e do sempre sorridente Toquinho, denominada "Um homem chamado Alfredo" começa dizendo "O meu vizinho do lado se matou de solidão" e, em seguida, apresenta a justificativa patética registrada no bilhete de despedida "dizendo que se matava de cansado de viver".
Esta é uma das raras narrativas de um suicídio. Na maioria das vezes não há divulgação, provavelmente em função do temor de esta prática se alastrar, ou em função de se achar preferível que um mate o outro ao invés de matar a si próprio.
Se o debate em torno das causas do suicídio fosse mais intenso, haveria melhores condições de prevenção? Se outros jornalistas abordassem o tema de maneira tão direta como o faz Paula Fontenelle, em livro de sua autoria: "Suicídio, o futuro interrompido" (Geração Editorial - 2008), menor número de pessoas deixaria de acreditar que suas vidas não têm sentido?
A estas questões, não é possível dar respostas categóricas. O sentido da vida é uma chama acalentada pelo indivíduo a partir da combinação de sua história com o seu projeto de vida. Sentido e projeto não brotam espontaneamente. São frutos de trabalho diário e permanente.
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Por outro lado, profissionais se entregam às suas rotinas trançando-as na forma de corda ao redor de seus próprios pescoços, de maneira a constituir uma forca a restringir tanto seu fôlego a ponto de deixá-los como planta abandonada em seu vaso cujo viço se esvai, as folhas caem e os galhos pendem inertes.
As rotinas empresariais não constituem um projeto de vida apesar de o seu valor para o negócio, em função de sua previsibilidade, de promoverem alguma estabilidade nas cadeias de suprimento. Mas o profissional que nada considera além delas, comete suicídio lentamente, sem chamar a atenção dos outros nem provocar espanto, da mesma forma que os consumidores das drogas legalizadas e ilegalizadas o fazem diariamente.
Um dos sintomas da vítima em estado terminal é a incapacidade de sustentar o diálogo. Para ela o outro não existe, pois se existisse se constituiria em risco de ouvir o que não lhe interessa, ou de interromper a sua trajetória feita de círculos: todos os dias dão-lhe a impressão de serem cópias de vários dias passados.
Além disto, diante de conflitos e problemas, utiliza-se dos esquemas "politicamente corretos" e dos cosméticos que transformam as superfícies dos efeitos sem jamais atingir nem alterar as rotas desde os processos até suas causas, apesar de usar continuamente termos como "pro-ação", "criatividade" ou "excelência".
Ao construir este casulo na forma de reverência à ostentação, elege o "ganhar dinheiro" como a única meta do trabalho, deixando do lado de fora (ou para um futuro muito distante) a amizade, a consideração e o sentimento compartilhado, uma vez que estas coisas não podem ser mensuradas, nem a relação custo X benefício do investimento nas suas áreas pode ser calculada.
Ao acreditar que o prolongamento da existência e a provocação da inveja alheia se constituem em bases para o sentido, o profissional se entretém e se anula. E, a partir deste ponto, os sinais vitais vão se esvaindo. Pode até participar de um debate, mas se mantém no lugar comum; sua participação não acrescenta nada, sua presença não é notada porque não faz diferença. Se participa de um curso ou palestra, é de alma ausente, pois não acredita que alguém possa lhe trazer qualquer novidade, portanto considera-se incapaz de aprender, nutrido pela ilusão de autosuficiência.
Para este, é provável que o amor esteja restrito ao erótico ou à reprodução. Da mesma forma, talvez a profissão esteja limitada ao dinheiro e ao status. Quem sabe até a direção e o significado das suas ações estejam focados naquela imagem que acredita construir diante dos outros.
Mas este suicídio não é solitário. Aliás, é contagiante. Muitos que estão ao redor dos suicidas são afetados, sejam estes colegas, subordinados, superiores, clientes ou fornecedores, pois suas energias são sugadas. Isto num país como o Brasil é um verdadeiro desastre, tornando o nosso atraso tecnológico cada vez maior, condenando a sua economia a ficar a reboque de poucas iniciativas, muitas delas restritas a serviços elementares, serviços que não estimulam ninguém a promover aperfeiçoamento nem demandam a educação.
Estes suicidas não se confundem com "kamikazes" por não terem qualquer causa. Antes se constituem em obstáculos que precisam ser contornados ou superados pelos empreendedores. É provável que, um dia destes, o perigo que representam para a sociedade seja dimensionado e se invista na cura e prevenção desta doença. Mas, até lá, é essencial evitar que estes alcancem posições de liderança, pois só podem conduzir ao desastre.
* Sebastião de Almeida Júnior, consultor na área de Desenvolvimento Gerencial & Organizacional desde 1987 e Professor convidado do Instituto de Economia da UNICAMP, autor de seis livros sobre temas empresariais.
e-mail: seba@almeidaecappeloza.com.br
www.almeidaecappeloza.com.br
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